Manchas de óleo chegam às praias de Ondina e do Farol da Barra

Agentes de limpeza retiram os resíduos grudados nas pedras e nas areais das praias 

  • Foto do(a) author(a) Eduardo Dias
  • Eduardo Dias

Publicado em 17 de outubro de 2019 às 09:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO
. por Foto: Marina Silva/CORREIO

Mais duas praias de Salvador foram atingidas pelas manchas de óleo de petróleo que se espalhou no litoral nordestino desde setembro e chegou à capital baiana na quinta-feira da semana passada (10). A praia da Ondina,na altura da estação de esgoto da Embasa, e a praia do Farol a Barra, amanheceram nesta quinta-feira (17) com pelotas de petróleo cru espalhadas pela areia e pedras.

Em Ondina, cerca de 25 agentes da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) fazem a retirada das manchas, que estão presas nas pedras e no quebra-mar. Já na Barra, funcionários da Limpurb,  voluntários e banhistas atuam para recolher os resíduos encontrados no local.

[[galeria]]

Nas águas calmas da Praia do Farol, era possível notar as pelotas de óleo boiando no vai e vem da maré. Curiosos paravam para fotografar. Morador da Barra, o empresário Gabriel Ollero, 38 anos, decidiu dedicar as horas iniciais do dia, antes de ir trabalhar, para se juntar aos voluntários que ajudavam os agentes de limpeza na retirada dos resíduos na praia do Farol. Ele contou que está ajudando os amigos desde o início do surgimento das primeira manchas.

"É um desastre. Num momento crítico como esse temos que unir forças. Não é só porque a Praia da Barra ou as demais são cartões postais de Salvador, mas é uma tentativa de salvar a natureza, que está chorando. Eu cresci na praia, sou amante da natureza e não poderia deixar de me solidarizar com a situação. Torcemos para que não chegue com a mesma intensidade da que chegou nas outras praias. Estamos fazendo uma mobilização grande, convocando quem tem disponibilidade pra colaborar no que possa para nos ajudar", explicou.

Morador do Jardim Apipema, o advogado Jorge Cerqueira, 63, sempre caminha e anda de bicicleta na Barra. Nesta quinta, ele dividia a atenção entre o exercício e a praia, enquanto buscava alguma mancha de óleo no local. “Me deixa muito triste ter chegado óleo. Além de ser um ponto turístico, isso diminui a beleza natural que são as nossas praias”, disse. Apesar de se preocupar com os resíduos, ele deve continuar com os banhos de mar no Porto da Barra.

É na calçada da Barra que Evenice Salomão, 59, tira seu sustento. Ela vende água de coco no local e relatou que a clientela já diminuiu por conta do óleo. “Eu achei o movimento fraco a barra. Geralmente, muita gente que desce pra tomar banho coco. Deve ser pelo óleo porque antes tava tão bom”, contou.

Um balanço divulgado nesta quinta pela Limpurb estima que 47 toneladas e 920 quilos da substância tóxica tenham sido retiradas da capital baiana. Se este número for somado às 23 toneladas e 580 quilos retirados na quarta-feira (16), Salvador já contabiliza um total 71,5 toneladas de material em cerca de uma semana, período desde quando as manchas começaram a surgir na cidade.

Até o momento, nove cidades baianas foram afetadas pelo petróleo cru. Com a extensão da mancha, o governo baiano decretou situação de emergência no estado na última segunda-feira. Com o decreto, seis cidades atingidas podem receber recursos e contratar serviços sem licitação: Camaçari, Conde, Entre Rios, Espalanada, Jandaíra e Lauro de Freitas. Segundo informações do Tamar, o óleo já matou, pelo menos, dez filhotes de tartarugas no estado.

Rio Vermelho Mesmo sabendo do aparecimento das manchas de óleo, o chefe de cozinha e dono de restaurante no Rio Vermelho, Cristiano Magno Rodrigues, 46, foi à Praia da Paciência nesta quinta-feira tomar um banho de mar antes do trabalho. O que ele não esperava era que encontraria a areia tomada pelas manchas, a ponto de sujar os pés com o resíduo. 

"Sabia das manchas, mas não esperava que chegasse tão rápido aqui no Rio Vermelho. É um estrago ambiental. Todos têm que ajudar o trabalho dos agentes de limpeza. É bom ver a conscientização das pessoas em se voluntariarem. Sou do Rio, estou aqui há nove meses, nunca tinha visto isso na minha vida. Não teve outro jeito, sujei meus pés todo. Vou para casa me limpar logo, tenho medo de acontecer algum problema dermatológico. É um pecado acontecer coisas assim. Essas praias tão lindas do nordeste. Temo pela vida marinha, é complicado", disse.

Pescador desde a infância, quando ia para o mar com o pai e o avô, Carlos Alberto Souza, 37, contou que a presença do óleo no mar atinge diretamente a pesca e, consequentemente, no aumento do preço dos pescados. Segundo ele, além dos peixes estarem morrendo à beira da praia, os pescadores não conseguem pescar a mesma quantidade que costumava antes do aparecimento das pelotas.

"Esse óleo está acabando com o nosso trabalho, com os peixes. O pouco que pescamos estamos tendo que vender mais caro para tirar o prejuízo. Em cada ida no mar eu conseguia pegar dois baldes de sardinha. Com esse óleo, já fui duas vezes e não consegui nem meio balde. É um prejuízo pra gente que vive da pesca também. Ainda não vi nenhum peixe na rede com manchas do óleo, mas já encontrei muitos deles mortos na beira da praia. Estou lavando os pés com gasolina toda vez que volto da água, com medo", contou o pescador, que atua na região do Jardim dos Namorados.  

Retirada do óleo A Empresa de Limpeza Urbana (Limpurb), definiu procedimentos para a retirada de manchas de óleo nas praias de Salvador a partir de um protocolo orientado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). As regras já estão sendo seguidas pela equipe operacional desde a última quinta-feira (10), quando apareceram as primeiras pelotas de petróleo na capital baiana, mas também servem para grupos voluntários que desejam contribuir para a retirada do material.   Para arrastar as manchas da faixa de areia ou das pedras os agentes utilizam um ancinho, espécie de vassoura metálica, depois fazem a coleta com uma pá e despejam em big bags, embalagens resistentes que armazenam resíduos com segurança. O balde ou outro tipo de recipiente rígido também podem ser usados por voluntários.   Na etapa seguinte, todo material recolhido pela Limpurb é pesado e depois encaminhado para um depósito temporário na sede do órgão e disposto dentro de um contêiner forrado internamente por manta de PVC, acomodado em área coberta e afastado de pessoas e animais, até que os órgãos ambientais responsáveis decidam pelo destino final do material. Todos os agentes de limpeza utilizam os equipamentos de proteção individual (EPI´s), como luvas, botas, máscaras, em caso de retirada de animal morto, além de bonés.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro