Moradores e autoridades criticam desobrigação do uso de máscara em Brumado

Governo Estadual e moradores consideram decisão precipitada

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  • Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2021 às 18:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Prefeitura de Brumado

A ação da prefeitura de Brumado, no Sudoeste da Bahia, de determinar o fim do uso obrigatório de máscaras em ambientes abertos e fechados da cidade não foi bem recebida pelo Governo Estadual e por moradores da cidade. Ficam fora da decisão somente as escolas públicas e privadas da rede municipal. E quem tiver sintomas de gripe e de covid-19, vai ter que utilizar o equipamento de proteção em todos os lugares. O decreto foi publicado na última terça-feira (19) no Diário Oficial do Município.

No documento, a prefeitura justifica a decisão pela diminuição do número de casos nos boletins diários, pela ausência de registro de mortes desde o dia 3 de setembro deste ano e pela taxa de vacinação na cidade: já foram imunizadas com a primeira dose cerca de 88% da população com mais de 12 anos e 58% com a segunda dose. 

“O estado da Bahia já liberou até eventos. Então nós, da prefeitura, entendemos o decreto como uma decisão estritamente administrativa que reflete a situação da pandemia aqui”, explica o Secretário Municipal de Saúde, Cláudio Feres. A prefeitura já desativou a UTI e a UPA exclusivas para casos de coronavírus, num movimento iniciado em setembro. 

De acordo com dados do boletim da Secretaria de Saúde de Brumado e da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), desde o início da pandemia, a cidade acumulou 9.865 casos confirmados de covid-19 e 197 óbitos. Com cerca de 67 mil moradores, a cidade ocupa o 5º lugar no ranking baiano de incidência de casos a cada 100 mil habitantes. No último dia 19, Brumado tinha nove casos ativos. No dia 13, eram 14 casos. Já no dia 4, eram 21. 

Para o secretário municipal, a pandemia está estabilizada na cidade. “Estamos há mais de um mês sem resultados positivos em exames de RT-PCR”, afirma. No entanto, Brumado continua registrando casos de covid-19, mesmo que em menor quantidade. O secretário argumenta que esses resultados vêm do exame de antígeno, o chamado teste rápido. “Fica a dúvida se os pacientes estão de fato sendo contaminados ou se são falsos positivos”.

Na terça-feira (19), ao comemorar a marca de dois milhões de baianos vacinados contra o coronavírus, a Secretária interina de Saúde da Bahia, Tereza Paim, disse que o decreto da prefeitura de Brumado é precipitado. “Estar vacinado não quer dizer que a gente pode estar desprotegido. Apenas depois que a maior parte da população estiver vacinada com as duas doses, mais de 80% da população, é que a gente vai poder começar a pensar de que maneira e em quais locais poderemos estar sem máscara, preferencialmente em locais abertos”, defendeu. 

O governador interino da Bahia e presidente da Assembleia Legislativa, Adolfo Menezes (PSD), afirmou nesta quarta (20) que não concorda com a medida, mas irá respeitar. 

“Estamos em uma democracia e todos os gestores são livres para determinar suas políticas, mas eu acredito que ainda é prematuro. Na Bahia, nós acreditamos na ciência, e a ciência diz que a pandemia tem diminuído na medida em que a vacinação avança, mas nós não podemos relaxar com as medidas”, disse.

Alguns moradores de Brumado também não receberam muito bem a decisão. Para uma psicóloga da cidade, que preferiu não ter o nome revelado, a gestão municipal deveria ser mais cautelosa. “É um absurdo. Precisamos nos prevenir o quanto pudermos e lembrar que Brumado foi uma das cidades onde houve mais vítimas da covid-19 por habitantes”, coloca. Ela, que perdeu cinco familiares para a doença, ainda reforça que faz questão do uso da máscara. “A pandemia deixou muitas feridas e perdas, inclusive para mim. Por isso, acredito que ainda não é o momento de retirar as máscaras e exijo o uso no meu trabalho”, completa. 

A administradora financeira Marli Costa, concorda. Para ela, que trabalha em um hotel da cidade, o decreto arrisca a segurança e a confiança dos hóspedes. “A justificativa não pode ser embasada nos números atuais da cidade, já que recebemos muitas pessoas de todo o Brasil”, diz. 

Sobre as críticas, o secretário de saúde reafirma que o decreto não obriga as pessoas a não utilizarem máscara, mas dá a elas o direito de escolha. “Até mesmo porque já existem muitas pessoas frequentando bares e praias sem máscara. Nossa administração não quer enganar ninguém. Vamos fazer o que acreditamos e acreditamos no avanço da vacinação”, conclui. 

Infectologista alerta para importância da máscara 

Para a médica infectologista Clarissa Cerqueira, ainda é cedo para dizer se a decisão é acertada ou não.  “Precisamos observar e controlar o número de casos após a determinação. O ideal é analisar cada um período médio, em alguns meses, para voltar atrás ou não com a decisão”, opina.

Segundo Clarissa, quem optar por não usar mais a máscara na cidade deve estar ainda mais atento a possíveis sintomas gripais e respiratórios. “É bom observar se a pessoa está com algum sintoma, mesmo que seja de rinite ou sinusite. Espirrou? Usa a máscara”. 

Apesar de ser a primeira cidade a adotar a medida na Bahia, a decisão de Brumado não é inédita no Brasil. Com o avanço da vacinação e números em queda, ao menos 39 cidades brasileiras já retiraram a obrigatoriedade do uso de máscaras no país. No início do mês, foi a vez de Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro, divulgar a decisão. Com 929.449 habitantes, o município tem uma população muito superior aos 67.648 que correspondem aos moradores da cidade baiana. 

Procurada, a Procuradoria Geral do Estado afirmou que a invalidação da determinação pode ser determinada pelo Poder Judiciário, mas que a revogação do decreto cabe apenas a quem editou o ato, o Prefeito Eduardo Vasconcelos.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro