Ministério da Saúde adverte: o momento é contraindicado para engravidar

Variante é mais agressiva em gestantes e puérperas; mortes em 2021 representam 79% do total de 2020

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  • Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Johannes EISELE/AFP

O medo de ter filhos atormentou milhares de mulheres a partir de 2015, quando a epidemia de zika no país começou a deixar um rastro de bebês nascidos com microcefalia causada pela doença. Seis anos depois, há motivos bem maiores para alimentar o mesmo pavor. Na sexta-feira, o secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Raphael Câmara, disse que uma variante do coronavírus se revelou mais agressiva em gestantes e recomendou adiar a gravidez enquanto a pandemia se mantiver em níveis críticos.

O alerta foi feito durante entrevista coletiva e reflete, segundo Câmara, avaliações de especialistas que sugerem gravidade elevada da variante em gestantes, embora afirme ainda não haver evidências científicas robustas sobre o efeito. “Estudo nacional ou internacional não temos, mas a visão clínica de especialistas mostra que a variante nova tem ação mais agressiva nas grávidas“, emendou o secretário do Ministério, sem especificar a que tipo se referia ou ainda se há mais de um entre tantos que circulam no Brasil. Câmara disse que a pasta está trabalhando para fomentar e realizar pesquisas acerca do atual impacto sobre esse grupo de mulheres.  

"A recomendação, caso possível, é postergar um pouco a gravidez para um melhor momento. Na época do zika, teve uma diminuição (das gestações) no Brasil e depois aumentou, é normal. É óbvio que a gente não pode falar isso para quem tem 42, 43 anos, mas se for uma mulher jovem que pode escolher um pouco o momento de engravidar, o indicado é esperar um pouquinho até a situação ficar mais calma", destacou, ao apresentar dados que reforçam o alto risco para gestantes em meio à segunda onda da covid. Crescimento súbito

No país, o número de mortes de grávidas e puérperas provocadas pela doença em 2021 já representa cerca de 79,3% do registrado em todo o ano passado. Segundo balanço divulgado pelo ministério na coletiva de sexta, enquanto em 2020 foram notificados 546 óbitos nesse grupo, desde janeiro ocorreram 433 casos. "Antes, (a gravidade da doença) estava ligada ao final da gravidez. Agora, há uma evolução mais grave no segundo trimestre e até no primeiro”, acrescentou.

Na primeira onda, a preocupação com gestantes era menor em comparação aos idosos e portadores de comorbidades. O panorama, contudo, mudou. Prova  disso é o perfil de pacientes em UTIs. A soma de jovens internados, incluindo grávidas, segundo estatísticas divulgadas no início do mês pela Fiocruz, cresceu mais de 500% de janeiro a março.

Em fevereiro, pesquisa da Universidade de Washington publicada na revista American Journal of Obstetrics and Gynecology apontou que a covid é 70% mais frequente em gestantes do que em mulheres da mesma faixa etária. Já um estudo do  Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) revela que as chances de uma grávida ser internada em UTI e intubada são, respectivamente,  62% e 88% maiores. Sinais bastante claros de que o momento é contraindicado para gestação.433 grávidas ou puérperas  morreram por causa da covid no Brasil desde janeiro deste ano. Total já representa 79% dos 546 óbitos registrados ao longo de 2020Ministério cogita ampliar vacinação emergencial da covid às gestantes

A vulnerabilidade das gestantes levou o Ministério da Saúde a preparar um pacote de medidas de emergência para protegê-las do alto risco que elas enfrentam na pandemia. Embora tenha recomendado prioridade na vacina pata grávidas e puérperas com fatores de risco, o Ministério da Saúde disse que estuda ampliar a imunização emergencial para todas as mulheres que esperam bebê ou estão no período pós-parto .

“Especialistas do Brasil pedem com bastante força que todas entrem (no grupo de risco). Nós estamos em tratativas avançadas, mas é importante lembrar que a gestação é um período trombótico. A gente tem que ter muito cuidado, porque algumas vacinas, mesmo de forma muito rara, têm mostrado efeito colateral. Qualquer recomendação tem que ser feita com muito cuidado para não errar”, disse o secretário de Atenção Primária do ministério, Raphael Câmara.

Na coletiva, ele anunciou uma portaria que vai destinar R$ 247 milhões para apoiar estados e municípios a implementarem  medidas de proteção a grávidas. A quantia pode ser utilizada para hospedagem de gestantes e puérperas que não possuem condições de isolamento domiciliar, reforçar a identificação precoce e monitorar grávidas com casos confirmados ou suspeitos de covid.