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Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2021 às 05:16
- Atualizado há um ano
Mais um 20 de novembro. Tempos de falar sobre a consciência negra, cultura e alteridade na sociedade brasileira. A indignação é geral, mas nos restringimos a tratá-la em um período do ano.
Nesses meus 60 anos continuo lidando com o racismo como constituição própria. São mais de 40 anos de verificação e esforço com o propósito de entender a dinâmica do racismo em nossa sociedade... Lembro-me de quando atuei no movimento negro. Foi o livro de Nilma Lino Gomes, Movimento Negro Educador, que construiu as bases para minhas reflexões, através de muita escuta e debates. Posteriormente relacionei minhas compreensões com a educação, junto à formação em pedagogia, percorri longos 37 anos atuando na área. São muitos anos de observação, estudo, diálogos, e interações pessoais e coletivas acerca desta temática com profissionais da educação. Principalmente na escuta atenta para compreender como as pessoas entendem o racismo, como isso chega a cada um e como ele é expresso. E não há como negar a necessidade desta discussão quando vivemos em Salvador, onde a população é majoritariamente negra (pretos e pardos).
É através desta escuta que seleciono elementos para as formações e oficinas que realizo no cotidiano profissional, pois, mesmo depois de 18 anos de obrigatoriedade da inclusão da temática da história da África, dos africanos e da cultura afro-brasileira, ainda ouvimos profissionais do serviço público afrontarem a legislação em vigor a partir de suas colocações pessoais.
O racismo não dá descanso. Sistematicamente, ele se metamorfoseia, adapta-se e continua existindo em pequenas sutilezas dolorosas e profundas disfarçadas de brincadeiras nas quais o outro não tem o direito de se sentir ofendido. Não há diversão se não rimos juntos. É óbvio que os casos não só ocorrem neste mês, contudo é em novembro que o corpo midiático demonstra maior preocupação. Minha luta incessante é no sentido de fazer professoras (es) compreenderem a necessidade de ir além do 20/11 de cada ano e passem a refletir junto com as (os) estudantes sua condição de negro. Essa discussão deve ser em várias perspectivas, mas que convirja para a construção positiva da identidade. Reforçamos que a herança de povos africanos trazidos para o Brasil é um conhecimento em inúmeras áreas do saber. Somente o debate estético é insuficiente. Precisamos nos apropriar do grande legado da África para a humanidade. Somos herdeiras e herdeiros do conhecimento!
Assim, a construção da consciência negra, a identidade e autoestima é feita todos os dias. O 20 de novembro é uma data a ser relembrada, mas não podemos reduzir a ela, devemos estar numa constante recordação do dia 14 de maio de 1888.
Eliane Boa Morte é doutoranda em Educação (UFBA); Mestre em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas (UFRB). É coordenadora do Núcleo de Políticas Educacionais das Relações Étnico-Raciais (NUPER) da Secretaria Municipal da Educação (Smed), representante governamental no Conselho Municipal das Comunidades Negras de Salvador e membro do Comitê Técnico de Combate ao Racismo Institucional da Prefeitura Municipal do Salvador