Morre Desmond Tutu, arcebispo da África do Sul e vencedor do Nobel da Paz

Tutu já esteve na Bahia onde foi homenageado pelo Olodum e Carlinhos Brown

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  • Da Redação

Publicado em 26 de dezembro de 2021 às 07:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: AFP

Morreu neste domingo, aos 90 anos, o ativista Desmond Mpilo Tutu. Eler era arcebispo da Igreja anglicana na África do Sul e vencedor do Nobel da Paz em 1984 pela luta contra o apartheid no país.

De acordo com a imprensa da África do Sul, o religioso foi diagnosticado com câncer de próstata no final da década de 1990 e foi hospitalizado várias vezes nos últimos anos para tratar infecções associadas a doença.“O falecimento do arcebispo emérito Desmond Tutu é outro capítulo de luto na despedida da nossa nação a uma geração de notáveis sul-africanos que nos deixou como legado uma África do Sul libertada”, disse o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa em comunicado. Nascido em lerksdorp, a oeste de Joanesburgo, em outubro de 1931, Tutu era filho de uma empregada doméstica e um professor. Seguindo os passos do pai, se formou  profissional de educação, mas desistiu da carreira por não concordar com a qualidade de ensino inferior oferecida para crianças negras.

Ele viveu por um período no Reino Unido e se casou em 1955 com Leah, com quem teve quatro filhos. Ordenado aos 30 anos, usou sua posição para defender sanções internacionais contra o apartheid e, mais tarde, para fazer lobby por direitos iguais para todos. Sua franqueza provocou a ira do governo sul-africano de minoria branca. Foi nomeado arcebispo em 1986, se tornando o primeiro negro no cargo na Cidade do Cabo. Tutu retirou-se da vida pública em outubro de 2010.

Movimento negro trouxe Desmond Tutu à Bahia para falar sobre racismo, em 1987 (Foto: Silfredo Freitas/Arquivo CORREIO)

Uma visita que durou pouco mais de três horas, em maio de 1987, transformou a história do Olodum e de sua luta contra o racismo e contra o Apartheid. E ainda ajudou a incluir no repertório do grupo uma música até hoje executada no encerramento de suas apresentações: Nkosi Sikelel’ iAfrika, o hino popular do Congresso Nacional Africano. O visitante que deixou tantas marcas foi o arcebispo da Igreja Anglicana Desmond Mpilo Tutu, conhecido mundialmente como Bispo Tutu.

Na ocasião da visita, o bispo tinha 56 anos de idade e, há três anos, havia recebido o Prêmio Nobel da Paz de 1984 por sua luta contra o Apartheid em seu país natal, a África do Sul. A visita em Salvador foi organizada por um coletivo de entidades negras, incluindo o próprio Olodum, o Ilê Aiyê, a Unegro e o MNU (Movimento Negro Unificado)."O Olodum fez parte dessa recepção, com a banda Olodum, com pronunciamento. E, ao mesmo tempo, cantamos uma canção muito interessante de um autor paulista chamado Branca di Neve. A canção se chamava 'Você sabe a cor de Deus?'. Essa visita foi importantíssima porque marcou o aprofundamento do Olodum com a luta contra o Apartheid e contra o racismo no mundo. Nós começamos a cantar o hino do Congresso Nacional Africano para encerrar os eventos em Salvador, começamos a cantar sempre", lembra João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum.Desmond Tutu foi, segundo João Jorge, a primeira personalidade da luta contra o Apartheid a estar com o movimento negro, em Salvador. Em 1991, veio Nelson Mandela, dois anos antes de também receber o Prêmio Nobel da Paz. Retornos Aquela foi a primeira, mas não a única visita do Bispo Tutu a Salvador. Em 2007, veio à cidade durante o Carnaval e fez uma visita ao Camarote 2222, de Gilberto Gil. "O Carnaval da Bahia é maravilhoso! É bonito ver pessoas de raças diferentes unidas pela música e pela dança. Todos viram um só!", disse, durante a festa. Bispo Tutu no Camarote Expresso 2222, ao lado de Gilberto Gil, no Carnaval de 2007 Foto: Luiz Fernando/Divulgação Anos depois, em 2015, o sul-africano escreveu uma carta a Gil e a Caetano Veloso tentando impeli-los a desistir de realizar o show da turnê Dois Amigos, um Século de Música, em Tel Aviv, Israel. Tutu disse que o povo palestino também vivia naquele momento um apartheid. “Você, Gil, até cantou para nós: “Tornai vermelho todo sangue azul”. Você cantou ao “Senhor da selva africana”, dizendo que ela era “irmã da selva americana”. Eu acrescento: nossas selvas também são irmãs do vale do rio Jordão ocupado, das oliveiras em Jerusalém e dos pomares cítricos da Terra Santa”, dizia a carta. Gil respondeu que os argumentos do bispo eram “fortes e verdadeiros até certo ponto”, mas afirmou que não considerava Israel uma sociedade de apartheid e que tinha empatia pelo povo. Caetano Veloso respondeu à carta: “Quando a África do Sul estava sob o regime de apartheid, e eu soube que artistas estavam se recusando a tocar lá, concordei como que automaticamente com tal decisão. A complicada situação no Oriente Médio não me mostra o mesmo tipo de imagem preto-no-branco que o racismo oficial, aberto, da África do Sul me mostrava então”.