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Ivan Dias Marques
Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Sim, eu me lembro. Com detalhes que alguns amigos irão duvidar, mas é verdade. Eu tinha 6 anos em fevereiro de 1989 e já era conhecido no prédio, entre os parentes e até nos bastidores do Bahia pelo apelido: Bobô.
Também pudera. Meu pai era um dos tricolores mais doentes que se tinha notícia nas redondezas, a ponto de ‘converter’ três filhos da cunhada, uma rubro-negra casada com um rubro-negro, a serem torcedores do Esquadrão. Era conselheiro, frequentava o estádio assiduamente e carregava os dois filhos sempre, até em jogos noturnos.
Naquele ano, num jogo contra o Bangu, eu dormi e o Bahia tomou o empate. Pronto, a partir daquele dia, meu pai não deixava mais eu cair no sono na cadeira inferior da Fonte Nova. Valia até jogar água nos meus olhos pra me manter acordado.
Com a presença constante, passou a conhecer jogadores e dirigentes. Eu ainda ‘entrava’ com time em campo, então, passei a ser conhecido também. A maioria das vezes, subi para o gramado de mãos dadas com Sandro. Onze vezes. Outras três com Bobô e uma vez com Charles.
Frequentemente, ele ia até o aeroporto acompanhar o embarque do time. Um dia, Bobô e Sandro estavam sentados na lanchonete do aeroporto, aquela cheia de desenhos de avião, quando cheguei, um deles disse: “Trouxe um presente pra você, Ivanzinho”. E me deu um bolinho de figurinhas do álbum de 1988. Imagine a alegria?
Nas quartas de final, contra o Sport, coincidiu de meu pai estar em Recife, a trabalho. Sofreu o diabo, mas foi à Ilha do Retiro. Na volta, fomos à Fonte e nos seguramos naquele 0x0 em que Ronaldo fechou o gol.
Na semifinal, contra o Fluminense, lá estávamos nós na cadeira inferior. Sentei com meu pai enquanto meu irmão, com 10 anos, dividiu um assento com outra pessoa. Não esqueço: tinha gente em cima da marquise da Fonte!
No jogo contra o Inter, não fui. Minha mãe e ele chegaram à conclusão que era muito perigoso. A expectativa era de mais de 90 mil pessoas, numa partida à noite. Melhor a precaução. Vi Bobô, meu ídolo àquela época, fazer dois gols e dar a vantagem ao Esquadrão.
Na volta, vimos em casa. Meu pai até pensou em ir, mas o custo era muito grande para ser feito em cima da hora. Eu, ele, meu irmão e Tio Lêse. Lembro de Ronaldo defendendo muito e do Bahia quase matando a gente do coração ao perder alguns gols já na metade final do segundo tempo.
Apito final e festa em casa, bandeiras para todo o lado. Saímos de carro para um buzinaço do Costa Azul até a Barra. Na volta do time, estávamos lá na Boca do Rio, atrás do trio elétrico. Acenamos para o jogadores e Bobô retribuiu! Ganhei minha noite. Pena que ele foi vendido ao São Paulo e passei a odiar quem me chamasse de Bobô...
Já meu pai ganhou um certificado, bem guardado, onde se lê: Campeão Brasileiro de 1988. Dá pra entender por que não esqueço, né?
Em tempo A profissão de jornalista, com o tempo, tira um tanto desse romantismo do futebol, afinal, o instinto de investigação e a racionalidade da prestação do serviço de informar são mais fortes. E a gente acaba conhecendo o submundo do esporte. Mas isso é comigo. Já meu pai...
Ivan Dias Marques é subeditor do Esporte e escreve às terças-feiras.