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Operação esperava vacinar 41 mil pessoas em Salvador para zerar estoque de vacinas
Marcela Vilar
Publicado em 19 de julho de 2021 às 21:01
- Atualizado há um ano
A fim de zerar os estoques da vacina contra a covid-19, a prefeitura de Salvador realizou, nesta segunda-feira (19), um mutirão para completar o esquema vacinal dos soteropolitanos. Ao todo, 23.090 pessoas foram vacinadas, de acordo com o vacinômetro da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS). O mutirão era específico para quem tinha a segunda dose da Oxford/Astrazeneca marcada até o dia 26 de julho. No entando, na segunda, também foram vacinadas as pessoas que tinham a segunda dose da CoronaVac marcadas até o dia 19 de julho. A SMS não divulgou os balanços específicos de cada vacina. A imunização ficou bem abaixo da expectativa inicial da prefeitura de vacinar 41 mil pessoas. A operação começou às 8h e foi até às 16h.
Para o secretário municipal da saúde de Salvador, Leo Prates, se há vacinas em estoque, elas devem ser aplicadas o quanto antes, para garantir que mais pessoas estejam imunizadas. Prates já tinha defendido a ideia de diminuir o prazo de aplicação da Oxford, uma vez que somente após as duas doses há proteção contra as variantes. “Já foi confirmado, no Rio de Janeiro, o 23º caso da variante delta, e ela quebra a maioria da eficácia das vacinas com uma dose, por isso a importância das duas doses, como confirmam as pesquisas”, explica o secretário.
Tanto o Ministério da Saúde (MS), como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) são a favor da manutenção do prazo de aplicação de 12 semanas entre a primeira e segunda dose. Já a SMS quer que o prazo possa ser de, no mínimo, 9 semanas.
"Nossa defesa é que o Ministério possa separar o prazo de distribuição do prazo de aplicação. Em distribuição seja mantido o aprazamento de 12 semanas, mas que as vacinas possam ser aplicadas com intervalo mínimo de 9 semanas, porque a gente recebe as doses e elas ficam paradas de 15 a 20 dias”, argumenta o secretário.
Ele relembra que a eficácia da Oxford/AstraZeneca, como consta na bula aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), varia menos de 8% se houver essa antecipação de três semanas. “A eficácia geral é de 72,3% e, com 12 semanas, ela tem uma eficácia de 80%. Achamos que vale a pena e fazemos esse apelo ao Ministério da Saúde e a CIB [Comissão Intergestora Bipartite] para separação dos critérios de distribuição e de aplicação”, esclarece.
Leo Prates ainda pontua que algumas cidades adiantaram a aplicação para oito semanas, o que não é defendido pela SMS. Ele também pondera que já não uniformização do intervalo entre as unidades federativas do país, como defendeu o secretário estadual da saúde da Bahia, Fábio Vilas Boas,.
“Queremos chamar a atenção do ministério da necessidade de ter essa flexibilização e de uma uniformização no país, porque, no nosso entender, há estados e municípios fazendo a antecipação de maneira equivocada, antecipando para 8 semanas de aprazamento entre primeira e segunda dose e a queda da eficácia cai de 72,3% pra 59,7%. Epidemiologicamente, esse custo é muito alto pra sociedade e, na prática, essa uniformidade da federação não existe mais", observa Prates.
Segundo o secretário, a CIB irá debater novamente o tema nesta semana. Na semana passada, a decisão foi pela não antecipação. A autonomia do município em antecipar a aplicação das segundas doses ontem é possível pois está dentro da décima segunda semana de intervalo.
A CoronaVac, que também foi aplicada nos postos, não deve ser adiantada, mantendo-se o intervalo de 28 dias. A aplicação de todas as outras vacinas, que não a de segunda dose da covid-19, tinha sido suspensa durante o mutirão. Ainda assim, de acordo com o vacinômetro, 396 doses foram aplicadas na segunda. Nesta terça-feira (20), a prefeitura promove o Mutirão das Idades para pessoas com 37 anos.
Esquema vacinal completo Quem aproveitou o mutirão da segunda dose, nesta segunda (19), foi a professora da rede municipal Elisabete Regina, de 58 anos. Ela veio de bicicleta, pelo drive-thru do Centro de Convenções, receber sua vacina. “Já ia pedalar e aproveitei para tomar logo a segunda dose. Agora a gente fica mais tranquila, porque tenho dois netos pequenos e ficava difícil de ver. Também estava doida para que chegasse logo a segunda dose, porque quero logo voltar para a sala de aula”, explica Elisabete.
A emoção em registrar o momento e garantir a selfie foi tão grande que ela quase esqueceu de conferir a seringa. Elisabete mora sozinha e “burla” os seguranças do supermercado - na 'broderagem' - para só entrar no horário de idosos, de 7h às 9h da manhã. “Só fico em casa, trabalhando feito uma condenada. Evito sair o máximo possível”, justifica. Ela também já tomou a vacina da gripe, logo quando foi possível para sua idade. O imunizante está disponível para todos os públicos e com baixa adesão.
Outro grupo que pegou carona no mutirão da segunda dose foram os amigos – todos professores da rede estadual – Francisco Soares, Joel Barros e Demóstenes Soares. Os três também vieram juntos na primeira dose. Para Demóstenes, a comemoração foi em dose dupla (literalmente), pois também era seu aniversário de 56 anos. “Já tomei uma no sábado, mas hoje não vou poder, vou ficar em casa. É um alívio tomar a segunda dose. Moro sozinho e só saio para pouquíssimos lugares”, conta.
Já Francisco, irmão de Demóstenes, não deixou de filmar o momento. Aos gritos de “Fora Bolsonaro”, ele comemorou que o dia da segunda dose chegou. No cartão da vacinação, estava marcado para amanhã. “Acho que tem que ser isso, vacina para todos, para todos os alunos e toda a população, e todo mundo se precavendo”, diz.
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro