Morte de irmãos em Ondina completa 4 anos; Justiça prepara júri popular

Saiba como será o julgamento da médica Kátia Vargas, previsto para 5 de dezembro

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  • Amanda Palma

Publicado em 11 de outubro de 2017 às 07:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/Facebook

O dia 11 de outubro é sempre um dia de tristeza para a família dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes, mortos em Ondina após uma colisão no trânsito. Nesta quarta-feira (11), completam quatro anos do incidente fatal. Desta vez, a família tem que lidar também com o adiamento do júri popular da médica Kátia Vargas, acusada de provocar a morte dos irmãos -- o julgamento aconteceria no próximo dia 7, mas foi remarcado para 5 de dezembro, no Fórum Ruy Barbosa.

A 55 dias do julgamento, o CORREIO conversou com a família das vítimas, advogados da médica e acusação do caso e traz um panorama, a dinâmica e principais personagens envolvidos na sessão -- a previsão do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) é de pelo menos dois dias para a decisão sobre a setença.

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No entanto, o júri popular não vai significar um desfecho da história. O promotor Davi Gallo acredita que o processo ainda vai se prolongar por mais um ano.“A minha expectativa é de que ela seja condenada. Não vejo outra decisão que não seja a condenação, e eu falo isso com base nas provas. Não é um desejo pessoal. Mas seja qual for a decisão, vão ter recursos ainda, da defesa ou da acusação, e deve ter, no máximo, um ano para ter um desfecho final”, prevê o promotor.A possibilidade de recursos é válida caso ela seja absolvida ou condenada.

O assistente de acusação, o advogado Daniel Keller, afirma que não há dificuldades de preparação para o júri e confia na condenação da médica. “É reestudar o processo e se preparar para o julgamento, no sentido de dominar ainda mais as provas que estão nos autos. É um caso que chamou muita atenção, mas é um caso simples porque a prova está muito clara. Eu acredito que ela vai ser condenada. A perícia demonstra isso e todas as testemunhas contam a mesma versão”, afirma. Julgamento vai acontecer em um salão do júri do Fórum Ruy Barbosa (Foto: Divulgação/TJ-BA) O júri Para que aconteça um júri, é necessário que haja uma pronúncia da Justiça sobre o caso, explica o TJ-BA. Após a fase de instrução, o juiz analisa a prova da existência do fato e indícios suficientes que apontem uma autoria, para que o acusado seja julgado pelo Tribunal do Júri, que é o competente para apreciar o mérito do caso.

Apesar de o júri só acontecer quatro anos após a morte dos irmãos, a assessoria do Judiciário baiano afirma que não há atrasos no andamento do processo. “Não houve retardo na conclusão do processo. As formalidades do processo penal têm que ser observadas e os direitos respeitados”, informou a corte.

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O advogado de defesa, José Luís Oliveira de Lima, afirma que o processo foi atrasado pelo Ministério Público. “Uma questão que precisa ser esclarecida para a opinião pública é de que quem retardou esse julgamento foi o Ministério Público ao solicitar que fosse feito um novo laudo pericial. Aliás o Ministério Público, ao invés de se ater aos autos, a todo momento faz afirmações que não correspondem à verdade, querendo fazer um jogo sensacionalista. Em 26 anos de carreira, nunca vi uma atuação desse nível de um representante de Ministério Público”, afirmou Oliveira, se referindo a Gallo.

Adiamento de júri foi manobra da defesa, diz acusação O adiamento do júri popular da médica Kátia Vargas é considerada uma manobra para a família dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes e também para o Ministério Público. O advogado de defesa da médica José Luís Oliveira de Lima pediu o adiamento alegando que vai participar de um julgamento na Corte Federal dos Estados Unidos no dia 6 de novembro e por isso não poderia participar do júri.

O julgamento vai acontecer em Nova Iorque, e José Luís é advogado do caso de corrupção envolvendo dirigentes da Fifa. O advogado Daniel Keller afirma que os advogados de defesa da médica já estavam cientes da data do julgamento e que poderiam ter solicitado a alteração antes, mas aguardaram que a agenda de novembro estivesse fechada para conseguir postergar o júri.

“É um direito dele fazer esse pedido, mas acho que agiu de má-fé por ter deixado pra avisar depois que as pautas de novembro terem sido publicadas. Podia ter dito em agosto logo quando soube a data do júri, mas usou de uma manobra para ganhar tempo, como sempre”, opinou Keller.

A data do julgamento na Corte americana foi divulgada em setembro do ano passado, pela juíza que cuida do caso, Pamela Chen, com previsão de que dure seis semanas. Ao CORREIO, o advogado José Luís Oliveira rebateu as acusações. “O adiamento é de um mês. Essa é uma acusação leviana. O nosso escritório é conhecido no Brasil. Essa é uma questão simples, eu tenho um caso nos Estados Unidos, um dos casos mais importantes do mundo. Ele sabe que nosso pedido tem respaldo, basta agir com boa fé”, afirmou.

Oliveira disse ainda que não há interesse da defesa em adiar mais. “Essa acusação é de quem não quer agir de boa fé. E se tem uma coisa que tanto minha cliente quanto eu queremos, é acabar com essa história”, completou o advogado.

“Nosso medo é que não tenha julgamento”, diz família Desde 2013, a família de Emanuel e Emanuelle aguarda o dia do desfecho da história. Entre missas, protestos e audiências, os parentes dos irmãos vivem um misto de sentimentos, entre tristeza, revolta e sentimento de impotência. Prima dos irmãos, Mayane Dias, diz que agora o receio é de que aconteçam novos adiamentos e o júri acabe não acontecendo.

“Hoje eu fico me perguntando se vai haver júri realmente. Fico com medo por causa da impunidade que acontece no país. Hoje em dia eu fico descrente, eu não sei se depois vai mudar de dezembro para janeiro, depois para fevereiro e acabe caindo no esquecimento”, desabafa a jovem.

Mayane recebeu a notícia do adiamento quando estava na missa de 10 dias de morte do projetista Waldemir de Sousa Dias, 59, pai dos irmãos Emanuel e Emanuelle. “Na mesma hora eu me chateei, comecei a chorar, comecei a ficar descrente de que vai haver uma justiça”, lembra.

Ela teme o que pode acontecer na família até o desfecho da história. “Parece que essa nuvem de destruição continua. Agora fico com medo do que pode acontecer com minha tia. Ela diz a todo momento que não vai aguentar. Parece que a Justiça funciona só pra os pobres, os ricos se safam”. O CORREIO tentou entrar em contato com Marinúbia Gomes, mas ela disse que preferia não comentar sobre o caso.