Mais da metade dos bairros de Salvador têm infectados pelo coronavírus

Médica infectologista chama a atenção para o controle do vírus nos bairros da periferia

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  • Vinicius Harfush

Publicado em 15 de abril de 2020 às 20:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor / Arquivo CORREIO

Mais da metade dos bairros de Salvador contam com pelo menos um caso confirmado do novo coronavírus. Segundo a publicação do secretário municipal de saúde, Léo Prates, feita na noite de terça-feira (14) nas redes sociais, 88 dos 163 bairros da capital já contabilizam infectados, o que representa 54%. 

Na tabela divulgada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Salvador já aparece com 507 casos, número superior ao da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), que apontava 425. Na noite desta quarta (15), a Sesab atualizou a contagem e agora já considera que a capital apresenta 444 infectados. A SMS ainda não atualizou os dados.

Em número de óbitos, Salvador também segue como o município com maior número de no estado. Segundo a Sesab, em levantamento até as 17h desta quarta-feira (15), a cidade tem 15 confirmações de mortes por Covid-19, o que corresponde 53,57% de todas as vítimas confirmadas na Bahia. A tabela divulgada por Léo Prates nesta terça (14) mantém a Pituba como o bairro mais afetado da capital, com 33 infectados, o que representa 6,5% do total da cidade. A Barra, com 12 (2,4%), Patamares, com 17 (3,4%) e Ondina, que tem 10 (2%), são alguns dos bairros nobres da cidade que apresentam um número considerável de infectados.

Os números mais elevados nessas localidades estão relacionados à importação dos casos e ao poder aquisitivo dos moradores, segundo explica a médica infectologista da SMS, Adialma Nizarala: “Os casos começaram com as pessoas que vieram de fora, que viajaram para Europa ou China, que são destinos caros. Quando elas chegaram contaminadas aqui, passaram para as pessoas próximas, para um amigo que mora no mesmo bairro ou que mantém o mesmo padrão social”.

A partir daí, o vírus passa a circular dentro do mesmo bairro, o que faz esses locais terem um rápido crescimento no número de contaminados. 

Adialma lembra que, à medida em que os infectados circularam por locais públicos ou de grande circulação de pessoas, como shoppings, padarias e academias, o vírus passa a ser transmitido para vários grupos de pessoas, atingindo diversas regiões da cidade, incluindo bairros mais populares. Essa contaminação é a comunitária, que é o que já acontece em Salvador e em todo o país.

Apesar de ainda serem considerados números baixos, os casos nos bairros mais populares da capital não podem ser menosprezados e nem se pode “baixar a guarda”, como diz a médica. “A quarentena é quebrada sistematicamente na periferia. São hábitos diferentes entre essas pessoas, que muitas vezes saem de casa e entram em contato com outras sem nenhum objetivo, além das ruas serem mais estreitas, casas mais apertadas. Tudo é passado mais rapidamente”, afirmou Adielma.

Ela ainda garante que, se o isolamento não for tratado com urgência, os bairros periféricos tendem a ter mais casos que as áreas nobres da cidade.

O bairro de Brotas, que tem áreas luxuosas como o Horto Florestal e outras mais populares, soma até agora 27 casos (5,3%) e é o segundo mais contaminado pelo coronavírus. Isso refletiu em um aumento também nas proximidades, como no Engenho Velho de Brotas, com 16, Acupe, que tem seis e a Vila Laura, que permanece em quatro. A médica infectologista lembra que, principalmente para os moradores dessas áreas mais atingidas, é preciso planejar as saídas de casa.

 “Não estamos em tempos de ter um pensamento de uma rotina normal. Além de programar o que vou fazer, tenho que fazer tudo de uma única vez, saindo apenas em situações emergência, como para comprar comida ou caso alguém precise ao hospital. E se sair, manter a distância segura e, claro, seguir todas as orientações de prevenção e higiene”, concluiu.  Outros casos No Subúrbio, dos 16 bairros que compõem a região, segundo o IBGE, seis deles contam com pessoas infectadas: Fazenda Coutos (2), Itacaranha (3), Lobato (2), Paripe (1), Periperi (2) e Plataforma (2). Mas outras localidades próximas, muitas vezes também consideradas como Subúrbio de Salvador, estão com casos de covid- 19, como Campinas de Pirajá (2), Itacaranha (3) e Marechal Rondon (5). 

