Memorial de ACM, na Federação, abre com 4,5 mil livros e 25 mil fotos para pesquisa

Público poderá ter acesso gratuito a 14,4 mil cartas trocadas com familiares e autoridades, entre outras relíquias; saiba como visitar

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  • Gil Santos

Publicado em 3 de setembro de 2022 às 05:00

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

“Presidente, o senhor precisa respeitar mais os seus amigos. O senhor não está respeitando e eu não estou disposto a isso. É a minha dignidade de governador que faz agir assim. Não sou governador que espera quatro horas por um telefonema de volta da presidência da república”. Essa foi uma conversa do então governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, com o presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello, em 1992.

Esse e outros relatos sobre a vida de uma das figuras políticas mais importantes do século XX estão registrados em um acervo em memória do político baiano que tem cerca de 4,5 mil livros. No domingo (4), ele completaria 95 anos - ele morreu em 2007. Foram 55 anos dedicados à vida pública que estão registrados também em uma hemeroteca com mais de 200 pastas com recortes de jornais e revistas, e 14,4 mil folhas de cartas trocadas com familiares, artistas e políticos dos mais diversos escalões. São 4,5 mil livros, incluindo a biblioteca pessoal do ex-senador (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Todo o material está disponível para acesso gratuito do público. O telefonema acima aconteceu em setembro de 1992 e, durante a conversa, ACM foi duro. “Aqui na Bahia não se diz espere, para ficar esperando eternamente”. O acervo tem registros, por exemplo, da visita de Juan Carlos, rei de Espanha, e do líder cubano Fidel Castro ao Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), em 1993.

ACM e Fidel aparecem também em fotografia exposta no memorial, ao lado de outros registros de visitas históricas, como da rainha Elizabeth II, do Reino Unido; do ex-presidente dos EUA Bill Clinton; do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela; e do papa João Paulo II. São 25 mil fotografias. Algumas das figuras mais importantes da história nacional, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek - de quem ACM era um amigo muito próximo -, trocaram cartas com o baiano, como mostra outro livro do acervo. Painel fotográfico tem registro de visitas de diversas autoridades à Bahia (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O memorial foi dividido em quatro blocos. Umas das vitrines conta a história do baiano com a família, fotos com a esposa, os filhos e os netos em diferentes períodos da vida. No alto se lê o relato do atual candidato ao Governo da Bahia, ACM Neto. “Lembro-me de meu avô levar os netos para mostrar as obras de revitalização do Pelourinho [...] o amor de ACM pela Bahia... era um sentimento genuinamente dele”, afirma.

A próxima vitrine registra a relação do ex-senador com a cultura e expõe algumas das 403 medalhas e condecorações que ele recebeu. Já as placas somam 473, como uma recebida da Orquestra Sinfônica Brasileira, posicionada logo abaixo de uma canção de Chocolate e Nelson Rufino escrita para o político. Há também fotografias com artistas e pequenas peças esculpidas em barro. Foram 55 anos de vida pública (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Do outro lado, na vitrine em frente, registros da relação dele com o Brasil, como uma dedicatória de Juscelino, o título da Ordem do Mérito Militar e uma homenagem da Câmara Municipal de São Paulo. A quarta vitrine é dedicada a relação dele com a Bahia, como trechos de correspondências trocadas com o escritor Jorge Amado, a chave da cidade e referências a Ford e a Cesta do Povo.

Cultura A diretora executiva do Instituto ACM, Cláudia Vaz, responsável pelo espaço, contou que o material pode ser consultado gratuitamente e que o próximo passo será digitalizar o acervo. Ela acredita que é uma importante fonte de pesquisa para estudantes e professores e citou como exemplo a visita de um docente canadense que usou o material nos estudos sobre famílias políticas.

“A gente não pode esquecer todo o trabalho de amor feito por ACM. Foram 55 anos de vida pública em que ele trabalhou para a Bahia. Teve também atuação nacional e de uma maneira muito diferenciada, porque ele tinha um amor fervoroso por essa terra, lutava e brigava, e conseguia muita coisa para a Bahia. Ele trabalhou muito na cultura, por isso, o Instituto tem hoje a missão voltada para a cultura e o patrimônio e feito projetos nesse segmento, para dar continuidade ao legado dele”, afirmou. Cláudia Vaz destacou a importância do acervo como fonte de pesquisa (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O horário de funcionamento do memorial é das 9h às 12h e das 13h30 às 17h, de segunda a sexta-feira. O espaço fica na sede da Rede Bahia, na Federação. O material pode ser usado para consulta e uma bibliotecária estará disponível para ajudar os pesquisadores.

O espaço foi criado, em 2011, com proposito de ser uma organização social sem fins lucrativos, e possui um acervo documental em recorte de jornais e revistas sobre o estado da Bahia, sua história política e seu desenvolvimento social e urbano. Os livros que faziam parte da biblioteca do ex-senador também estão no memorial, com obras sobre ciências política, artes, biografias e economia, entre outras. É possível conhecer o Instituto também através das redes sociais.

O Instituto informou que vai realizar nos dias 23, 24 e 25 de setembro o 1º Festival de Cultura Popular de Salvador. Serão 24 manifestações culturais de dança, arte, música, artesanato e gastronomia. Os grupos farão apresentações pelas ruas e praças do Centro Histórico de Salvador. O evento começará com uma missa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, com participação da Irmandade dos Homens Pretos, da Irmandade da Boa Morte (Cachoeira) e dos Filhos de Gandhy. Participam ainda o Balé Folclórico e a Orquestra de Frevos e Dobrados.

Serviço O quê: Visita ao Memorial de ACMQual o acervo: São 4,5 mil livros, 25 mil fotografias, 14,4 mil folhas de cartas, 473 placas e 403 medalhas e condecoraçõesQuando: De segunda à sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30 às 17hOnde: Sede da Rede Bahia, na Rua Aristides Novis (estrada de São Lázaro), nº 123. Federação.