'Mineração como um todo teve um ano tumultuado', afirma presidente da CBPM

Em entrevista, Antonio Carlos Tramm analisa as perspectivas de crescimento do setor na Bahia e fala sobre o futuro da mineração

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 05:45

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Mesmo em um ano de grandes dificuldades para a mineração brasileira, a atividade cresceu na Bahia. Novas descobertas foram anunciadas. Minas que estavam fechadas reabriram. Para o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antonio Carlos Tramm, este  cenário tem tudo para se repetir no próximo ano. Hoje, quando a empresa estadual completa 47 anos, ele vê perspectivas para muitos anos de novas descobertas. 

Qual é o balanço da mineração baiana em 2019? A mineração como um todo teve um ano tumultuado por causa do evento de Brumadinho, que foi uma continuação de Mariana. Isso é algo que prejudicou a mineração como um todo. Mas no caso da Bahia, o estado tem andado com as suas diversas empresas. Temos dois casos que nos animam muito. A Vanádio ampliou a produção em Maracás. E ao mesmo tempo está pesquisando novas áreas,  novas atividades. Vale ressaltar o trabalho desta empresa com os seus operários e a comunidade. Tivemos também em Itagibá, a retomada da mina de níquel, que passou por descontinuidade, mudanças na administração, de conceitos, se reformulou e agora começou novamente a funcionar. Outra coisa importante é que vimos avançar o projeto de ferro da Bahia. Temos também investimentos da Anglo, em Santa Luz, que deve voltar a produzir em breve. Estamos falando de empresas grandes, mas há casos também de pequenas empresas, como a B4F, que sozinha deve gerar 60 postos de trabalho para produzir nefelina em Itarantim. 

Essas notícias são fatos isolados, ou podemos falar em uma retomada? Acho que é uma retomada sim. O processo de mineração segue passos. Depende muito da situação da economia nacional e internacional. Isso tudo reflete. Tivemos um momento de calmaria nos preços e recentemente tivemos uma melhora. Isso dá ao investidor a perspectiva de voltar a investir. No caso da Bahia, temos um processo de estabilização para cima nos preços dos minérios. Estamos iniciando um outro projeto muito interessante, da Fosnor, na região de Irecê, para a produção de fosfato. Tudo isso são bons sinais. Claro que poderia ser melhor se o andamento da economia fosse melhor. O investidor na área analisa as condições a longo prazo.  

Este ano, a CBPM lançou três novos editais. Como foi a receptividade do mercado?  A CBPM não ficou parada, foi à luta, em busca de resultados. Somos uma empresa que em 47 anos produziu muita informação importante para a mineração, como uma fomentadora. Agora, buscamos transformar esse tesouro acumulado em resultados. Concluímos duas destas licitações, já com contratos assinados. Uma foi em Lapão, para fosfato. A empresa está muito animada e vai investir mais R$ 7 milhões, porque tem interesse em antecipar o resultado. A outra licitação foi para a área de ouro, em Iramaia. Os estudos complementares devem se iniciar em janeiro. Esses investimentos tem tudo para serem implantados e isso é importante para a economia, porque muitos destes projetos se encontram no semiárido. 

O minério está disponível em locais com poucas perspectivas econômicas. Como utilizar bem este potencial?  A gente precisa trabalhar com muito afinco para enfrentar a burocracia, para enfrentar tudo e tornar esse potencial em realidade. Existem projetos pequenos que para uma cidade como Salvador ou São Paulo podem não significar muito, mas para municípios pequenos é renda, é a economia funcionando. Olha o exemplo do crescimento de Maracás com a implantação da Vanádio. A Atlantic Nickel, por exemplo, investiu milhões em sua retomada. Mas além disso, ela é essencial para Ipiaú e Itagibá, porque são mais de 500 empregos. O setor de serviços floresce. 

Qual é a importância da mineração para a Bahia hoje e quais são as perspectivas?  Olha, hoje a importância já é muito grande. Mas com a conclusão da Fiol e do Porto Sul vamos atingir um outro patamar. Estamos falando da movimentação de 40 milhões de toneladas de minério de ferro. E estamos falando só do que já está certo. Ainda tem todo um potencial a se desenvolver. Tudo o que se viu recentemente vai se repetir em diversos outros lugares com proporção maior. Claro que isso exige muita determinação e política de governo. E ainda tem uma outra possibilidade, se houver investimentos na FCA (Ferrovia Centro-Atlântica), de outro grande projeto. Ficamos muito para trás no que diz respeito à logística, mas temos um potencial muito grande, com mais de 40 produtos disponíveis. 

Qual é o futuro que o senhor enxerga para a CBPM? Estamos trabalhando muito nos chamados minérios para o futuro. Isso não quer dizer que podemos esquecer o que já está aí. Não podemos abrir mão de nada. Estamos numa região subdesenvolvida e a mineração tem potencial para transformar essa realidade. A CBPM é uma empresa de pesquisa. As informações que nós disponibilizamos para a sociedade permitiram a descoberta da mina de ferro que hoje é da Bamin. As informações saíram da CBPM. Somos uma empresa que fomenta a atividade da mineração. Nós estamos fomentando a descoberta do minério do futuro, como o nióbio e as terras raras, porque há uma necessidade da sociedade. As perspectivas são muito grande porque temos que trabalhar pelo desenvolvimento da mineração. Nós estamos no início da cadeia e temos que discutir muito inovação e tecnologia, para baratear os custos de implantação de jazidas. Temos um patrimônio grande aqui, que é a nossa litoteca, reunindo todo o nosso material de pesquisa. 

Quantas licitações estão previstas para 2020? Como sempre fui um otimista, estou trabalhando com a possibilidade de cinco. Gosto de ter os pés na terra e cumprir metas. Temos na área de ouro, cobre, fosfato, cobalto e outros.