Manifestantes voltam às ruas de Salvador contra bloqueio de verba na educação

Eles se concentraram na Praça do Campo Grande

Publicado em 30 de maio de 2019 às 12:07

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Estudantes e professores voltaram às ruas do Centro de Salvador, nesta quinta-feira (30), em mais um ato de manifestação contra o contingenciamento de verbas para a Educação. Eles se concentraram na Praça do Campo Grande, de onde saíram, por volta das 11h, em direção à Praça Castro Alves.

A estimativa da organização é de que mais de 30 mil pessoas participaram do ato. A Polícia Militar informou que não divulga estimativa de público. Um trio e banda de percussão acompanharam, durante o trajeto de quase 2 km, os manifestantes que seguravam cartazes com palavras de ordem e questionando o corte na pasta. "Não fecha a conta: a cota é pouca e o corte é fundo", dizia um deles. Este foi o segundo protesto em maio após o anúncio dos bloqueios pelo governo federal.

A todo momento os manifestantes anunciavam que no dia 14 de junho haverá greve geral da categoria. Na última manifestação, a maioria dos comerciantes do trecho onde estava sendo realizado o ato não abriram seus estabelecimentos. No entanto, desta vez, lojas, bancos e edifícios funcionaram normalmente e o protesto ocorreu de forma pacífica, sem ocorrências policiais durante o percurso.  (Foto: Marina Silva/CORREIO) Para o professor de Educação Física do IFbaiano de Serrinha, Cléber de Jesus, 58 anos, o movimento dos estudantes e profissionais da educação é fundamental para a democracia.

"Eu acredito que a única forma de garantirmos um ensino público gratuito e de excelência no nosso país é a gente resistir a esses cortes de investimentos que o governo federal quer fazer na educação", contou.

Também presente nas ruas, o técnico em manutenção e estudante de Geografia na Universidade do Estado da Bahia (Uneb) José Júlio Ramos, 32, classificou a luta e união dos movimentos sociais em favor da educação por todo o país como um ato que merece ser enaltecido.

"A gente tem que buscar essa mobilização e conscientização da população. Caso contrário, a gente acaba perdendo o que já temos. Eu estou hoje aqui para lutar pela minha educação e pela dos meus filhos no futuro. Temos que ir para a rua mesmo", disse.

A estudante de História da Uneb Yasmin Figueredo, 23, acredita que o fator mais importante no ato desta quinta foi a mobilização contra o contingenciamento de investimentos na educação.

"A educação é a maior ferramenta para causar transformação social nas pessoas, e esses cortes vieram para barrar essa transformação da população pobre, negra, que está tendo acesso à universidade pública. Todo esse processo é um tiro pela culatra que eles estão dando, porque estão prejudicando não só os estudantes, prejudica a todos", contou.

Pelo país Estudantes e representantes de entidades estudantis e de sindicatos de trabalhadores participam hoje (30), em várias cidades do país e também no exterior, de atos contra o contingenciamento de verbas públicas para universidades federais. Segundo a União Nacional dos Estudantes (UNE), há previsão de mobilizações em 143 municípios do país. É a segunda vez este mês em que os manifestantes vão às ruas em defesa de manutenção de recursos para o ensino superior.

Belém Na capital paraense, a manifestação contou com a participação de petroleiros e portuário. Além de protestarem contra o contingenciamento de recursos para a educação anunciado pelo governo federal em função da crise fiscal, os participantes do ato criticam as propostas de mudanças nas regras da Previdência Social e de privatização de empresas públicas, como a Eletrobras e as companhias Docas.

Manifestantes interditaram uma via de acesso ao terminal portuário de Miramar. Segundo a administradora do terminal, a Companhia Docas do Pará (CDP), a interdição de um trecho da Rodovia Salgado Filho, que dá acesso ao porto, não chegou a afetar a movimentação de cargas no terminal. A Polícia Militar não divulgou o número de manifestantes, mas informou que o ato foi pacífico e que o tráfego de veículos já foi normalizado.

Além de Belém, há manifestações agendadas para ocorrer ao longo do dia em mais seis cidades paraenses: Altamira, Bragança, Castanhal, Marabá, Santarém e Tucurui.

São Luís Uma exposição de projetos de pesquisa acadêmica desenvolvidos em quatro instituições de ensino federais e estaduais foi instalada na Praça Deodoro, no centro, onde há a concentração para a caminhada agendada para as 15h. Entre as atividades que estão sendo oferecidas à população que passa pelo local, é possível simular o cálculo de tempo para aposentadoria caso as novas regras propostas sejam aprovadas pelo Congresso Nacional.

Também na capital maranhense, um grupo de estudantes universitários se concentrou em frente à Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Entre as 6h30 e as 9h30, os estudantes bloquearam o acesso ao campus, com exceção do ingresso de funcionários do Instituto Médico-Legal (IML) e dos participantes de um evento acadêmico e de um concurso público cuja prova está sendo aplicada no local. Os estudantes também distribuíram panfletos explicando a motivação dos atos que ocorrem em todo o país.

Em nota, a reitoria da UFMA apoia as manifestações, classificando-as como “um marco histórico fundamental para que se reveja essa decisão e se compreenda que a educação é um investimento no futuro do país e a possibilidade de desenvolvimento social, cultural, tecnológico e humano”. A reitoria sugere que nenhuma atividade acadêmica que inviabilize a participação dos estudantes, técnicos-administrativos e docentes da instituição seja realizada durante o dia.

MEC Segundo o Ministério da Educação (MEC), o bloqueio de recursos se deve a restrições orçamentárias impostas a toda a administração pública federal em função da atual crise financeira e da baixa arrecadação dos cofres públicos. O bloqueio de 30% dos recursos, inicialmente anunciado pelo MEC, diz respeito às despesas discricionárias das universidades federais, ou seja, aquelas não obrigatórias. Se considerado o orçamento total dessas instituições (R$ 49,6 bilhões), o percentual bloqueado é de 3,4%.

O MEC afirma também que do total previsto para as universidades federais (R$ 49,6 bilhões), 85,34% (ou R$ 42,3 bilhões) são despesas obrigatórias com pessoal (pagamento de salários para professores e demais servidores, bem como benefícios para inativos e pensionistas) e não podem ser contingenciadas.

De acordo com o ministério, 13,83% (ou R$ 6,9 bilhões) são despesas discricionárias e 0,83% (R$ 0,4 bilhão) diz respeito àquelas despesas para cumprimento de emendas parlamentares impositivas – já contingenciadas anteriormente pelo governo federal.

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro