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Memórias de Osni, um craque tetracampeão baiano pelo Bahia


 

  • Paulo Leandro

Publicado em 14/04/2021 às 05:01:00
Atualizado em 22/05/2023 às 19:05:51
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Um dos mais geniais artistas da bola, ídolo da dupla Ba-Vi, Osni Lopes é tetracampeão pelo Bahia, 1981-1984, título possível de ser resgatado este ano, daí a ideia de escutar o grande Baixo, em depoimento editado a seguir, dedicado a Renato Pinheiro:

“Em 1980, o Bahia contratou o treinador Duque, responsável por afastar Douglas, Baiaco, Sapatão, Romero e Luiz Antônio, além de não renovar comigo, o resultado? Vitória campeão.

Em 1981, cinquentenário do Bahia, Maracajá trouxe Aimoré Moreira, eu voltei, o Bahia pegou a Catuense de Bobô, Vandick, Zanata e Gelson, perdíamos de 2x0, mas classificamos com empate, gols de Gilson e outro meu, após sofrer pênalti.

Antes do Ba-Vi final, eu alertei o massagista Alemão do fato de Aimoré nunca ter sido campeão estadual, mesmo bi mundial no Chile em 1962: Alemão fez Aimoré botar os pés numa banheira de água quente, com sal grosso e alho.

Ganhamos de virada, um gol meu, outro de Gilson, dois pontas baixinhos, invertendo a ordem do jogo da Catuense. Fonte Nova lotada, Vitória com Fumanchu, César e Aladim; Carlinhos Procópio e Marquinhos; e nós: eu, Dario e Gilson; Helinho e Leo.

O bi-1982 foi com Carlos Froner, o Bahia ficou 51 jogos invicto. Terminei operando, na decisão Bahia x Galícia, Robson fez o gol e foi me abraçar, eu de pé gessado. Duro era o Serrano, em Conquista, de ônibus, 10 horas pra chegar, o time dormia mal.

Tinha a Catuense, Antônio Pena armava grandes equipes, tinha Vandick, Bobô, Sandro, Guaraci, mas o Bahia ganhou tranquilo, assim foi também em 1983, com o treinador caseiro Florisvaldo, campeão brasileiro de 1959.

A final foi contra a Catuense, no primeiro jogo em Alagoinhas, fiz gol de cabeça e voltamos achando que íamos ser campeões na Fonte, mas tomamos 2x1. Na finalíssima, em Alagoinhas, quarta à tarde, o garçom Emo fez o gol do título, foi o herói.

1984 foi meu título mais marcante, situação financeira difícil, o time limitado, campo da Fonte Nova pesado, o preparador físico dava muito treino, e assumiu depois de Zé Duarte cair.

Leo Oliveira foi para o Paysandu e me indicou, mas eu caí na besteira de dizer a Maracajá: o time não é ruim, se eu fosse treinador, seria campeão com este time, ele não disse nada.

Reuniu-se com Orlando Aragão, Raimundo Deiró, e quando deu 11 e meia da noite, o telefone toca dizendo para me apresentar no dia seguinte, às 8 horas, como novo treinador do Bahia.

Perdi dinheiro, não fui para o Paysandu, aqui não tinha bicho, o salário atrasava, alimentação escassa, tive o apoio de Sapatão, treinador do juvenil, ao me ceder Miguel na lateral esquerda, o time tinha o meia Leandro, maravilhoso, e passei a dar só treino com bola.

Alemão, Jones e Pedrinho, os homens da massagem, recuperaram os jogadores, eu afastei quem não se cuidava, e na final goleamos o Leônico por 4x1, quando marquei meu último gol na Fonte Nova.

Antes de ir pro treino da tarde tinha de ir pro pai de santo de Jones e, na véspera dos jogos, à mãe de santo de Alemão, ela passava banhos de folha, os jogadores não podiam se enxugar, às vezes dava um cheirinho...

Fui tetracampeão como treinador, jogador e artilheiro! O único no mundo, mas me ofereceram valor pequeno para renovar e terminei indo jogar a segunda divisão no Leônico...”

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.