Martagão implanta tecnologia que reduz em até 90% riscos de intervenções cardíacas

Cirurgia com 'stent' foi feita nessa quinta-feira (21), em filho de lavradores de Morro do Chapéu

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  • Da Redação

Publicado em 23 de fevereiro de 2019 às 07:30

- Atualizado há um ano

A aorta, principal artéria do sistema respiratório, não bombeava o sangue para o resto do corpo do pequeno Miguel, 2 anos. Por isso, ele não mexia braços e pernas. Mas, nessa quinta-feira (21), o pequeno de Morro do Chapéu, que sofre de cardiopatia congênita, ganhou uma nova vida, numa sala cirúrgica do Martagão Gesteira, em Salvador.

Pela primeira vez, o hospital utilizou uma pequena estrutura metálica, chamada “stent”, para fazer com que o sangue voltasse a circular. 

A cirurgia pode ser entendida com a seguinte explicação: imagine que a aorta é um cano entupido. A intervenção o repararia por dentro, sem nenhum corte ou quebra, e o fluxo poderia correr livremente. A intervenção não é novidade no mundo médico. Mas certamente uma vitória para o hospital que atende via Sistema Único de Saúde (SUS) – em Salvador, as duas outras unidades de saúde pública que oferecem o tratamento são o Santa Izabel e o Ana Neri. 

Cada stent, endoprótese normalmente metálica, chega a custar R$ 40 mil, valor que torna rara a existência do material nesses hospitais. O procedimento é colocado por meio de uma artéria no braço até chegar a aorta, para que ela possa ser reparada.  “É um projeto de três anos só dessa cirurgia. Antes, tínhamos que cortar e colocar outra. Agora não. É uma vitória, porque estamos tentando aumentar a complexidade tecnológica do hospital”, comenta Emanuel Melo, médico e presidente da Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil, instituição mantenedora do Martagão Gesteira.

Quando nasceu, Miguel já havia sido imediatamente operado. Tinha uma obstrução que impedia a circulação de sangue por todo o corpo. Dois anos depois, o quadro retornou, como costuma ocorrer na maioria dos quadros clínicos. “É comum que a aorta estreite novamente. Mas, ao invés da cirurgia aberta, essa oferece menos riscos. Diria que o risco cai em 90%”, calcula Mila Simões, coordenadora do Serviço de Cardiopediatria do Martagão.

A cirurgia durou duas horas e foi realizada pelos médicos Adriano Dourado e Joberto Sena. Implantado o chamado “stent”, a veia abre, permanentemente, passagem para o sangue enfim seguir para o resto do corpo. No caso de Miguel, até a locomoção estava comprometida. O menino, mesmo somente um dia depois da intervenção, já consegue respirar sozinha. “Não tem sangramento, nada disso”, explica Mila. 

Vitória Miguel é portador da chamada cardiopatia congênita, quando existe uma anormalidade na estrutura do coração mesmo antes do nascimento. Como explica Carlos Emanuel, trata-se de uma espécie de cateterismo, muito menos agressivo ao paciente. No entanto, raro entre famílias mais pobres, devido aos custos elevados. 

O procedimento foi realizado com financiamento de doações da sociedade ao hospital. Em 2017, a instituição filantrópica realizou cerca de 200 cirurgias cardíacas. Anualmente, em média, são atendidos 80 mil pacientes e realizados cerca de 500 mil atendimentos gratuitamente, inclusos tratamentos de alta complexidade como neurocirurgia, cardiologia e oncologia.

A implantação da novidade demorou, em média, três anos e ocorre num período de dificuldade financeira na instituição, segundo relato de funcionários. A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) afirmou à reportagem que "vem realizando pagamentos regulares e consecutivos".