Micróbios comedores de plástico na era ESG

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  • Eduardo Athayde

Publicado em 29 de julho de 2022 às 14:58

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O mundo produz mais de dois bilhões de toneladas de resíduos por ano. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA estima que cerca de três quartos dos resíduos são recicláveis, mas pouco menos de um terço é realmente reciclado. Segundo o Banco Mundial, metade de todos os produtos plásticos que poluem o mundo hoje foram criados após 2000, e 75% de todo o plástico já produzido já foi descartado.

O maior desafio são esses resíduos que poluem o oceano, prejudicam a vida marinha e a saúde pública. Nesta Década dos Oceanos (2021-2030), o custo econômico da poluição plástica de US$ 13 bilhões por ano, incluindo custos de limpeza e perdas financeiras para a pesca e outras indústrias, veem sendo acompanhados.

Desde a descoberta de bactérias comedoras de plástico em um depósito de lixo japonês, em 2016, o caminho para uma sociedade de baixo desperdício pode ser aprimorado por meio de micróbios e enzimas de bioengenharia que digerem plástico e outros resíduos. Os microplásticos são outro problema, sendo a maior parte desses fragmentos de pneus de carros à medida que se desgastam. Pesquisas no ar, água, sal e frutos do mar sugeriram que crianças e adultos podem ingerir mais de 100.000 partículas de microplásticos a cada dia.

Uma sociedade de baixo desperdício pode ser alcançada por meio de avanços em biomateriais, que têm implicações amplas, da indústria da moda à medicina e da eletrônica à fabricação de automóveis. Micróbios e enzimas de bioengenharia podem decompor todas as formas de resíduos, recicláveis ou não, reduzindo a poluição plástica e melhorando a qualidade de vida e a saúde. Novos biomateriais biodegradáveis, ou fáceis de reciclar, podem ser usados em uma variedade de aplicações em vez de metais e plásticos.

Os avanços em bioengenharia e biologia sintética também podem permitir que casas e edifícios sejam equipados com sistemas completos de eliminação de resíduos que recuperam energia e reduzam materiais em componentes biodegradáveis ou reutilizáveis, como fibras impressas em 3D. Eles podem ajudar a eliminar resíduos nocivos – como microplásticos – e a necessidade de aterros sanitários e incineradores. Os sistemas de resíduos municipais estão sendo pesquisados para, futuramente, se concentrar na coleta apenas de resíduos valiosos e no gerenciamento de bio-organismos que podem ser liberados na biosfera.

Os incrementos na Governança Socioeconômica e Ambiental ESG – enfatizo socioeconômica como fidúcia para a sustentabilidade – servem como guias para soluções criativas efetuando mudanças. “Os temas ESG continuam sendo prioridade para os acionistas que estão demandando que as empresas incorporem essas questões em suas estratégias de longo prazo”, informa a PwC. Nessa era de novas governanças, micróbios e enzimas comedores de plásticos, mesmo invisíveis a olhos nus, têm grande importância e já entraram, silenciosamente, nas pesquisas das gigantes do setor petroquímico.

A alemã Basf, originalmente Badische Anilin & Soda Fabrik, fundada em 1865 para produzir corantes sintéticos para tecidos, hoje declara que “a sustentabilidade está no centro do que fazemos, um motor de crescimento e também um elemento de nossa gestão de risco”. Ancorada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e ESG, “A BASF segue firmemente no seu propósito de criar química para um futuro sustentável”, afirma Manfredo Rubens, presidente da Basf para a América do Sul.

A americana Dow foca, como parte das metas de sustentabilidade e avanços na economia circular, publicadas nos relatórios ESG, na redução de emissões de carbono, do lixo plástico e no desperdício, comprometendo-se na coleta de 1 milhão de toneladas métricas de plástico, reutilizadas ou recicladas por meio de ações diretas ou parcerias até 2030, viabilizando 100% dos produtos vendidos nessas embalagens recicladas até 2035. Até 2030, a Dow informa que reduzirá suas emissões anuais líquidas de carbono em 5 milhões de toneladas em relação a 2020 (redução de 15%) e, até 2050, pretende ser neutra em carbono.

A holandesa Lyondellbasell, promovendo a circularidade e a ESG, mostra que para cada dólar que investe em fundos de risco abordando o desafio do lixo plástico, ajuda a catalisar outros 5 dólares de co-investidores, comprometendo-se a produzir e comercializar anualmente dois milhões de toneladas métricas de polímeros reciclados, de base renovável, até 2030 e perda zero de pellets de plástico nas operações. Usando tecnologia própria devolve resíduos plásticos à sua forma molecular, usando-a como matéria-prima para novos materiais. No processo de reciclagem mecânica produz pellets de plástico a partir de resíduos.

Maior produtora de resinas termoplásticas das Américas, e maior produtora de polipropileno dos EUA, atendendo clientes em mais de 70 países, a brasileira Braskem, alinhando-se a ESG, firmou compromissos para reduzir o desperdício plástico, desenvolvendo e disponibilizando 300 mil toneladas de produto com conteúdo reciclado para clientes até 2025, expandindo para 1 milhão de toneladas até 2030. Estimulando o mercado, vem incentivando organizações que mantém negócios com a empresa a adotarem as melhores práticas ESG, e reconheceu boas práticas em 24 empresas, de diversas nacionalidades, no prêmio "Braskem Supplier Sustainability Recognition ".

Segundo o Banco Mundial, o Brasil, maior biopotência global – inclusive em microorganismos – também é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás dos Estados Unidos, China e Índia. Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), e apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas e reprocessadas na cadeia de produção como produto secundário.

Eduardo Athayde é diretor da Rede WWI no Brasil. [email protected]