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Jairo Costa Jr.
Publicado em 22 de maio de 2021 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Menos de um mês após a Bahia reiniciar o processo gradual de reabertura econômica e de flexibilização nas regras restritivas, a recente escalada da covid-19 no estado colocou os planos de retomada novamente em marcha-ré. Embora não tenha definido o alcance do recuo, o que pode ocorrer até a próxima segunda-feira, o governador Rui Costa (PT) deixou claro na sexta que será inevitável endurecer o jogo mais uma vez.>
A decisão de restabelecer medidas de maior rigor para frear o galope do vírus foi anunciada à imprensa por Rui no Dique do Cabrito, Subúrbio de Salvador, durante entrega da etapa final das obras de macrodrenagem e urbanização do bairro. “Do jeito que está, vamos precisar regredir no que foi feito. Já passamos de 80% de ocupação (de UTIs) em Salvador. Quatro regiões do estado estão com mais de 90%. Então, é possível que tenhamos que dar passos pra trás na flexibilização”, disse.>
Em postagem no Twitter, o governador foi bem mais assertivo. “Vamos ter que adotar novas medidas restritivas contra a covid-19. Poderemos não ter leitos de UTI suficientes nas próximas semanas. Abrimos o máximo que era possível. Vou conversar com os prefeitos para alinhar medidas e anunciar hoje (sexta, 21) ou amanhã (sábado, 22)”, reforçou.>
O post evidencia a principal motivação de Rui ao antecipar o retorno das regras de controle da pandemia: o risco real de colapso no sistema de saúde, puxado pelo crescimento veloz nas taxas de contágio e internações hospitalares. Na quinta-feira, a média de ocupação de UTIs para pacientes adultos no estado havia atingido 83%, mesmo índice registrado na sexta (veja outros números do balanço da covid no box ao lado).>
Antes do anúncio do governador, o prefeito da capital, Bruno Reis (DEM), alertou no início da semana sobre a probabilidade de retomar regras de controle da doença, após Salvador ultrapassar de novo os 80% de ocupação nas UTIs. Assim como Rui, ele não informou quais medidas podem ser decretadas, mas bares, espaços para eventos e convenções, clubes sociais e áreas de lazer surgiram como alvos prioritários nas últimas reuniões do prefeito com integrantes do gabinete responsável pela gestão da crise sanitária.>
Vilões>
No mesmo compasso, Rui Costa apontou com nitidez o que considera os principais inimigos do combate ao coronavírus na Bahia. Ao cobrar cooperação das pessoas, disse ser “inadmissível” que a população “dance” com o vírus. A declaração, feita no Dique do Cabrito, é uma referência direta às aglomerações promovidas em festas de todo tipo, incluindo em bares, galpões e espaços para eventos.“É uma tragédia, e ficamos todos exaustos. Socialmente, economicamente, psicologicamente. É preciso não brincar com o vírus. Não dançar pagode nem axé nem forró com o vírus. Se você chamá-lo para dançar em garagem, em paredões, ele vai levar você, seu pai, seu irmão. Não para dançar, mas para o caixão. Dá uma profunda indignação”, disse o governador.Rui revelou ainda apreensão com a proximidade do período junino, embora tenha cancelado os festejos de São João no estado. O problema, destacou, está nos encontros de família em datas festivas, onde as aglomerações e os descuidos com o protocolo sanitário são frequentes.>
“Vou mostrar os gráficos do crescimento da covid que está associado a alguma comemoração. Não é só evento na rua”, destacou, ao citar a curva ascendente após o Dia das Mães. Os números encabeçam a lista de argumentos que será apresentada na série de reuniões com prefeitos de todas as regiões do estado para definir, em conjunto, as medidas restritivas. A agenda de encontros deve ser concluída na próxima segunda, quando Rui pretende anunciar as regras.>
Avaliação>
Entre especialistas em doenças infectocontagiosas, a decisão de endurecer o jogo diante da eventual terceira onda de covid já era esperada, por causa da alta nos índices da pandemia. Contudo, a avaliação precisa sobre a eficácia das medidas só poderá ser feita depois que elas forem anunciadas. Se forem similares às anteriores, as restrições podem incluir a antecipação do toque de recolher e o fechamento de atividades não essenciais.>
Para o infectologista Adriano Oliveira, só isso não resolve o quadro . “Medidas restritivas (na Bahia) têm resultado meeiros porque são implantadas e realizadas de forma meeira. A ocupação dos leitos em 70% não deveria ser parâmetro para nos deixar confortáveis. O problema é que as restrições não são tão restritivas aqui”, disse o médico, que integra a Sociedade Brasileira de Infectologia e atua na linha de frente desde o início da pandemia.>
Números da doença83% é a média de ocupação nos leitos de UTI para adultos na Bahia, segundo balanço divulgado na sexta pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesab).>
4.801 novos casos de covid foram registrados em todo o estado no mesmo dia em que o governador anunciou a decisão de retomar medidas mais duras. A alta é de 0,5% em relação ao balanço de quinta >
75 pessoas tiveram a morte confirmada por causa da doença na sexta. Desde o início da pandemia, a Bahia soma mais de 20 mil óbitos*Colaboraram Wendel de Novais e Luana Lisboa>