MP denuncia PMs envolvidos na morte de Márcio Perez à Justiça

Eles foram acusados por homicídio qualificado e tentativa de homicídio

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  • Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 16:53

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

Dois policiais militares foram denunciados pelo Ministério Público do Estado da Bahia à Justiça por envolvimento no assassinato do espanhol Márcio Perez Santana, no dia 19 de setembro do ano passado, no bairro de Armação. Maurício Correia dos Santos e Saulo Reis Queiroz foram acusados por homicídio qualificado e ainda tentativa de homicídio, esse último contra Renata Alves Correia, que acompanhava Márcio no dia do crime. 

Márcio chegava de carro em sua casa quando começou a ser seguido pelos policiais. Ele tentou escapar, mas vários tiros foram disparados e ele acabou atingido. Baleado pelas costas, não resistiu aos ferimentos e morreu. Renata, apesar dos disparos, não foi atingida. “Márcio não teve como lançar mão de qualquer recurso em defesa da sua vida”, diz a denúncia do MP.

Os dois PMs se apresentaram à Corregedoria da Polícia Militar no dia 20 de dezembro para serem presos, um dia depois após a Justiça aceitar o pedido de prisão feito pela polícia.

Conforme o promotor de Justiça Luciano Assis, responsável pela denúncia, as possibilidades para motivação do crime ainda são investigadas. "O crime de mando, execução, ou diligência desastrada são algumas possibilidades, mas a motivação está em aberto, não há nada cravado ainda. As provas do inquérito policial indicam o perigo comum, quando envolve tiros em via pública, e impossibilidade de defesa da vítima", afirmou Luciano ao CORREIO, em referência às qualificações pelas quais do homicídio duplamente qualificado pelo qual os miliatares vão responder.

De acordo com o promotor, a acusação produzida pelo MP a motivação "está consignada", ou seja, não ficou definida. "É algo que pode clarear. A motivação é injusta, e pode havar um aditamento durante o processo, que é quando surge alguma coisa que não surgiu durante a investigação do curso da ação penal que ocorreu durante a investigação policial", acrescentou Assis. 

Em contato com o CORREIO, o promotor Davi Gallo, que auxilia Luciano na acusação, também comentou a denúncia. "Coisas novas podem parecer durante o juízo, quando as provas policiais serão produzidas. A denúncia vai ser aprofundada", comentou Gallo, sem dar maiores detalhes.Dor que aumenta À reportagem, a ex-mulher de Márcio, a consultora Olívia Santana, 44, afirmou que as duas filhas que tem com o espanhol sempre perguntam pelo pai. "Elas estão mais conformadas, mas perguntam por ele todos os dias. Infelizmente, todos os dias a gente revive aquele dia horrível, é uma dor que aumenta", comentou.

Embora estivesse separada do espanhol há três anos, Olívia, que foi casada por 11, afirma que tinha uma ótima relação com a vítima. "A gente tinha um convívio. Antes de sermos casados, eu já conhecia ele há 22 anos, então foi uma perda enorme, um choque. Os pais dele, pai e mãe, estão depressivos na Espanha. Não comem, não dormem bem", acrescentou.

Sobre Renata, vítima que estava com o ex-marido no momento do crime, Olívia afirmou não saber qual a relação dos dois. "O que eu sei é que a família não conhecia ela. Geralmente, quando ele começava um namoro, apresentava às meninas, me contava, porque conversávamos muito, mas eu não sei sobre ela".

Olívia acredita que a Justiça vai conseguir desvendar o caso. "Tem muita prova colhida, muitas testemunhas ouvidas. Os policiais se contradisseram muito durante os depoimentos e nós [família] já imaginávamos que eles eram responsáveis", concluiu a consultora. 

O caso O crime aconteceu na noite de uma quarta-feira. Márcio Pérez estava estacionando o próprio carro na porta de casa, acompanhado de uma mulher, quando foi surpreendido por uma viatura da 58ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Cosme de Farias). Segundo testemunhas, era por volta de 23h e a viatura estava apagada.

Os vizinhos da vítima contaram que o empresário se assustou e saiu com o carro, mas foi perseguido e baleado na nuca pelos militares. Depois de ser atingido, o consultor perdeu o controle do veículo, subiu o canteiro e atingiu uma árvore. A mulher que estava com ele não ficou ferida.

Os policiais não explicaram o que estavam fazendo em Armação, 10 km distante da área em que eles atuam, Cosme de Farias. Também não ficou claro por que a viatura estava com as luzes apagadas e por que só havia dois PMs dentro do veículo, quando a ronda é sempre feita com três militares.

Perez era formado em Economia e sócio de uma empresa que presta consultoria a uma operadora de telefonia. Os pais dele são espanhóis, mas viveram por alguns anos no Brasil, por isso, o empresário tinha naturalidade espanhola.

O pai e a mãe retornaram para a Espanha, mas Márcio resolveu permanecer no Brasil. A família era natural da cidade de Ponte Caldelas, onde o corpo do empresário foi enterrado. Márcio era filho único e deixa duas filhas.

Registro A TV Bahia e o CORREIO tiveram acesso ao registro feito pelos militares após o assassinato, onde eles explicam o que aconteceu naquela noite. Segundo o registro, os PMs foram abordados por pessoas próximo ao antigo Centro de Convenções, por volta das 23h. Elas contaram que homens em um carro branco, modelo Fiat Palio, estavam realizando assaltos na região. Os policiais teriam identificado um veículo suspeito alguns metros à frente e ligaram a sirene da viatura, pedindo que o motorista parasse.

Ainda segundo o relato dos militares, quando os homens no veículo perceberam a presença dos policiais atiraram contra a viatura e tentaram fugir, o que deu início a uma perseguição com tiroteio. Os policiais contaram que o carro de Márcio surgiu no meio da confusão, em alta velocidade e colidiu no canteiro central.  O caso foi registrado na 9ª Delegacia (Boca do Rio).