Marcinho lamenta acidente e quer mostrar lado humano no Bahia: 'Que me abracem'

Jogador trabalha para não deixar rejeição atrapalhar rendimento

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 3 de agosto de 2022 às 15:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

Contratação mais polêmica do Bahia nas últimas temporadas, o lateral direito Marcinho, de 26 anos, foi oficialmente apresentado pelo tricolor nesta quarta-feira (3), no CT Evaristo de Macedo. 

No primeiro contato com os tricolores, o jogador explicou que sabe da rejeição que vem sofrendo por parte da torcida, mas diz que quer mostrar o lado humano para ajudar o Esquadrão a conquistar o acesso para a primeira divisão. 

"Eu compreendo a resistência, sei que é um caso muito delicado. Infelizmente se eu pudesse fazer as coisas totalmente diferentes eu teria feito. Espero que vocês possam me conhecer e que eu possa render dentro de campo para a gente conseguir o objetivo, que é o acesso à Série A", disse ele.

A chegada de Marcinho ao Bahia não foi bem recebida por parte dos torcedores. O motivo é o processo criminal que o jogador responde por homicídio culposo. Em 2020, o lateral atropelou um casal de professores no Rio de Janeiro. Marcinho fugiu do local sem prestar socorro. As vítimas não resistiram e morreram. 

Diante dos protestos que vem enfrentando antes mesmo de ter sido anunciado oficialmente, o jogador afirmou que está trabalhando o lado psicológico para não deixar a pressão atrapalhar o rendimento em campo. 

"Eu convivo com isso desde que o acidente aconteceu. Eu trabalho com artifícios para lidar com isso dentro de campo e no meu dia a dia, não é uma coisa fácil. Eu tenho acompanhamento psicológico e espero que fazendo esses trabalhos eu consiga render dentro de campo", explicou.

"Sem dúvida alguma essa resistência [da torcida] atrapalha a eu poder trabalhar. Mas eu compreendo, não é uma situação fácil. Espero mostrar o meu lado humano aqui, que vocês possam me abraçar durante os jogos", completou.

Questionado se o ambiente do futebol, que tem o poder de alçar os personagens ao status de ídolo, é o ambiente ideal para recomeçar a vida enquanto responde ao processo criminal, o lateral afirmou que enxergou no Bahia o clube ideal para o momento. Mesmo revelando surpresa ao ser contratado. 

"O futebol tem muito disso, somos referências para as pessoas, para as crianças, principalmente. É uma responsabilidade que a gente carrega nesse trabalho. Fiquei até surpreso com o contrato, mas o Bahia é o clube perfeito para isso [recomeço], dentro das suas causas é um clube muito humano, um lugar propício para eu dar a volta por cima, mostrar o meu lado humano e para as pessoas me conhecerem melhor", analisou.

Em outro ponto da entrevista, Marcinho foi abordado sobre o que mudaria se pudesse voltar ao dia 30 de dezembro de 2020, quando atropelou e matou o casal que estava atravessando a rua, no bairro do Recreio, na capital carioca, para jogar flores ao mar. Ele afirmou que teria prestado socorro, mas que teve medo de ser linchado. 

"Com toda a certeza eu teria parado, mas por uma série de fatores, medo de ser linchado, ser uma figura pública, não estar vivendo um bom momento no clube que eu estava, culminou em uma atitude muito ruim minha. Isso é o que eu tenho buscado melhorar muito na minha vida. Cresci bastante, fui pai e com certeza sou uma pessoa totalmente diferente daquele rapaz do dia 30 de dezembro de 2020", disse. 

A contratação de Marcinho foi bancada pelo diretor de futebol Eduardo Freeland, que trabalhou com o atleta na época do Botafogo. O vínculo entre clube e jogador tem duração até o fim do Campeonato Brasileiro. No contrato, há uma cláusula de rescisão caso o lateral direito seja condenado pela Justiça. 

Marcinho está regularizado e pode estrear pelo Bahia na partida contra o CSA, neste sábado (6), às 16h30, na Fonte Nova. 

Confira outros pontos da apresentação de Marcinho

Pressão nos jogos Isso é natural, é um caso delicado. Eu convivo com isso desde que o acidente aconteceu. Eu trabalho com artifícios para lidar com isso dentro de campo e no meu dia a dia, não é uma coisa fácil. Eu tenho acompanhamento psicológico e espero que fazendo esses trabalhos eu consiga render dentro de campo. 

Protestos podem impactar o desempenho em campo?  Como eu falei anteriormente, é uma situação complicada e não fujo da minha responsabilidade. Tenho trabalhado muito fora de campo, com psicólogo, trabalho de respiração, buscado amenizar esse peso que eu carrego depois desse fato infeliz não só na minha vida, mas na vida das pessoas que se foram. 

Como está a situação com a Justiça?  É uma situação que eu não tenho muito controle, está nas mãos do meu advogado, do juiz. Espero que tudo corra bem, e se caso alguma coisa sair diferente do que eu não gostaria que acontecesse, tudo vai ser conversado, temos isso em contrato e tudo vai ser resolvido tranquilamente.

Disputa por posição São dois garotos [André e Borel] que são bons de bola, já vi isso nos treinos que participei. Tenho certeza que eles vão evoluir muito, quero passar coisas importantes para eles, mas também vou aprender com esses dois laterais que têm um futuro gigante pela frente . 

Esses primeiros dias o professor Enderson fala muito do grupo ser forte, não ter um time principal certo. Acredito que venho para agregar e ajudar no objetivo maior que é a busca pelo acesso. 

Características  Uma boa parte técnica e sem dúvida eu sou um cara que me doou muito em campo, não paro de correr. 

Preparação física Estou longe da minha plenitude física. Vinha mantendo a forma nesse período parado, mas querendo ou não ritmo de jogo só se ganha treinando e jogando. Acredito que posso ajudar o professor, espero o quanto antes estar em campo. 

Acompanhei os últimos três jogos e quero estar pronto o quanto antes para ajudar o elenco a ter mais uma peça para conquistar o acesso.