Outro bairro que chama atenção é o Imbuí, com 19. A Graça também figura com 14, além da Federação, que já tem 13 infectados, e Rio Vermelho, com 12.

Já a lista dos bairros com menos casos, apenas um confirmado, contam com 25 localidades: Águas Claras, Alto do Coqueirinho, Barris, Caixa D´Água, Fazenda Grande III, IAPI, Jardim Cajazeiras, Mata Escura, Massaranduba, Capelinha, Chame-Chame, Cidade Nova, Cosme de Farias, Engenho Velho da Federação, Engomadeira, Paripe, Pau Miúdo, Resgate, São Cristóvão, Sete de Abril, Vale dos Lagos, Valéria, Vila Canária, Vila Ruy Barbosa e Vitória.

Os números da SMS não levam em conta os pacientes que estão apenas com suspeita da doença ou que portam o vírus mas são assintomáticos. Ou seja, o fato de um bairro não aparecer entre os listados, não o isenta de ter algum habitante infectado.

Casos na Bahia Segundo o boletim mais recente da Sesab, divulgado às 19h desta quarta (15), a Bahia já chega a 884 casos confirmados do novo coronavírus. Destes pacientes, 218 são considerados curados e 99 estão internados, sendo 38 em leitos de UTI. Ao todo, há confirmações da doença em 83 municípios do estado, que também conta com 5.267 casos descartados da doença.

Os números somam registros de janeiro até as 19h desta quarta. Estes dados representam notificações oficiais compiladas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Bahia (Cievs-BA), em conjunto com os Cievs municipais.

Mais cedo, a secretaria informou mais duas kortes. Uma delas de um homem de 52 anos que estava internado em um hospital particular em Salvador, e uma idosa de 73, também residente na capital. 

As 28 mortes confirmadas por covid-19 na Bahia ocorreram em 13 municípios: Salvador (15), Lauro de Freitas (2), Gongogi (1), Itapetinga (1), Utinga (1), Adustina (1), Araci (1), Itagibá (1), Uruçuca (1), Ilhéus (1), Vitória da Conquista (1) e Belmonte (1) e Itapé (1).

Mortes por coronavírus na Bahia 29/3 - Idoso de 74 anos (Hospital da Bahia, em Salvador) 30/3 - Engenheiro civil de 64 anos (Hospital Aliança, em Salvador)  1/4 - Mulher, mãe de recém-nascido, de 28 anos (UPA, em Itapetinga) 2/4- Homem de 88 anos (Hospital da Bahia, em Salvador) 3/4 - Idoso de 79 anos (Cardiopulmonar, em Salvador) 3/4 - Mulher de 41 anos (Couto Maia, em Salvador) 3/4- Idoso de 80 anos (Utinga) 3/4 - Idosa de 62 anos (Instituto Couto Maia, Salvador) 4/4 - Ex-gerente da Caixa Econômica, 55 anos (Hospital Aeroporto, em Lauro de Freitas) 5/4 - Idoso de 87 anos (Salvador) 6/4 - Taxista de 64 anos (Instituto Couto Maia, Salvador) 6/4 - Idoso de 76 anos (Hospital Municipal em Araci) 7/4 - Homem de 26 anos (Instituto Couto Maia, Salvador) 7/4 - Homem de 53 anos (Instituto Couto Maia, Salvador) 7/4 - Mulher de 51 anos (Hospital particular, Salvador) 7/4 - Idoso de 96 anos (Hospital particular, Salvador) 7/4 - Idosa de 63 anos (Uruçuca) 8/4 - Idosa de 72 anos (Ipiaú) 9/4 - Idoso de 65 anos (Ilhéus) 10/4 - Idoso, 71 anos (Gongogi) 10/4 - Idosa de 84 anos (Salvador) 10/4 - Idosa de 62 anos (Itapé) 11/4 - Homem de 35 anos, residente no Rio de Janeiro (Lauro de Freitas) 12/4 - Idosa de 95 anos (Salvador) 13/4 - Homem de 69 anos (Vitória da Conquista) 14/4 - Idosa de 82 anos (Belmonte) 14/4 - Homem de 52 anos (Hospital particular, Salvador) 14/4 - Idosa de 73 anos, residente em Salvador

* Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco