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Da Redação
Publicado em 14 de setembro de 2019 às 10:32
- Atualizado há 2 anos
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi pressionado pela imprensa estrangeira sobre suas posições a respeito de mudanças climáticas e sobre a mensagem que o presidente Jair Bolsonaro levará sobre a Amazônia na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), no próximo dia 24. Uma entrevista coletiva do chanceler brasileiro em Washington teve questionamentos sobre proteção ambiental e sobre a negação da gravidade da mudança climática. Nas respostas, ele teve dificuldade em explicar as medidas de apoio dos Estados Unidos para a Amazônia.>
A primeira pergunta, feita por jornalista do Los Angeles Times - 3º maior jornal americano - foi por que o ministro falava em medidas de desenvolvimento da Amazônia e não de proteção da floresta. Durante a entrevista a repórteres brasileiros e estrangeiros, no National Press Club, Araújo afirmou que o Brasil quer discutir "formas de impulsionar o desenvolvimento sustentável na Amazônia com participação de estrangeiros e instituições internacionais. Esse, segundo ele, é o mote de suas reuniões em Washington com as presidências do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).>
Na sequência, a jornalista perguntou sobre o fato de o chanceler brasileiro negar que as mudanças climáticas sejam um problema grave. O chanceler afirmou que o "melhor jeito de defender a floresta amazônica é o desenvolvimento da região" e voltou a dizer que existe "uso ideológico" da mudança climática e que o Brasil foi vítima desse tipo de "histeria", no debate sobre as queimadas na Amazônia.>
"Toda a conversa sobre questionar a soberania brasileira sobre a Amazônia vem desse tipo de histeria, na qual você supõe que há uma enorme crise climática (...) então talvez isso possa nos levar a intervir externamente na Amazônia, por exemplo. Vemos muito como isso funciona. Tiram as coisas de proporção e algumas pessoas ao redor do mundo defendem medidas que só podem ser contempladas em um estado de emergência", disse Araújo.>
"Como o quê?", questionou a jornalista.>
"Como intervir na soberania de um país, por exemplo", respondeu Araújo.>
"Intervir como?">
"Bem, limitando a soberania sobre seu território, que tem sido sugerido por alguns líderes no mundo", disse Araújo.>
"Você poderia nomear quem?", pediu a jornalista.>
"Teve um artigo na (revista) Foreign Policy advogando por isso", finalizou Araújo.>
Um artigo na revista Foreign Policy inicialmente intitulado como "Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia" não foi escrito por um líder mundial, mas pelo professor americano da Universidade Harvard, Stephen Walt. O título do artigo foi posteriormente alterado.>
Durante a semana, Ishaan Tharoor, do jornal americano The Washington Post, havia criticado Araújo nas redes sociais após assistir uma apresentação do ministro na capital americana na qual o brasileiro atacava o "climatismo". Na entrevista desta sexta, o jornalista perguntou se o Brasil levaria o mesmo discurso à ONU.>
Araújo afirmou que o Brasil quer enfatizar qual é a "real situação da Amazônia", repetindo que as queimadas estão na média, e que o fato de o tema chamar atenção é em razão da "ideologia" do governo Bolsonaro. "Governos de esquerda faziam qualquer coisa. Governos como o nosso atraem esse tipo de atenção negativa", respondeu o ministro. "É o tipo de coisa que desejamos expor", disse.>
Modelo de cooperação por meio de ONGs não é eficiente, diz ministro>
Ao falar sobre cooperação internacional para Amazônia, o ministro afirmou que "modelos hoje de cooperação através de ONGs" não são eficientes e enalteceu a parceria com os americanos, mas teve dificuldade de explicar as duas medidas coordenadas com os EUA para cooperação no combate às queimadas e preservação da Amazônia.>
"Nos EUA, nos parece que é algo mais próximo daquilo que concebemos como estilo mais eficiente de cooperação, que no caso é um fundo investimentos para projetos a partir da biodiversidade, que criem iniciativas de desenvolvimento sustentável", disse ele.>
Um diplomata da comitiva brasileira, sentado na primeira fila, passou informações ao ministro quando Araújo foi questionado sobre novidades na parceria com os EUA. O ministro está em Washington desde quarta-feira, 11, em reuniões com o governo americano.>
Araújo respondeu que os americanos ofereceram um time de especialistas e um avião especializado. Segundo o ministro, os peritos e o avião teriam chegado na sexta-feira, 13. O Ministério da Defesa informou no portal de notícias que peritos dos EUA chegaram na quinta-feira, 12. Não há menção a avião cedido pelos EUA.>
