Maio Amarelo: aumentar o número de ciclistas é a chave para diminuir a mortalidade

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Publicado em 14 de maio de 2021 às 05:01

- Atualizado há um ano

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Há um pensamento generalizado de que “quanto mais ciclistas nas ruas, maior será o número de acidentes fatais e graves dos adeptos”. Entretanto, a teoria Safety in Numbers (Segurança em Números) contraria este senso comum. Basicamente, o número de ciclistas numa cidade cresce devido aos investimentos realizados em infraestrutura específica para bicicletas, como ciclofaixas, bicicletários, semáforos e outras políticas. Entretanto, estes investimentos são apenas uma parte – muito importante – da equação.

Fenômeno identificado em 2003, em um artigo acadêmico do pesquisador de Saúde pública Peter Jacobsen, no EUA, foi constatado que o número de acidentes está relacionado ao número de ciclistas. em uma comunidade. Conforme os números de usuários de bikes oscilavam, a taxa de acidentes alternava também. Quanto maior o número de ciclistas, menor era o número de acidentes. O contrário também acontecia. Quando o pesquisador analisou os dados sobre a circulação de bicicletas coletados durante 49 anos no Reino Unido, esses números mostram que a prática ficou mais segura durante a crise do petróleo dos anos 70, quando o número de ciclistas aumentou.

Quando há mais ciclistas circulando, de acordo com essa teoria, os motoristas os percebem melhor, e se tornam amis acostumados à convivência na via. Eles se tornam mais atentos e diminuem a velocidade, ultrapassam com mais cautela, verificam seus pontos cegos e tentam se prevenir do inesperado. Além disso, quanto mais o número de usuários de bicicleta cresce, maior é a probabilidade do motorista conhecer alguém que anda de bicicleta ou dele ser um ciclista.

Vejamos em Salvador: a Associação Nacional de Empresas de Transporte Urbanos (NTU) aponta que Salvador, uma das principais capitais do país, sofreu uma redução de 76% da sua demanda diária no uso do transporte público durante os primeiros meses de pandemia, em 2020.

Segundo levantamento do programa Salvador Vai de Bike, na comparação outubro de 2020 e de 2019, houve um aumento de 72% nas viagens realizadas com bicicletas pela cidade. Enquanto isso, o número da venda de bicicletas aumentou em 50% em todo o Brasil na comparação 2020/2019, segundo dados da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas. Por ser um dos meios de transporte mais seguros em meio à uma pandemia, segundo a OMS, também por possuir preço mais acessível e ser uma atividade física fácil de ser praticada em espaços abertos, uma vez que academias e parques fecharam, os cidadãos da capital mineira resolveram colocar o capacete e apostar nas pedaladas.

No ano de 2010, a capital baiana bateu recorde no número de mortes por acidentes de trânsito, chegando à marca de 266 vidas perdidas. 10 anos depois, a cidade chega ao patamar de menor índice de mortos no trânsito de todos país, somando 126 mortes em 2020, segundo dados municipais. Desde 2010, a prefeitura soteropolitana vem investindo em campanhas de conscientização no trânsito e infraestrutura. Nos últimos oito anos, a cidade aumentou em 492% a quantidade de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, se tornando a capital com a quinta maior malha cicloviária do país.

Salvador está no caminho correto, e o incentivo ao uso das bicicletas como um meio de transporte deve continuar para além da pandemia. É necessário cada vez mais investir em rotas seguras para os ciclistas e na conscientização dos motoristas com quem eles dividem o espaço. Desta maneira, a cidade caminhará por uma faixa de mão dupla: o número de ciclistas subindo continuamente e os acidentes descendo cada vez.

 Luisa Feyo Guimarães Peixoto é Especialista em Mobilidade Políticas Públicas da Quicko, startup de tecnologia em Big Data para Mobilidade Urbana.

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