Mulheres negras debatem empreendedorismo em Salvador

Evento aconteceu no Parque Social e tratou de transformação de negócios e autocuidado

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  • Gil Santos

Publicado em 29 de julho de 2022 às 14:51

. Crédito: Foto: Ana Albuquerque/ CORREIO

Se ser mulher no Brasil é um desafio por conta do machismo que atravessa a sociedade, ser mulher e negra é ainda mais difícil, porque além das opressões de gênero, elas são oprimidas também pelas questões raciais, sociais e econômicas. Nesta sexta-feira (29), o Parque Social reuniu convidadas para discutir essas e outras questões em uma roda de conversa sobre empreendedorismo e saúde mental das mulheres pretas.

O evento fez parte do Julho das Pretas, um movimento de mulheres negras da Bahia e de outros lugares do país que comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, celebrado em 25 de julho. Esse foi o segundo ano em que o Parque Social participou do movimento, com o tema ‘Mulheres Negras no Poder, Construindo o Bem Viver’.

O debate foi mediado pela jornalista Vilma Neres, que destacou que o Julho das Pretas foi criado pelo Odara Instituto da Mulher Negra, em Salvador, e que a proposta do movimento é pautar uma agenda política que possa ser refletida em todas as esferas da sociedade.

“Nós [mulheres pretas] somos pioneiras. O modo como as mulheres negras chegaram no Brasil, na condição de escravizadas, e como montaram tabuleiros e desenvolveram novos negócios para conseguir liberdade e autonomia, mostra que somos empreendedoras. Porém, elas não foram reconhecidas e, até hoje, muitas não são reconhecidas em seus lugares de atuação, e isso já envolve outra questão que é o racismo, estrutural em nossa sociedade”, afirmou. Essa foi a segunda vez que o Parque Social participou do Julho das Pretas (Foto: Ana Albuquerque/ CORREIO) Ela começou o evento recomendando a leitura de ‘Um defeito de cor’ (2006), da escritora Ana Maria Gonçalves, e frisou que o empreendedorismo feminino negro acontece por uma questão de necessidade e que o objetivo é mais que apenas lucro. A arquiteta Bamidele Fasoyln foi uma das convidas para apresentar um case de sucesso. Em dezembro de 2020, ela criou a Casa de Maria Arquitetura Popular (@casademaria.arq).

“É um escritório de arquitetura voltado para atender mulheres de média e baixa renda, moradoras de Salvador e Região Metropolitana. Eu nunca tinha visto um projeto voltado para as comunidades e isso me incomodava. Em 2020, pedi demissão da empresa em que atuava e criei a Casa de Maria para mostrar para essas pessoas que elas podem, sim, ter acesso a serviços de arquitetura”, afirmou.

A empresa atende clientes que precisam de reforma nos imóveis, como problemas com mofo, infiltração e adaptações que não funcionaram. Os trabalhos custam a partir de R$ 300. Outra convidada foi Selma Coutinho, proprietária de uma empresa de estofados e responsável pelo Clube Donas (@clubedonasempreendedoras), uma instituição que capacita e conecta mulheres empreendedoras que atuam em comunidades. Atualmente, tem cerca de 100 integrantes. Já a psicóloga Carolina Fonseca destacou a importância do autocuidado.

A roda de conversa aconteceu no auditório do Parque Social, dentro do Parque da Cidade, no bairro do Itaigara. A diretora-geral da instituição, Sandra Paranhos, explicou que o debate é uma forma de cuidar da autoestima e incentivar a autonomia financeira das mulheres pretas.

“O Parque Social, sendo uma instituição que cuida das pessoas e do que elas precisam para se desenvolverem, não poderia deixar de tratar da mulher negra. É preciso reconhecer a qualidade do trabalho que vem sendo desenvolvido por essas mulheres, reconhecer a garra, a força e dá a oportunidade para que em um evento como esse elas possam trocar conhecimento e experiências. Isso é muito importante”, afirmou.