Moradores contam que terreno deu sinais antes de deslizar no Matatu

Havia rachaduras no asfalto e parte do barro já vinha cedendo a cada chuva

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 12 de maio de 2022 às 05:15

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Um deslizamento de terra atingiu casas no bairro do Matatu de Brotas, na madrugada de quarta-feira (11), por volta de 1h, na parte baixa da 3ª Ladeira de Santa Rita. O incidente não foi uma surpresa para os moradores, afinal, eles relataram que o asfalto já estava com rachaduras depois que construções irregulares foram levantadas na região. O local foi isolado após o acidente e ninguém ficou ferido.

O motoboy Luciano Roberto Araújo, 40 anos, no entanto, perde o sono toda vez que o céu fica carregado. Ele mora com a esposa e os cinco filhos atrás do barranco que deslizou sobre o imóvel de dois cômodos da família. Luciano foi cadastrado para receber aluguel social e deixar a casa. Outras famílias também passam por análise.

O morador ouviu o barulho e correu para ver o que tinha acontecido. Parte do barro encharcado pela água da chuva rolou a ribanceira e quase soterrou totalmente a parede dos fundos. A família saiu assustada, porém o imóvel não foi danificado na parte interior. Para deixar o aluguel, o motoboy começou a construir a casa há seis anos.“Hoje sou motoboy, trabalho em uma pizzaria, mas na época fazia bicos. Trabalhei como vendedor ambulante e reciclador, o dinheiro estava apertado para continuar pagando aluguel. Esse terreno estava abandonado e resolvi construir. Sei que o local não tem muita estrutura, é um terreno com muito barro, isso [deslizamento] poderia ocorrer, mas eu não tinha opção. Levantei dois cômodos, fiz um banheiro e estou morando com minha família”, explicou ele, com um filho caçula de apenas três meses.    Luciano mora com a esposa e dos cinco filhos no imóvel (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Vizinhos revelaram que o barranco já vinha dando sinais de que iria ceder. Segundo os moradores, devido ao vai e vem de caminhões que arrastam os fios, o asfalto tem rachaduras e postes estão inclinados. A pensionista Maria das Graças Freitas, 65 anos, mora há 38 anos em frente a região onde houve o acidente acredita que a chuva, a instabilidade do terreno e o trânsito de veículos pesados colaboraram para esse resultado.

“Essa sempre foi uma via estreita por onde passavam apenas pedestres, vez ou outra descia um carro. Há dez anos, a pista foi alargada, colocaram asfalto e os carros começaram a usar com frequência, mas não apenas carros pequenos, muitos caminhões pesados passam por aqui. Começaram a surgir buracos e rachaduras no asfalto. Nessa madrugada, um caminhão passou pouco antes do acidente acontecer”, disse. Casas foram construídas de maneira irregular (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Em nota, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) informou que está avaliando a situação e durante a madrugada fez vistoria no local. Uma estrutura emergencial está sendo construída para proteger o talude que suporta a pista e, em seguida, será colocada lona. O diretor geral da Codesal, Sosthenes Macedo, destacou outras ações realizadas pelo município para enfrentar o mau tempo típico desse período do ano.

“São 225 geomantas já instaladas e mais de 100 execuções de contenção de encostas, investimentos feitos pela prefeitura para proteger vidas. Isso se soma as outras ações de prevenção”.

Ele ressaltou ainda o trabalho das equipes nas ruas, com engenheiros, arquitetos e técnicos, além da capacitação de moradores, adultos e crianças nas regiões mais vulneráveis da cidade. “É uma soma de ações e de fatores que possibilitam termos segurança nesse período mais chuvoso, além das execuções de macrodrenagem em diversas áreas da cidade”, finalizou o diretor.

Até quarta-feira, choveu 91,8 mm em Salvador. Para maio, são esperados 302,2 mm. As chuvas na capital e Região Metropolitana estão sendo provocadas por uma frente fria vinda do Sudeste. Segundo o Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil de Salvador, a tendência é de tempo mais firme nos próximos dias.

Mês de abriu fechou com 680 benefícios para famílias atingidas

Segundo informações divulgadas pela Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer – Sempre, o  balanço do mês de abril fechou com a concessão de 680 benefícios para pessoas atingidas pelas chuvas e/ou que moram em áreas de risco em Salvador. 

A divisão ficou da seguinte forma: 129 Auxílios Emergência de 1 salário mínimo; 32 Auxílios Emergência de 2 salários mínimos; 15 Auxílios Emergência de 3 salários mínimos; 325 Auxílios Moradia por necessidade de evacuação temporária; 160 Auxílios Moradia por evacuação temporária até sanar risco e 19 Auxílios Moradia por necessidade de relocação/demolição. 

O Auxílio Moradia, vale lembrar, é o benefício concedido para contribuir para que famílias que residem em imóveis em situação de risco e vulnerabilidade possam alugar uma moradia segura. No valor de R$ 300, o benefício é pago pelo período estimado pelo laudo da Defesa Civil, que indica a necessidade de afastamento temporário ou definitivo.

Já o Auxílio Emergencial tem como objetivo garantir aos cidadãos e às famílias que comprovadamente sofreram perdas decorrentes de desastre ou calamidade pública o reestabelecimento das condições mínimas de sobrevivência, não excedendo valor de três salários mínimos. Para a concessão, a residência passará por laudos técnicos.