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'Meu Instagram virou um campo de batalha', revela Julia Lemmertz


 

Intérprete de Ana/Piedade em Espelho da Vida, atriz falou ainda sobre maternidade, relação com a Bahia e final da novela

  • Naiana Ribeiro

Publicado em 10/03/2019 às 07:02:00
Atualizado em 19/04/2023 às 13:16:03
. Crédito: Sergio Zalis/TV Globo

Na reta final, a novela das seis  da Globo, Espelho da Vida, irá revelar já nos próximos capítulos  mistérios pendentes e desfechos das personagens. 

Com Ana/Piedade, mãe da protagonista Cris/Júlia (Vitória Strada), não será diferente. Interpretada pela veterana Julia Lemmertz, 55 anos, a ‘mãezona’ vive momentos de angústia tanto em 1930 quanto no presente. 

Piedade vê a filha sofrer pela prisão de  Danilo (Rafael Cardoso), e Eugênio (Felipe Camargo) ultrapassa  limites ao descobrir a gravidez de Júlia. No presente, Ana continua tentando trazer Cris de volta à realidade.

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Em entrevista ao CORREIO, a atriz gaúcha fala sobre o  final da trama, exibida até  1º de abril ; relação com atores da nova geração; maternidade; e sobre sua relação com a Bahia. 

Como é interpretar Ana/Piedade em Espelho da Vida?  Gravar as duas – Piedade e Ana – tem sido uma experiência linda porque elas são meio complementares. São duas vidas, duas pessoas de uma natureza parecida, que tiveram experiências diferentes. O resgate da Ana seria ser feliz num certo sentido e se realizar na vida, no amor, na família. A Piedade batalhou tanto pela família, pelo amor e só teve tristeza. A pessoa que que seria um alento é um amor impossível. Então, ela realiza esse amor numa outra vida. Mas também tem resgates a fazer, com o Américo, por exemplo... São personagens  gostosos de fazer. (Foto: TV Globo) Você foi de uma vilã a mãe protetora. Como está sendo a recepção do público?  É curiosa essa coisa da recepção porque, quando você faz uma personagem mais amorosa, mais do bem, as pessoas ficam mais relaxadas. Quando você faz uma vilã, cria-se um ruído, as pessoas ficam mais alvoroçadas. Então, é tranquilo. Me abordam, falam comigo sempre com muito carinho, com muita gentileza. Acho que é um reflexo da própria Ana.

