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Moradores de Santo Amaro souberam do surto de sarampo pelo whatsapp


 

Muitos pensaram que era 'fake news', mas tiveram a confirmação nos noticiários

  • Hilza Cordeiro

Publicado em 03/10/2019 às 06:00:00
Atualizado em 20/04/2023 às 08:25:08

Foi por mensagem de WhatsApp que o aposentado Adailton Pereira, 59, soube sobre os casos de sarampo confirmados em Santo Amaro. “Eu fiquei assustado porque a gente sabe que o ‘zap’ tem muita mentira, então liguei para a Sesab e depois a secretaria municipal confirmou”, conta.

Quando atendeu o telefonema da reportagem do CORREIO, nesta quarta-feira, dia 2, Adailton estava saindo de casa para tentar vacinar a neta de 10 anos numa clínica particular. A imunização fora do sistema público foi orçada em R$ 120. “Não vou aguardar porque ela precisa ir para o colégio e saúde é importante”, disse.

No caminho, resolveu tentar no posto de saúde e descobriu que a criança já estava protegida, pois tinha tomado a primeira e segunda dose da vacina tríplice viral. “É importante a gente saber disso. O povo precisa de informação”, comentou.

No fim das contas, o aposentado foi quem necessitou ser imunizado e disse ter encontrado uma fila grande, com cerca de 45 pessoas. Ainda segundo Adailton, no mesmo dia uma agente de saúde ligou para sua enteada querendo saber se a família já tinha se vacinado. O aviso dado pela agente foi para que as crianças fossem levadas ao posto naquela tarde.

Notícia na TV

Mestrando em Salvador, o biotecnologista santoamarense Felipe Araújo, 24, também só soube dos casos ontem, através de uma matéria no jornal Bahia Meio Dia. Felipe costuma viajar para a cidade natal nos finais de semana e essa é justamente uma das preocupações da Sesab, uma vez que o fluxo de migrantes não vacinados pode potencializar os riscos de disseminação do vírus. “A população não sabia desse surto e a prefeitura não está tocando no assunto. Em Santo Amaro não existe um veículo local forte, então as pessoas sabem o que acontece na cidade através do boca a boca ou via WhatsApp. Então quase sempre não é confiável. Temos rádio local, mas nunca vi ninguém sintonizado. Quando notícias referentes à cidade saem em jornais como o CORREIO e programas de TV, isso tem um impacto maior”, defende Felipe.O biotecnologista conta que já precisou desmentir uma falsa notícia sobre vacinas num grupo de WhatsApp da cidade. O conteúdo dizia que vacinas causavam autismo e danos à saúde. “Sempre aparece alguém compartilhando fake news sobre vacinas e remédios contaminados.  O governo parou de falar sobre o sarampo e outras doenças que são imunizadas pela tríplice viral. Esse fator, associado às fake news, levou muita gente a deixar de tomar vacina”, acredita.

Via WhatsApp

Moradora do bairro Nova Santo Amaro, a marisqueira Regina Pereira, 39, ainda não tinha tomado conhecimento dos registros da doença infecciosa. “Não sabia não. Tem um ano que eu tive catapora e meus três filhos também. Sarampo e catapora é quase a mesma coisa. Quando eu tive, estourou meu corpo inteiro, tive que ir para São Francisco do Conde me tratar”, conta ela, que hoje está imunizada pela tríplice viral.

Catapora e sarampo costumam mesmo ser confundidas, mas a segunda é considerada grave, pois seu vírus é mais agressivo e afeta a resistência do paciente, o que pode comprometer diversos sistemas como o respiratório e o gastrointestinal.

A bancária Jaqueline Farias trabalha há quatro anos em Santo Amaro e também ainda não tinha ouvido falar sobre os casos. “Vejo internet, televisão, mas não soube”, disse. Um colega que estava com ela, no entanto, informou que recebeu, via WhatsApp, um comunicado de um médico da cidade alertando sobre o surto. 

Vacina evita aumento de casos

O infectologista e coordenador do comitê de arbovirose da Sociedade Brasileira de Infectologia, Antonio Bandeira, afirma que deve-se estender o alerta para o surto de sarampo em todo o estado. 

“A pessoa infectada pode visitar outros locais. Salvador tem uma atenção particular por estar muito próximo de Santo Amaro e existir um fluxo muito grande entre as cidades”, explicou.

Para o médico, a ocorrência de um surto é preocupante e agora é hora de identificar os casos e as pessoas que entraram em contato com os enfermos para coibir a expansão da doença. “O sarampo é altamente transmissível, a forma de conter isso é a vacinação de quem teve contato. Se essas pessoas forem vacinadas em três dias, elas não vão apresentar a doença”, diz o médico.Bandeira ainda explica que crianças menores de cinco anos e os idosos são as faixas etárias com maior risco de apresentar complicações. Além deles, as grávidas também devem se atentar para não contrair a doença. 

“É fundamental que as pessoas tomem as doses de vacina contra o sarampo necessárias para a proteção. Se já teve pelo menos duas doses documentadas no calendário vacinal ou já teve sarampo, ela não precisa se vacinar. Se a pessoa não lembra, se já pegou sarampo ou só teve uma dose, ela tem que tomar pelo menos um reforço no momento”, disse. 

Para se imunizar contra o sarampo, o paciente deve tomar a tríplice viral, que também protege contra a caxumba e a rubéola.