Medidas de isolamento reduziram em 27% taxa de transmissão do coronavírus, aponta estudo

Suspensão da circulação intermunicipal em 10% das cidades baianas distanciou a ocorrência dos picos de infecção em Salvador e nas outras cidades

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  • Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2020 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Com as medidas de distanciamento social implementadas na Bahia, o estado conseguiu reduzir em aproximadamente 27% a taxa de transmissão geral do novo coronavírus (Covid-19), aponta segunda edição do “Boletim CoVida – Pandemia de Covid-19”. Ainda de acordo com o levantamento, a suspensão da circulação intermunicipal em 10% das cidades baianas gerou um atraso entre os picos de infecção de Salvador e dos demais municípios.

Com base nos resultados, os pesquisadores da “Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade” compreendem que as medidas de distanciamento social e redução no fluxo dos transportes intermunicipais vêm achatando a curva da epidemia na Bahia. 

O grupo ainda aponta que o distanciamento social continua sendo a mais importante medida de prevenção e controle da pandemia Portanto, não é o momento de flexibilizar a quarentena. Para o estudiosos, ainda é necessário manter reduzido o fluxo intermunicipal ao mínimo possível, mesmo entre municípios onde não há casos notificados.

No boletim, os pesquisadores apontam que a Bahia tomou medidas gradativas para a prevenção do contágio pela doença entre 17 e 28 de março. Com isso, em 26 de março, se inicia os efeitos destas ações na taxa de transmissão do coronavírus. Foi nesta data que a restrição da circulação foi considerada no modelo criado pelo grupo.

Como efeito destas medidas, o número de casos confirmados no estado até 6 de abril foi menor do que o projetado. Na data, 437 pessoas já tinham se infectado. Entretanto, um modelo criado sem a intervenção governamental aponta que a quantidade de doentes deveria ser maior que 800 até aquele dia.

A circulação de pessoas entre as cidades da Bahia também é capaz de levar o vírus de um local para o outro. Por esse motivo, o isolamento territorial da população de uma localidade com casos de coronavírus reduz o efeito da doença no estado.

Na comparação entre um cenário sem diminuição do fluxo intermunicipal com outro com uma redução de 99% na circulação dos 41 municípios onde o transporte foi suprimido em decreto do governo estadual de 1º de abril, observou-se a criação de dois picos da doença diferente de apenas um com seria com a manutenção das viagens. Até o momento, são 68 cidades baianas atingidas pela medida preventiva.

“Quando se reduz o fluxo de pessoas entre as cidades, primeiro acontece um pico em Salvador e depois nas cidades do interior. Isso é maravilhoso porque os dois picos não acontecem ao mesmo tempo, o que faz com que dê tempo de gerenciar melhor os recursos da saúde e leitos e ainda de achatar mais o pico”, afirmou o professor do Instituto de física da Ufba e colaborador em Modelagem e Análises da rede, José Garcia Miranda.

Para chegar a essa análise, o grupo considerou que existe uma rede na Bahia na qual cada município é representado por um ponto e o tráfego de transporte intermunicipal entre dois pontos é representado por uma linha.

Esse modelo permite perceber que “a existência da rede de fluxo amortiza a curva epidêmica, uma vez que o número total de casos é influenciado pela disseminação interna em cada município, onde existe fluxo entre indivíduos contaminados e suscetíveis de forma heterogênea, entre as diferentes populações dos municípios”. Então, essa análise reduz a porcentagem da população infectada ao mesmo tempo durante os próximos 250 dias a partir de 6 de abril.

Modelos Diversos modelos matemáticos são aplicados para compreender a atual pandemia de Covid-19. O Grupo de Trabalho de Modelagem da Rede CoVida adotou o modelo SIR; uma estratégia analítica produzida a partir de grupos de indivíduos classificados como Suscetíveis, Infectados e Recuperados. Uma das vantagens do modelo é a simplicidade e efetividade na modelagem de epidemias.

Os pesquisadores apontam algumas limitações dos modelos adotados no estudo. Entre elas estão os dados sobre o fluxo de pessoas em transportes urbanos, que foram capturados do IBGE de 2016, e os valores estimados pelos modelos representam o total de infectados desconsiderando os efeitos dos assintomáticos.

Sobre a Rede CoVida A “Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade” é um projeto de colaboração científica e multidisciplinar focado na pandemia de Covid-19. A rede visa ao monitoramento da pandemia no Brasil, com previsões de sua possível evolução. Visa também à produção de sínteses de evidências científicas tanto para apoiar a tomada de decisões pelas autoridades sanitárias quanto para informar o público em geral. É uma iniciativa conjunta do Cidacs/Fiocruz e da Universidade Federal da Bahia (Ufba), com apoio de colaboradores de outras instituições de pesquisa nacionais e internacionais.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela