Modelos híbridos exigem cuidado com divisão digital

Novas formas de trabalho pedem mudança de mentalidade e investimento para evitar discriminação entre colaboradores

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 28 de junho de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Na pandemia, o home office feito dentro do que era possível para o momento deixou todo mundo em pé de igualdade. Com a flexibilização das medidas sanitárias, a adoção de regime híbrido de trabalho – que une o teletrabalho com o presencial – tem revelado uma necessidade nas corporações: igualar as condições de trabalho, evitando que os colaboradores fiquem em desvantagem por causa de seu local de trabalho, ampliando as melhorias na eficácia e na produtividade que modelos de trabalho mais flexíveis podem gerar. 

A diretora de vendas da Citrix Luciana Pinheiro acredita que para minimizar os aspectos negativos do modelo híbrido é fundamental o investimento em tecnologia aliado à criação de uma nova cultura corporativa que busque criar um ambiente de trabalho equitativo, além de contribuições que estimulem a inovação e o crescimento dos negócios. “O fato é que nos últimos anos, diversos estudos vêm mostrando que a experiência de trabalho tem um grande impacto no compromisso das pessoas com a empresa empregadora, na motivação e na produtividade”, afirma.

Para ela, é justamente por isso que as empresas devem manter a experiência do funcionário consistente, inclusiva e imparcial, esteja ele trabalhando em casa, do escritório ou de qualquer outro lugar a fim de garantir que nenhum funcionário fique em desvantagem por causa de seu local de trabalho. 

Modelos flexíveis

Entusiasta do modelo híbrido, o CEO da empresa de auditoria e consultoria BDO, Raul Corrêa da Silva defende que o principal cuidado é estar sempre atentos ao bem-estar dos colaboradores. Para ele, se existe uma lição que fica para o pós-pandemia, é que é possível ser produtivo mesmo sem estar 100% do tempo no escritório. “Neste sentido, é importante dar condições técnicas para que este colaborador trabalhe, as ferramentas necessárias, como computador, internet de boa velocidade, se certificar de que as condições de trabalho sejam boas”, defende. Raul Corrêa é defensor do regime híbrido de trabalho e reforça a importância de garantir equilíbrio na atuação de quem está em casa e de quem está no escritório (Foto: Divulgação) Para Corrêa, no presencial, é imprescindível adotar todas as medidas de segurança necessárias e buscar otimizar a as reuniões e treinamentos presenciais, para que se possa aproveitar ao máximo essa oportunidade de troca e convívio que são extremamente importantes para a construção da cultura de uma empresa.

O CEO da BDO enfatiza que uma das grandes vantagens do home office e o híbrido reside em poupar de deslocamento. “Muitas vezes a única opção do trabalhador é o transporte público, que em muitas cidades é falho, e desta maneira é possível um tempo útil com a família, aproveitar mais para cuidar da saúde, fazer exercícios, ler livros. Tudo isso mantendo a produtividade”, diz. 

Com uma posição parecida, Luciana Pinheiro defende que esse modelo possibilita maior convivência com a família, permite mais flexibilidade de horários ao trabalhador, dentre outros fatores. “Mas é claro que nem tudo são flores. Sentimos falta da interação social, da hora do cafezinho, do contato direto com colegas de trabalho, de não sermos interrompidos por familiares a todo momento, do barulho de obra do vizinho, e por aí vai”, completa, salientando que o trabalho híbrido vem dessa necessidade de um equilíbrio entre o home office e o modelo presencial, possibilitando que o trabalhador escolha trabalhar de qualquer lugar. Segundo pesquisa da Citrix “Born Digital Effect”, mais de 90% dos funcionários preferem um trabalho flexível e 82% das empresas planejam adotar modelos híbridos para acomodá-los e capitalizar os benefícios que esse trabalhador pode gerar. 

Divisão digital 

Para evitar que essas novas formas de trabalho criem uma divisão digital, que ocorre quando a empresa não oferece os mesmo recursos e ferramentas a todos os funcionários devido à opção de onde eles estão trabalhando, é fundamental que as organizações comecem a pensar e desenvolvam uma nova cultura corporativa. 

“Colocar o funcionário no ‘centro’, ou seja, como prioridade, é olhar em detalhe para dentro de cada empresa e desenvolver uma estratégia de gestão e de bem-estar digital. A partir daí, a tecnologia pode ajudar a economizar processos complicados, automatizar tarefas repetitivas, simplificar o acesso aos dados, facilitar a busca das ferramentas e acesso às informações”, defende a representante da Citrix.  Luciana Pinheiro defende que as organizações usem todas as ferramentas disponíveis para que os profissionais possam atuar de qualquer lugar com eficiência  (Foto: Divulgação) Ela orienta também que se permita personalizar o espaço de trabalho, simplificando o processo de login, mantendo elevados padrões de segurança e criando uma experiência de trabalho consistente - sem importar o dispositivo utilizado e o local onde cada pessoa está trabalhando. “Uma vez que o colaborador que trabalha do escritório possui melhores condições de ser produtivo e de desempenhar suas atividades do que o trabalhador em home office, cria-se uma inconsistência/desigualdade no ambiente corporativo que é possível ser evitada durante esse momento de transição”, ilustra. 

A representante da Citrix pontua ainda que um funcionário com habilidades para concluir suas tarefas, mas com poucos recursos para fazer o que é necessário pode vir a representar riscos para a saúde mental no trabalho que acabam evoluindo/colaborando para o aumento do estresse crônico, exaustão e esgotamento mental. 

Para confirmar suas impressões, Luciana cita a pesquisa One Year On encomendada pela Citrix em fevereiro deste ano com trabalhadores brasileiros, onde a distração do ambiente doméstico (51%); a falta de equipamento de escritório (35%);  a falta de tecnologias, aplicações e acesso a documentos / arquivos apropriados (32%) foram colocados como os s principais assassinos de produtividade no modelo home office. 

Cuidados

Raul Corrêa reforça que os gestores precisam ter em mente que não é porque o colaborador está trabalhando de casa, que ele não precisa de um suporte ou acompanhamento. “Na BDO, por exemplo, nós buscamos sempre tirar proveito do contato direto entre o nosso pessoal, independente do cargo ocupado. E eu acredito que este é um fator fundamental para garantir que o rendimento não caia e que todos consigam entregar com qualidade, o que é fundamental neste setor de serviços”, explica.

Luciana Pinheiro é adepta do espaço de trabalho universal ou anywhere office, um home office de qualquer lugar, para conquistar um espaço de trabalho digital e seguro, a tecnologia novamente compõe o principal alicerce para o funcionário poder exercer todo seu potencial, administrar sua rotina e entregar resultados sem o comprometimento da sua saúde mental. “Empresas precisam entregar ao mercado uma percepção do que a tecnologia pode oferecer no sentido das ferramentas disponíveis que ainda não são conhecidas de gestores e trabalhadores a fim de promover melhor experiência possível no novo modelo de trabalho e uma melhor experiência digital”, esclarece. 

Luciana enfatiza que inúmeras ferramentas disponíveis no mercado utilizam Inteligência Artificial e Machine Learning para ajudar o trabalhador a reduzir distrações como as mudanças de tela e criar um dashboard integrado com os avisos que ele realmente precisa, evitando assim uma sobrecarga de notificações e o uso de diversos programas para gerenciar suas tarefas. “Para atender a esta necessidade de manutenção de produtividade e da flexibilidade de horários a fim de acompanhar uma transformação digital com ênfase nas pessoas, mais ainda, com ênfase em uma nova cultura corporativa, é importante que o setor de RH tenha claro a real importância do alicerce tecnológico nesse contexto”, finaliza.