MP-BA investiga crimes contra mulheres de grupo anti-Bolsonaro

Baianas tiveram contas do Facebook e até celulares invadidos

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  • Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 16:04

- Atualizado há um ano

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O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) vai apurar os crimes cometidos contra mulheres que tiveram contas invadidas e foram ameçadas nas redes sociais por terem criado um grupo no Facebook contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL).  MP recebeu baianas participantes do grupo que foram atacadas (Foto: Raquel Saraiva/Ministério Público) A procuradora-geral de Justiça Ediene Lousado recebeu na noite da terça-feira (18) as criadoras e participantes do grupo que tiveram as contas pessoais do Facebook, e-mails e até celulares invadidos. A publicitária Ludimilla Teixeira, as advogadas Ana Clea Cordeiro e Juliana Borges, a jornalista Vanda Amorim, a defensora pública Mônica Aragão e a fotógrafa Sandra Andrade relataram também que estão sofrendo discriminação e ameaças desde que o grupo começou a se popularizar. A página, chamada "Mulheres Contra Bolsonaro", chegou a mais de 2 milhões de participantes. Com a fama, acabou sendo roubada e tendo nome mudado para ficar favorável ao candidato, mas o próprio Facebook restabeleceu a página ao nome original.

As criadoras da página pediram apoio ao MP para identificar e responsabilizar as pessoas por trás dos ataques. A procuradora-geral prometeu rigor no caso. As denúncias serão encaminhadas aos Núcleos de Combate aos Crimes Cibernéticos (Nucciber) e de Apoio às Promotorias de Justiça Eleitorais (Nuel) e aos Grupos de Atuação Especial de Defesa da Mulher (Gedem) e de Combate à Discriminação (Gedhdis).

Ataques Uma das administradoras do grupo que também sofreu ataques foi a professora Maíra Motta, de Vitória da Conquista. Sua advogada, Kellma Farias conta que ela teve a linha sequestrada por volta das 14h de sexta-feira (15). A advogada detalha que quase que no mesmo momento a linha foi recuperada por outra pessoa. “Até o momento não sabemos de onde conseguiram recuperar a linha dela”, lamenta, destacando que esta é uma informação muito importante para ajudar nas investigações.

Kellma ressalta também que é no mínimo estranho outra pessoa ter conseguido resgatar a linha de sua cliente, uma vez que o procedimento padrão para o resgate exige que o titular compareça pessoalmente em uma das lojas da operadora com algum documento com foto em mãos. Na noite de sexta, Maíra recuperou a conta do celular, quando foi orientada a seguir essas instruções.

Em entrevista ao CORREIO ela informou que o grupo está processando os autores dos ataques e que cada uma das vítimas também entrou com ações judiciais independentes. “Ainda estamos na investigação policial para descobrir de onde partiram os ataques [...] Assim que a investigação terminar vamos mover uma ação para ressarcimento de danos morais e materiais”, revelou.

Crescimento e ataques O grupo do Facebook “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” chegou a alcançar 2,2 milhões de integrantes antes de sofrer ataque hacker que alterou o nome do grupo - e excluiu pessoas.

O ataque cibernético mudou o teor da página em favor do presidenciável Jair Bolsonaro.  “Eu sofri duas séries grandes de invasões. Na primeira hackearam o meu Facebook na sexta-feira e a Ludimilla (criadora e administradora do grupo, também baiana) conseguiu contornar a situação, não deixando que eles invadissem o grupo. Comigo, meu WhatsApp, Facebook e linha telefônica foram sequestrados”, conta Maira.

Os autores da ação utilizaram de suas redes sociais para postar mensagens de ódio e até xingaram uns dos clientes de Maíra, que também trabalha com a produção de produtos vegetarianos. Grupo teve capa alterada durante invasão (Foto: Reprodução) “No segundo ataque, que foi ontem (dia 15), eu estava fazendo Boletim de Ocorrência na delegacia enquanto tudo acontecia. Por conta do ataque, eu tive que comprar um chip novo, um celular novo e ainda não retornei ao grupo”, conta.

Há a suspeita de que as linhas telefônicas das administradoras tenham sido grampeadas. Os homens ficaram em posse do número de Maíra durante a tarde e a noite de sexta-feira. “Só consegui resgatar o meu número na madrugada de sábado. O meu Facebook eu conseguia alterar a senha e eles hackeavam de novo. Eu mudava pela segunda vez, e eles sequestravam mais uma vez. Foram umas quatro vezes disso”, disse.

Agora, para voltar ao Facebook, a baiana instaurou os protocolos de segurança que o próprio Facebook oferece. “Pede código de verificação pelo celular, tirei a vinculação com o meu e-mail. Tudo isso para não ter mais esse ataque”. Boletim de Ocorrência registrada por Maíra após ataque sofrido na sexta-feira (14) (Foto: Arquivo Pessoal) Pelo menos três administradoras do grupo, que tinha nove gestores, foram atacadas por hackers. O grupo chegou a ser retirado do ar pelo Facebook, e foi devolvido depois para elas. “Agora moderadoras estão fazendo uma limpeza no grupo, para tirar invasores”. 

Lembre ataque: O grupo do Facebook "Mulheres Unidas Contra Bolsonaro", que alcançou 2,2 milhões de membros,  foi hackeado e passou a exibir mensagens de apoio ao presidenciável do PSL. Uma baiana, que é uma das criadoras e administradoras do grupo, teve seu Facebook hackeado e registrou o caso na 1ª Delegacia (Barris) neste sábado (15). 

O grupo teve o nome alterado para "Mulheres Com Bolsonaro #17" e a administração foi substituída por homens. Após denúncias, o grupo foi retirado do ar pelo Facebook e será devolvido posteriormente às administradoras.

Durante o ataque, os responsáveis postaram mensagens ofensivas contra as mais de 2 milhões de participantes. "Esquerdistas de merda", disseram.

A capa do grupo chegou a ser assinada pela dupla "Eduardo Shinok e Felipe Shinok", que podem ser autores da invasão. 

A Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que o caso será investigado pela Polícia Civil através do Grupo Especializado de Repressão aos Crimes por Meios Eletrônicos. Ainda não há informações sobre a autoria do ataque.

Em nota enviada ao CORREIO no início desta manhã, o Facebook informou que o grupo foi removido temporariamente. "O grupo foi temporariamente removido após detectarmos atividade suspeita. Estamos trabalhando para esclarecer o que aconteceu e restaurar o grupo às administradoras" , afirmou a rede social, em nota. 

Por volta das 12h30, o Facebook informou que "o grupo foi restaurado e devolvido às administradoras”.