Meu filho arranca de mim o que tenho de melhor e pior

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 15 de março de 2020 às 05:01

- Atualizado há um ano

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Essa semana eu estava organizando o armário do escritório que temos em casa e pude fazer uma viagem nos 3 últimos anos de nossa vida. Em uma das pastas de documentos encontrei o envelope com os recibos da maternidade e a certidão de nascimento do Bento. Me emocionei ao lembrar de tudo que passamos até aqui. A concepção do nosso pequeno foi fruto de anos de espera e tratamento médico. Muito choro e apreensão, que terminaram com sua linda chegada, no dia 17 de janeiro de 2017. Bento chegou e o nosso mundo parou.

A paternidade sempre foi meu sonho maior de vida. Eu não imaginava a dimensão real do que é ser pai. Já parou pra perceber como sonhamos com algumas coisas sem ter a mínima noção de como será a prática do sonho realizado? Agora, 3 anos depois, posso afirmar: ser pai não é uma missão simples e muito menos fácil. Eu me sinto desafiado ao extremo em todos meus limites possíveis emocionais e intelectuais. Meu filho arranca de mim tudo que tenho de melhor e pior. O amor incondicional, claro. Mas também a intolerância e a falta de habilidade relacional. Filhos nos transfornam para transformar tudo que precisa evoluir.

Por vezes me sinto mais infantil que ele quando fico enfurecido pelo fato dele simplesmente não obedecer quando falamos algo. Sem falar nos momentos que ele, conscientemente, nos provoca ao extremo ao fazer algo que insistimos em dizer para que não seja feito. É assim apenas aqui em casa?? Fico quase maluco. Até onde o ato de dizer “não” para meu filho é algo educativo e não tirano? O mesmo raciocínio vale para o “sim” em meio ao choro incansável quando quer assistir “só mais um pouquinho” de Patrulha Canina. 

O fato é que quando sonhamos, estamos apaixonados. E jamais devemos perder a paixão de sonhar. Vamos falar mais aqui sobre esse aprendizado diário de ser pai, na próxima semana, mas hoje eu volto pras minhas memórias guardadas na papelada da maternidade. Elas me lembraram de um texto que escrevi no dia seguinte ao nascimento do meu garoto e que vou compartilhar com vocês. Acho que é o texto com mais amor e paixão que já escrevi na vida.

CERTIDÃO DE NASCIMENTO - escrito em 18 de janeiro de 2017

Vivi 18 anos da minha vida tendo apenas o nome da minha mãe na certidão de nascimento. Durante a infância, não ter o nome do meu pai nos documentos não causava nenhum trauma em mim. Pelo menos não que eu consiga me lembrar. Mas na adolescência, essa ausência mais parecia uma maldição. Prefiro acreditar que um pai que não teve a dignidade de assumir seu filho não tem noção das dolorosas marcas que ele causa. E, se porventura tiver, e mesmo assim o fizer, que o mesmo colha o fruto amargo de toda semente de desamor que ele plantou.

Nosso 1º filho nasceu essa semana. Estou apenas no começo desta empreitada chamada paternidade. Mas já consigo experimentar os primeiros insights de aprendizado acerca do amor verdadeiro. Aquele sentimento que todo adulto, pai ou mãe, enche a boca pra descrever quando fala sobre seus filhos. 

Basta eu me lembrar do Bento que meus olhos ficam marejados. Sempre digo que o casamento é uma ferramenta pedagógica, tipo uma faculdade, criada por Deus para nos ensinar valiosos ensinamentos. Renúncia, companheirismo, paciência, generosidade e respeito. Agora posso dizer que a paternidade é a pós-graduação.

Eu amo minha esposa com todas as minhas forças. No dia do nosso casamento, eu era só choro. Emoção pura traduzida em lágrimas. Foi um dia inesquecível em minha vida. Mas algo diferente aconteceu enquanto eu assistia o nascimento do Bento. Não houve lágrimas. Na hora que aquele serzinho todo cheio de placenta saiu da barriga da minha esposa, meus olhos foram iluminados pelo amor, gratidão e responsabilidade. Exatamente nesta ordem. Minha mente sintonizou uma nova frequência. E coisas que pra mim eram apenas teorias, se materializaram e deram sentido a tudo que vivi nestes últimos 34 anos. 

Nesta semana a maldição da minha juventude foi quebrada oficialmente. Fiz a Certidão de Nascimento do meu filho. O documento oficial da República Federativa do Brasil. O registro civil das pessoas naturais. Um pedaço de papel cheio de informações sobre o nascimento de mais uma pessoa no mundo. Mas sabe qual a mensagem mais importante que está escrita nele?

Foi declarante o pai! 

O mal não frutificou em minha vida. A tristeza não fez morada. E a amargura nunca mais encontrará terreno fértil em nenhum daqueles que carregam o meu nome. O amor venceu!