MP dá prazo de 10 dias para Coelba promover mudanças em postes que causaram morte de mais de 50 araras-azuis

Mortes ocorrem no interior da Bahia

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  • Da Redação

Publicado em 18 de janeiro de 2022 às 22:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: divulgação)

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) deu um prazo de 10 dias para a Coelba fazer uma verificação das medidas sugeridas pelo órgão para definir um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) relacionado a morte de araras-azuis eletrocutadas em postes na cidade de Euclides da Cunha, no Norte da Bahia. Segundo o MP, o problema pode ser resolvido com cinco mudanças, que incluem distanciamento dos fios dos postes e uso de cabeamento multiplexado (fios traçados e revestidos), mas a empresa de distribuição de energia elétrica não realizou as modificações. 

"Nós conseguimos ter acesso ao mapeamento das áreas prioritárias em Euclides. As entidades realizaram. Depois, nos reunimos com eles e já propusemos as medidas para lá", afirmou a promotora de Justiça Luciana Khoury, que atua na área ambiental.

Relembre caso: Bahia vive onda de mortes de araras-azuis eletrocutadas em postes

A Neoenergia Coelba informou à reportagem do CORREIO, no último dia 9, que mantém diálogo com o MP para contribuir com a segurança da arara-azul-de-lear e que, durante todo o processo, apresentou alternativas possíveis de modificações na rede elétrica, como um inibidor de pouso das aves na rede. Segundo Khoury, a medida não foi aceita pela comunidade, que disse que o inibidor, na verdade, atrairia as araras para os fios. 

Relembre o caso

Congeladas num freezer, em uma fazenda em Euclides da Cunha, no Norte da Bahia, três araras-azuis-de-lear aguardam um desfecho. Nos últimos dez dias do ano passado, elas caíram mortas do céu da Caatinga. Não foi lá o que se pode chamar de novidade na região, onde a morte de araras se torna cada dia mais frequente. Desde 2018, ao menos 50 delas morreram em condições semelhantes: próximas a postes de energia. 

A arara-azul-de-lear está ameaçada de extinção e só existe em 12 cidades baianas. As principais são Canudos, onde a maioria das araras-azuis dorme nas fendas de paredões, e Euclides da Cunha, onde passam a maior parte do dia em busca de frutos de palmeiras para alimentação, como o licuri.

A morte das araras passou a espantar em 2018, ano em que sete delas foram encontradas sem vida, próximas a redes elétricas, em Euclides da Cunha. As mortes, associadas à eletroplessão, se concentram em quatro áreas rurais do município, porque lá estão os principais pontos de alimentação das araras do amanhecer ao fim do dia.

“Eletroplessão” é o termo técnico dado à morte causada por uma descarga elétrica não intencional. Ela acontece se uma arara tocar, simultaneamente, em um fio energizado e outro não energizado ou com potência energética diferente. Dessa forma, as araras fecham o circuito de energia e são eletrocutadas - algo parecido ao que ocorre, por exemplo, quando, descalço, você toma um choque durante o banho.

Com a diminuição da cobertura de árvores nativas, fenômeno que não é exclusivo de lá, as redes de energia se tornam lugares de pouso das araras. “A eletroplessão era um evento muito mais raro, morria um em um ano, depois morria outro. Nunca tinha visto nada parecido”, conta a engenheira Kilma Manso, que acumula mais de duas décadas de observação, pois chegou à Bahia em 1998.

A situação das mortes chegou ao limite numa data que engenheira Kilma Manso lembra, porque foi marcante: 9 de junho de 2020. Desde então, o Ministério Público da Bahia (MP) abriu dois inquéritos civis para apurar as mortes.

Coordenadora da Organização para Conservação do Meio Ambiente, Manso recebera, por três dias seguidos, notícia de araras mortas sob fios, no Povoado das Baixas, em Euclides da Cunha. “Primeiro eu achei que era um problema específico de um poste. Mas aí chegaram os três casos, em três dias seguidos”, concluiu.