Moradores do Parque São Cristóvão contam prejuízos após alagamentos

“Tive que entrar em casa com a água quase no meu pescoço”, afirmou moradora

  • Foto do(a) author(a) Daniel Aloísio
  • Daniel Aloísio

Publicado em 15 de maio de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Cercado pelo Rio Ipitanga, os moradores do Parque São Cristóvão viveram dias difíceis nessa semana. Pelo menos desde a madrugada de segunda para terça-feira (12), as ruas do bairro ficaram alagadas com os nove dias seguidos de chuva que atingiram Salvador. Com a quarta-feira sendo o dia mais chuvoso do mês de maio, o transbordamento do rio dificultou o escoamento da água.

“Ontem eu tive que entrar em casa com a água no meu pescoço. Hoje eu saí e ela ainda estava na minha canela”, disse a moradora Maria Célia, 49 anos e 1,60 metro de altura. Ela vive com dois filhos e dois netos na Rua Bela Vista. O rio Ipitanga corre no fundo dessa casa, segundo a moradora. “Sempre há o período de cheia do rio, mas nos últimos anos o alagamento tem sido mais intenso”, confessou.  

Outro morador afetado foi Alberto de Jesus, 36 anos. A sua casa é dividida em dois pavimentos. No primeiro, onde ele mora com a esposa e dois filhos, a água invadiu, levando embora alguns pertences. No segundo, de menor área, vive somente a sogra. “Não tínhamos como ficar todo mundo no primeiro andar. Eu tive que vir para a casa da minha irmã, e minha esposa foi para a casa da irmã dela com a nossa filha. Minha sogra ficou com o meu filho, que é especial”, disse.   Na manhã de quinta-feira, ainda tinha água nas ruas do Parque São Cristóvão (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Alberto alegou também que seu filho autista precisa de duas consultas semanais para seu desenvolvimento. Nesta semana, porém, o menino não pôde sair de casa. “Isso é ruim, pois retarda o desenvolvimento dele, mas não tenho como expor meu filho a essa situação”, disse.  

Moradores relataram que já receberam visitas de agentes da Companhia de Desenvolvimento Urbano (Conder). “Eles disseram que iam tirar a gente de lá, mas até hoje não fez nada. Não sei como isso funciona, mas outras pessoas da rua já saíram graças a ação deles. Eu não tenho outro lugar para morar, ali foi onde achei para fazer minha casinha”, disse Alberto.  

A assessoria da Conder explicou que fez uma intervenção em pontos do bairro que sofrem com esse problema, remanejando 89 famílias que receberam unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida. Uma outra família recebeu indenização e não há previsão de que haja novos remanejamentos na área. 

O que causa o alagamento?      

A assessoria da Secretaria de Manutenção de Salvador (Seman) informou que realiza constantemente a limpeza do canal do Rio Ipitanga, na parte de Salvador, para manter o fluxo hidráulico, ou seja, permitir que o rio siga seu percurso natural com facilidade. A última limpeza foi iniciada no dia 22 de abril. 

Após passar pelo Parque São Cristóvão, o rio segue em direção a itinga, bairro que fica entre Salvador e Lauro de Freitas. Depois, as águas do Ipitanga encontram com outro rio, o Joanes, na região do Condomínio Parque Encontro das Águas, no bairro de Portão, em Lauro de Freitas, para finalmente desaguar no mar, na praia de Buraquinho. Casos de alagamentos constantes também foram registrados em Lauro de Freitas.  Lixo encontrado no rio Ipitanga, no dia 23 de abril, pela equipe da Seman, que alega ter feito a limpeza do local (Foto: Divulgação) A assessoria da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) informou que, desde quando foi construída, em 1935, a comporta da barragem Ipitanga I sempre precisou ser aberta no período de cheia para evitar o seu rompimento. “Como os moradores alegam que os alagamentos ficaram mais fortes nos últimos anos, é provável que o Rio Ipitanga tenha sofrido alguma intervenção que favoreça isso. É preciso uma investigação”, disse. 

Já a Conder explicou que realiza, na região de Lauro de Freitas, obras de macrodrenagem nos rios Ipitanga e Joanes, mas que tais intervenções não favorecem o aumento do alagamento na região. "Pelo contrário, quando concluída, a obra vai evitar enchentes que prejudicam os moradores do entorno dos rios em época de chuva. A ideia é reter a água em seis reservatórios com capacidade de quase 1,5 milhão de metros cúbicos, dando vazão à água de forma controlada e paulatina, sem causar alagamentos", disse a assessoria, que destacou ainda não ter responsabilidade sobre todo o Parque São Cristóvão. Não foi dada uma previsão de conclusão da obra.

A água no bairro só foi secar no final da tarde dessa quinta-feira, mais de 48h após o início do alagamento. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), até as 19h dessa quinta, foram registrados apenas 4,2 milímetros de chuva na estação de Ondina. Nada comparado aos 75,6 milímetros de chuva que caíram ontem. O volume foi superior ao de todo o mês de janeiro (74,8 milímetros) e fevereiro (46,4 milímetros), ainda segundo os dados do Inmet. Para esta sexta-feira, a previsão é que o dia seja nublado a parcialmente nublado, com previsão de chuvas isoladas.