Morre homem baleado em operação da Polícia Federal; família acusa erro

Márcio não era um dos investigados na operação, mas teria reagido à abordagem da equipe. A família nega

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  • Kivia Souza

Publicado em 16 de junho de 2015 às 13:01

- Atualizado há um ano

Morreu na manhã desta terça-feira (16) o homem baleado em uma operação da Polícia Federal, em Salvador. Márcio Neri dos Santos, 35 anos, foi atingido por agentes que realizavam a Operação Carga Pesada. Márcio não era um dos investigados na operação, mas, de acordo com agentes da PF, reagiu à abordagem da equipe. A família contesta a versão da Polícia Federal.Foto: Divulgação/Polícia FederalSegundo o delegado Tiago Sena, chefe do setor de comunicação da Polícia Federal, ao chegar ao local da investigação, por volta das 6h, os agentes constataram que havia uma pessoa armada. "A equipe se identificou e ordenou que ele baixasse a arma. Como ele continuou com a arma na mão, tanto para cumprir o dever, como para preservar a vida, os agentes tiveram de fazer os disparos", disse Sena.

Márcio foi atingido por tiros na região do tórax. Ele chegou a ser socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas morreu. A família de Márcio nega a versão da Polícia Federal e afirma que o rapaz não estava armado e foi confundido com o verdadeiro suspeito, que também mora no prédio.

"Eles bateram no apartamento 04 e a pessoa que eles queriam estava no 104. Eles erraram", disse Daiana Neri, irmão de Márcio, ao Correio24horas. Ainda de acordo com Daiana, Márcio trabalhava como motorista em uma empresa que presta serviços no Porto Seco Pirajá e atualmente estava de férias.

No momento da abordagem, ele estava sozinho em casa. "Tinha saído para deixar a filha na casa do irmão, a mulher saiu para trabalhar e ele voltou para dormir. Atendeu a porta ainda de cueca. Eles disseram que meu irmão abriu a porta de casa já armado. Ele não tem arma. A única arma que ele tem é a bíblia. A família dele é evangélica", defende.Após Márcio ser retirado do apartamento para ser socorrido, uma equipe de Polícia Judiciária foi acionada para fazer perícia no local. A PF não informou para onde a arma que teria sido utilizada pela vítima foi encaminhada.

"Eles viram que pegaram a pessoa errada e plantaram uma arma lá. A casa estava toda revirada", acusa a irmã de Márcio.

Carga PesadaO grupo investigado na Operação Carga Pesada é suspeito de desviar R$100 milhões em mercadorias, nos últimos dez anos, de cargas de navios do Porto de Aratu, em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador.

De acordo com a investigação, a quadrilha agia dentro de uma cooperativa de caminhoneiros no Porto. As investigações começaram depois de duas apreensões de caminhões feitas nos estados de Minas Gerais e São Paulo. As cargas roubadas eram fertilizantes e concentrado de cobre.

Os roubos eram liderados pelos diretores das cooperativa. Eles organizavam o carregamento de caminhões e o transporte de todas as mercadorias do Porto de Aratu para unidade produtoras e consumidores em diversas regiões do país.

A quadrilha tinha ajuda de guardas e empregados das empresas roubadas, além de agentes de segurança patrimonial, motoristas e policiais reformados. 

Ainda de acordo com a PF, a quadrilha chegava a extorquir e intimidar as testemunhas. Durante as investigações, a Polícia Federal identificou três pessoas foram assassinadas e outras três feridas por integrantes da organização parar silenciar testemunhas e garantir a continuidade dos crimes.

Cerca de 200 policiais federais estão cumprindo 53 mandados judiciais, dentre eles 24 de prisão, duas conduções coercitivas e 27 de busca e apreensão na Bahia e Minas Gerais. Os envolvidos responderão por furto qualificado, participação em organização criminosa, falsidade ideológica, corrupção ativa, corrupção passiva, coação no curso do processo e homicídios de testemunhas que ameaçaram delatar a organização.