Mata Atlântica - reservatório da biodiversidade

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Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 09:06

- Atualizado há 10 meses

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Os ambientes naturais ao redor do mundo estão sendo perdidos a taxas alarmantes. Nas florestas tropicais como a Amazônia ou as savanas africanas o desaparecimento destas áreas naturais é considerado pelos cientistas a principal causa da grande extinção de espécies no planeta. Além de reduzidos em tamanho os ambientes geralmente estão distribuídos em pequenos fragmentos separados uns dos outros por pastos, cidades, estradas, modificados pelo homem. Os efeitos dessas perturbações podem ser severos, segundo estudo publicado na revista Science*.

Usando um conjunto de informações sobre 4489 espécies animais de várias regiões do globo o estudo mostra dois resultados importantes e com grande implicação para a conservação da biodiversidade. O primeiro é que a capacidade de uma dada espécie de lidar com esta separação do habitat tem explicação no seu passado evolutivo. Espécies presentes em regiões historicamente sujeitas a constantes perturbações, como incidência de fogo, furações, glaciações e desmatamentos, hoje tendem a ser mais tolerantes aos efeitos da fragmentação do habitat. (Foto: Reprodução) Numa analogia a frase do filosofo alemão Nietzsche: “o que não me mata me fortalece”, ao longo do tempo as espécies expostas a situações de frequente stress passam por um “filtro de extinção”, ou seja, muitas não resistem e se extinguem, mas as que ficaram são exatamente aquelas que conseguiram se adaptar a estas situações de stress. São espécies que por terem evoluído em condições estressantes, hoje conseguem tolerar perturbações similares que são resultado da ação humana. Algumas espécies de aves, apesar de nativas, conseguem explorar recursos alimentares que hoje são encontrados nas cidades, nas pastagens e até na beira das estradas que separam os fragmentos de floresta. E em alguns casos estas espécies até aumentam seu tamanho populacional nestas paisagens fragmentadas.

Por outro lado, as espécies que evoluíram sob condições climáticas mais estáveis, especialmente em regiões tropicais, não passaram por este filtro evolutivo, e exatamente por isso estão desaparecendo por conta destas mudanças repentinas causadas pela ação humana. Em números, estas áreas historicamente mais estáveis abrigam cerca de três vezes mais espécies sensíveis à fragmentação do que aquelas regiões que evoluíram sob tais distúrbios.

Outro resultado importante do estudo é que o número de espécies sensíveis aumentou 6 vezes em direção ao equador. Além de mais ricos em espécies, os ambientes tropicais abrigam também uma maior proporção de animais sensíveis a separação ou a fragmentação do seu habitat natural. Portanto, as ações para evitar esta separação do habitat são particularmente relevantes nos trópicos. No caso do Brasil, a Mata Atlântica é um exemplo das implicações do estudo. Lar para cerca de 70% dos brasileiros, o bioma está reduzido a menos de 20% da cobertura original. Além de evitar o desmatamento, se não pensarmos em ações para reduzir este isolamento dos fragmentos dificilmente conseguiremos manter as espécies que hoje fazem deste bioma um reservatório de biodiversidade.

*Deborah Faria, é Profa. Dra. da Universidade Federal de Santa Cruz - UESC. José Carlos Morante-Filho, é Prof. Dr. da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, são co-autores do artigo publicado na Science