O ministro disse, na entrevista, não saber quanto tempo e onde ficarão baseados os especialistas americanos. Questionado, na sequência, sobre o que os especialistas farão, ele ouviu novamente um integrante da equipe antes de sua resposta e afirmou que os peritos trabalharão na investigação de incêndio. "Eu acho que (trabalharão) sobre a origem do incêndio, porque uma das principais questões é que não identificamos onde estamos lidando com ocorrências naturais e onde lidamos com ocorrências criminosas ou atividade humana, não necessariamente criminosa", disse.>
Araújo também não detalhou o que será o fundo privado à Amazônia O "fundo de investimento de impacto", no valor de US$ 100 milhões, liderado pelo setor privado, já havia sigo negociado na visita de Bolsonaro ao presidente Donald Trump, em março, e foi novamente anunciado pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, nesta sexta. O ministro pediu para um auxiliar passar mais informações sobre o fundo - e a resposta foi de que a montagem ainda está em estudo.>
Viagem foi a sexta de Araújo para os Estados Unidos>
Em pouco mais de nove meses de governo, Araújo, esteve seis vezes nos Estados Unidos, sendo cinco na capital americana. Nesta sexta-feira, 13, o chanceler teve sua quarta reunião com secretário de Estado americano, Mike Pompeo, para o que os dois países chamam de "Diálogo de Parceria Estratégica". Os dois tiveram trinta minutos de encontro privado e depois fizeram um pronunciamento à imprensa que repetiu a base do comunicado conjunto assinado pelos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro em março.>
Desde a ocasião, o governo brasileiro vem trabalhando para destravar relações comerciais com os americanos e mostrar o alinhamento com Trump. A boa vontade do Brasil se traduziu em interlocução frequente com a alta cúpula do governo americano, mas, como nas últimas passagens do chanceler pela cidade depois disso, não houve anúncio de medidas concretas.>
A retomada do 'Diálogo de Parceria Estratégica' entre os dois países, paralisado nos últimos sete anos, foi previsto na visita presidencial e serve para rever a agenda bilateral estabelecida pelos dois presidentes - e fazer o balanço do que saiu do papel. Seis meses depois do encontro dos dois líderes, os representantes da diplomacia do Brasil e dos EUA anunciaram, novamente, que os países vivem uma "nova era".>
"Quando o presidente Trump e o presidente Bolsonaro se reuniram na Casa Branca em março passado, eles se comprometeram a expandir e fortalecer nossa parceria estratégica. É por isso que hoje estamos realizando nosso primeiro diálogo estratégico em sete anos. Mas a mudança em nosso relacionamento é muito maior do que qualquer reunião ou conjunto de reuniões. Entramos em uma nova era profunda e importante nos laços EUA-Brasil", disse Pompeo. "Eu o vi outro dia na Casa Branca", completou o americano.>
Há duas semanas, o chanceler acompanhou o filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro, em uma visita relâmpago a Trump. Na ocasião, Araújo disse que a novidade do encontro com Trump era "a reunião em si". Desta vez, Araújo disse que sua frequência nos EUA "mostra claramente" o comprometimento de construir uma aliança forte com os americanos e disse que a reunião de "Diálogo Estratégico" era um "importante avanço".>
Araújo também esteve em conversas no com Robert Lighthizer, representante para o comércio internacional dos Estados Unidos, e com Wilbur Ross, secretário de comércio americano. Os dois países têm negociado medidas de facilitação de comércio e investimentos, para lançar um acordo de facilitação de comércio - a ideia é deixar discussão sobre redução de tarifas para o futuro e começar por medidas de desburocratização.>
Ainda há nós não desatados na relação comercial entre os dois países, como a reabertura do mercado americano para a carne bovina in natura brasileira. Depois da visita presidencial, os EUA concordaram em fazer uma inspeção no Brasil com intuito de abrir novamente o mercado para a importação de carne do País. Até agora, no entanto, as autoridades americanas não divulgaram o relatório da inspeção - que permitiria avançar no tema. No início do mês, o Brasil atendeu um pleito dos americanos para reavaliar a cota de importação de etanol imposta pelo Brasil. O movimento foi avaliado no Departamento de Estado dos EUA e na comunidade empresarial como um sinal concreto de que o País está disposto a negociar.>
No pronunciamento à imprensa feito no Departamento de Estado, Araújo disse que os "amigos dos Estados Unidos sabem que não são verdadeiras" avaliações de que o Brasil "não é capaz de lidar com o problema do desenvolvimento sustentável". Pompeo, por sua vez, não fez menções ao apoio americano ao governo Bolsonaro em meio à crise diplomática gerada após a repercussão internacional das queimadas na Amazônia.>
A única menção de Pompeo à Amazônia foi a reiteração sobre o fundo de investimento para a região, sem mais detalhes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.>