MAM será aberto com mais atenção a acessibilidade

Sandra Rosa, pesquisador da Uneb, coordena projeto voltado para pessoas com deficiência

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  • Roberto Midlej

Publicado em 16 de agosto de 2021 às 08:26

- Atualizado há um ano

. Crédito: Robson Mendes/Agecom/divulgação

A lei brasileira que trata da acessibilidade de pessoas com deficiência a espaços públicos já tem 21 anos. Em 2015, o país também aprovou a Lei de Inclusão. No entanto, apesar da legislação adequada, o Brasil ainda está muito atrasado em relação a acessibilidade, principalmente quando nos comparamos a países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde já há alguns anos, em determinadas cidades, a pessoa cega pode, por exemplo, sintonizar uma rádio que faz a descrição dos outdoors no espaço urbano.

Primeiro, é importante entender que acessibilidade não se refere apenas a mobilidade física. Portanto, vai muito além de ter rampas para cadeira de rodas ou elevadores especiais. Hoje, é necessário atender à demanda de quatro grupos de deficiência: física, intelectual, visual e auditiva. Por isso, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), que será reaberto amanhã, está se preparando para receber o público com deficiência. Sandra Rosa coordena projeto de acessibilidade de MAM (divulgação) A responsável por esse projeto é Sandra Rosa, doutora em educação pela Ufba e professora da Uneb. Sandra tem se especializado na área e vem desenvolvendo pesquisas e trabalhos profissionais com audiodescrição e acessibilidade em equipamentos como cinema, teatro e museus. Ela é também coordenadora do GA&A - Grupo de Pesquisa e Extensão em Acessibilidade e Arte.

Acessibilidade atitudinal

Numa primeira etapa, o MAM vai implantar a acessibilidade atitudinal, o que significa perceber a pessoa deficiente sem preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminações. Para isso, é necessário treinar o pessoal da instituição. "A gente já fez formação propondo desde os seguranças e auxiliares de serviços gerais até o diretor do MAM, Pola Ribeiro, para que todos entendam: se chegar uma pessoa com deficiência, como receber? A acessibilidade atitudinal trata disso", diz Sandra.

Essas providências iniciais, como o treinamento de pessoal, praticamente não demandam investimento. Por isso, outros tipos de acessibilidade, que requerem verba, ficarão para uma próxima etapa do projeto, que prevê, por exemplo, instalação de equipamentos. 

No entanto, no caso de uma estrutura como o MAM, há um entrave, já que a arquitetura do local precisa ser preservada, já que se trata de um patrimônio histórico. A comunicação também será adequada em breve, com piso tátil, placas em braille e sinalização sonora. “É nossa obrigação preparar este espaço e suas exposições para um conceito e uma prática ampla da acessibilidade. Temos acessibilidade sensorial, cognitiva, informacional, e até econômico-social. Ou seja, qualquer pessoa, seja qual for a sua condição, deve ter acesso à cultura e a arte que temos no MAM, já que é um espaço público”, diz o diretor do MAM, Pola Ribeiro.No Brasil, Sandra aponta a Pinacoteca de São Paulo como uma das referências em museus com acessibilidade. Segundo a pesquisadora, ali uma boa parte das obras tem soluções táteis. Isso significa, por exemplo, que há reproduções de quadros ou esculturas em alto relevo para que cegos e deficientes visuais possam tocá-las. A tecnologia das impressoras 3D diminuiu os custos de reproduções, mas, hoje, na Bahia, ainda não é usada.

"Além do relevo, tem audiodescrição que traz informações, como os objetos ou roupas que aparecem no quadro. O Museu do Amanhã, no Rio, tem muita coisa tecnológica e todos os vídeos já saem com Libras [Língua Brasileira de Sinais]", observa Sandra. 

A pesquisadora ressalta que a acessibilidade precisa estar prevista nos projetos originais dos equipamentos de arte e cultura, como museus, teatros e cinemas. "O ideal seria, por exemplo, que o MAM tivesse pensado nisso quando foi projetado, mas naquela época não se pensava em acessibilidade. Então, muitas coisas hoje precisam ser projetadas a partir de agora por causa da lei", observa. 

Segundo Sandra, se a acessibilidade estiver incluída no projeto, o custo também pode ser reduzido. "Por exemplo, se penso num projeto de um filme, e coloco a acessibilidade desde o início, não chega a 1% do orçamento do filme, então não é caro. Mas se deixo para pensar nisso na semana de entregar para a Ancine, fica caro porque já não há mais verba", alerta.