Marcio Luis F. Nascimento: eleições, mentiras e estatística

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  • Da Redação

Publicado em 10 de setembro de 2014 às 07:21

- Atualizado há um ano

Quando se trata de enganar, o uso inadequado de números, bem como da estatística, pode ser ferramenta bastante eficaz para manipular o público, principalmente nas eleições.A comunicação de informações e resultados é absolutamente relevante e cotidianamente tratada na mídia. A intenção é tornar os dados  agradáveis e compreensíveis. Gráficos são particularmente importantes nos meio de comunicação, pois podem evidenciar, de forma visual e eficaz, rápida e atraente, dados e informações que contem ou que pretendem transmitir. Portanto, devem obedecer a três requisitos fundamentais: simplicidade, clareza e veracidade. No entanto, erros, omissões e desinformação são, com alguma frequência, e até hoje, repassados à população.

De fato, muitos dados estatísticos são frequentemente apresentados na forma de diagramas simbólicos ou pictogramas, de modo  a despertar a atenção do leitor. Muitos desses apresentam grande dose de originalidade e habilidade na arte da apresentação de dados. No entanto, exageros, desinformação ou má compreensão da estatística podem gerar resultados, no mínimo, equivocados e são, portanto, não-recomendáveis.

Dados estatísticos podem ser manipulados com determinados objetivos, sejam esses comerciais, sociais, científicos ou até mesmo políticos, e apresentados de forma a fazer crer na mensagem que se deseja promover. Com efeito, mesmo sendo corretos, certos dados estatísticos podem ser usados de forma sensacionalista ou, no mínimo, confusa, dando origem a interpretações equivocadas. É necessário, portanto, manter uma atitude vigilante e crítica face às mensagens estatísticas com que frequentemente se observa nas eleições.

Por exemplo, um simples diagrama em perspectiva pode indicar a falsa ideia de que a intenção de voto em determinado candidato aumentou significativamente em poucas semanas. Pode-se, por exemplo, omitir um eixo vertical de um gráfico e assim não ser possível verificar qual teria sido a mudança. Outro truque bastante comum é o de representações em forma de pizza em perspectiva. Itens com proporções diferentes podem dar uma impressão errônea se não são apresentados os valores percentuais adequados. Mais uma situação lastimável é a de omitir dados que indiquem uma variação na intenção de voto, semana após semana, deixando a impressão com os dados remanescentes que houve, por exemplo, uma ascensão espetacular de um candidato (ou descenso do concorrente). Ou ainda utilizar certo truque bastante comum: modificar as escalas de um gráfico de forma a se exagerar ou mesmo minimizar diferenças.

No clássico livro do jornalista americano Darrell Huff , How to Lie with Statistics (algo próximo de Como Mentir com a Estatística, publicado pela primeira vez em 1954), com mais de meio milhão de cópias, há várias charges impagáveis, e uma delas diz o seguinte, sobre dois homens conversando numa festa, entre brindes: “Não seja um romancista;  seja um estatístico, muito mais espaço para a imaginação”.

Visando as eleições presidenciais americanas em 2012 ocorreu um dos mais recentes abusos do uso da estatística. Foi apresentado, ao vivo, no canal FOX News, em 26 de novembro de 2009 dados envolvendo os três únicos candidatos republicanos – um deles deveria ser escolhido para disputar com Barack Obama nas eleições americanas de 2012. Num gráfico em forma de pizza, que deveria resultar em 100% de intenções, cada candidato tinha respectivamente 70%, 63% e 60%...

Na Escola Politécnica, são discutidos estes (entre outros) assuntos nas aulas de Estatística Aplicada na Engenharia. Além de questões éticas, são apresentados alguns dos princípios básicos para elaboração das melhores disposições gráficas utilizando dados. Resumidamente são: i) um gráfico não deve distorcer os dados; ii) um gráfico não deve conter adornos desnecessários; iii) a escala no eixo vertical deve começar em zero; iv) todos os eixos devem estar devidamente rotulados; v) um gráfico deve conter um título; vi) o gráfico mais simples possível deve ser aplicado para um determinado conjunto de dados.

Neste tempo de eleições, e procurando não ser enganado – como dito no início -, é preciso ter em mente o que disse, certa feita, o célebre matemático, historiador e autor de ficção científica escocês Eric Temple Bell (1883–1960):

“ Números não mentem, mas têm a propensão de dizer a verdade com intenção de enganar”.

* Marcio Luis F. Nascimento  é professor da Escola Politécnica s da Ufba