Sua personagem é uma mãezona mesmo, bem compreensiva e preocupada. Você se identifica com ela? Eu tento ser essa mãe preocupada, mas  sou uma mãe que trabalha fora – como 99% das mães do Brasil. Então criei meus dois filhos assim. Sempre os incluí na minha vida de trabalho. Sempre que podia levar junto  levava. Eles sabiam o que eu estava fazendo, entendiam o meu trabalho. Por mais que a gente tivesse saudade e  sofresse, era uma escolha consciente. É claro que estava trabalhando para sustentá-los, mas também estava fazendo uma coisa na qual eu acredito, que me forma, que é a base da minha vida.  No passado, Piedade (Julia Lemmertz) é mãe de Julia (Vitória Strada) (Victor Pollak/TV Globo/Divulgação) Como você equilibra o trabalho e a criação dos filhos? Sem dúvida nenhuma, a criação de um filho é algo muito profundo, importante, mas você tem que ser o melhor pai e melhor mãe que você pode ser, sem deixar de fazer o que é importante para a sua vida. Seu filho vai aprender a ter estrutura, a ter os seus próprios desejos, sonhos e  vocações realizadas se  souber  que  pode e deve fazer isso independentemente de ser casado, ter filhos e tudo mais. Eu acho que existe uma diferença entre deixar ele completamente, porque você não se importa, e deixá-lo porque está fazendo algo importante para você, para ele, para todo mundo – seja pela sobrevivência dele, seja porque o trabalho te enobrece, te engrandece. Essa medida é difícil de cumprir, mas a gente tem que passar para os filhos fortemente. Ana (Julia Lemmertz) (Foto: João Miguel Júnior/TV Globo) O que o público pode esperar dos próximos capítulos da novela? Como a gente está  na reta final, as coisas tendem a se desenrolar. Tem muita coisa para ser descoberta dos personagens, os resgates de cada um. O que acho bonito nessa novela é que, mesmo no perrengue, na maldade da Isabel (Alinne Moraes) - que é uma personagem incrível que fica se debatendo em não querer enxergar, aprender e mudar - existe amor. A gente passa por  todas essas coisas difíceis para ser só isso aqui. Propõe que - através do amor e do autoconhecimento - você consiga melhorar a sua vida e resgatar relações com pessoas que você tem dificuldade. Se você tem dificuldade com uma pessoa você pensa que talvez alguma coisa tenha aí. Possa ser que nunca  saiba o que teve. Mas, no frigir dos ovos, o que a gente tem é aqui e agora. Conseguimos resolver as coisas ou encarar os problemas através do amor e da compreensão – isso é incrível. Fico feliz com o caminho que a novela teve desde o início. Isso é muito característico da Beth Jhin (autora da trama)."Espelho da Vida abre uma porta para que as pessoas olhem para a suas vidas de uma forma mais compassiva, mais amorosa. A novela propõe um olhar interessante para a vida. Mesmo que você não seja espírita, que não acredite nessas coisas, o fato é que a gente está aqui Pedro Vasconcelos e Elizabeth Jhin: essa é a primeira teledramaturgia dele como diretor artístico. Autora da trama, Elizabeth escreveu também Escrito nas Estrelas (2010), Amor Eterno Amor (2012), Além do Tempo (2016) e Começar de Novo (2005) (Foto: Artur Meninea/TV Globo) Além de atores renomados, com anos de experiência, Espelho da Vida tem artistas da nova geração, que têm ligação com a internet, como Kéfera e João Vicente. Como você avalia essa inserção? A gente está no mesmo barco, trabalhando juntos. São atores espetaculares. Vitória é uma menina de 22 anos, que parece ter o dobro da idade: super responsável, dedicada, incrível. E o João, que vem de uma outra coisa, está faz seu primeiro protagonista, um papel dramático, com muitas camadas. Um mocinho, que é meio vilão, conturbado. A Kéfera, que nunca fez novela, é uma ótima atriz.  Acho o elenco incrível. Todos nessa novela – incluindo as crianças – foram pinçados a dedo. São lindos, inteligentes, bons atores, bem preparados. Cris (Vitória Strada), Ana (Julia Lemmertz) e Flávio (Ângelo Antônio) (Foto: João Miguel Júnior/TV Globo) E como você lida com as redes sociais?  Eu estou muito conturbada com essa coisa de internet. Eu acho que existe um ruído grande ali, especialmente depois de eleição, política e essa coisa toda. Para mim é tudo muito misturado.Meu Instagram que era de flores, passeios e vida (uma coisa boa) virou um campo de batalha. Eu não fico acompanhando o que dizem de mim.Tem uns grupos de fãs que são uns amores, que pegam cenas minhas, postam e comentam, mas eu não consigo acompanhar. Não dá tempo para fazer tudo.

Qual sua relação com a Bahia? Tem lembranças daqui? Tenho muitas lembranças da Bahia porque um dos primeiros trabalhos que eu fiz na Globo foi Tenda dos Milagres, uma adaptação do livro do Jorge Amado, e fiquei na Bahia por uns dois meses. Eu nunca tinha ido à Bahia, tinha 20 anos na época. Eu fiquei louca com a Bahia, com o tempo, com a beleza, com as pessoas. Eu fiz amigos da vida aí. Fiz um amigo (Vavá), que, na época, era bailarino do Balé Folclórico da Bahia. Ele me levou no terreiro; eu descobri que era filha de Iemanjá. O Vavá já é diretor do Balé Folclórico da Bahia e continua falando que coloca água na minha quartinha sempre. Fora tudo o que a Bahia tem: a arte, os artistas, os músicos, o teatro, o grupo Olodum. Os atores que a Bahia importou e ainda importa.  "A Bahia é bem abençoada pelos deuses, tem tanta beleza, tanta arte. Faz  tempo que não vou, mas sempre é um bom pensamento" Joel Silva e Julia Lemmertz em Tenda dos Milagres, 1985 (Foto: TV Globo/Reprodução) Tem algum lugar em especial que você gosta por aqui?  Lugares da Bahia tem muitos, mas o que me impressionou - muito mais do que os lugares - foi o tempo que as coisas têm. Na Bahia,  o tempo passa meio diferente. Sinto que  tenho mais tempo na Bahia do que eu tenho no Rio. É um jeito de viver, de falar, de não ter pressa talvez menos estressado e pilhado com as coisas; mais poético. A última vez que eu fui eu acho que foi com o teatro. Faz  tempo que eu não vou à Bahia, mas sempre é um bom pensamento. Tem pessoas que falam ‘sempre teremos Paris’. Para mim, sempre teremos a Bahia. A gente pode sempre ir à Bahia.