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Obras que fazem parte da 2º edição de projeto de arte vertical têm mais de 25m de altura
Wendel de Novais
Publicado em 15 de abril de 2021 às 06:00
- Atualizado há um ano
Na Avenida Estados Unidos, no Comércio, o simples ato de olhar para cima já te dá a possibilidade de perceber algo fora do comum à visualidade da região. É que, agora, entre os tons cinzas e marrons que predominam nos prédios antigos da rua, uma explosão de cores invadiu o espaço e transformou a caminhada de quem passa diariamente por lá em um momento de observação. Os responsáveis por isso são os dois murais coloridos e de mais de 25m de altura, do artista plástico Anderson Santos e da dupla Dois Detalhes, que, recentemente, passaram a estampar as fachadas dos edifícios Guarabira e Frutosdias.
As obras cheias de cor são fruto da 2ª edição do MURAL, primeiro projeto de arte vertical realizado em Salvador capitaneado pela Fundação Gregório de Matos (FGM) e que, em 2016, já tinha mudado a cara da Avenida da França, também no Comércio, com dez murais de artistas baianos. Assim como os de 2021, eles misturaram diversas técnicas como pintura, grafite, desenho, estêncil e linguagens para encher o lugar de cor. Fernando Guerreiro, presidente da fundação, comemorou o sucesso dessa nova edição do MURAL e afirmou que o projeto dá continuidade ao plano de trazer arte para as ruas do Comércio.
"Esse projeto já está na sua segunda edição. A primeira, que aconteceu em 2016 e também foi vencedora de um edital da fundação, fez aqueles murais dos Terminal da França. A primeira edição acabou puxando o projeto Rua, que foi lançado no início do ano e colocou várias esculturas no Comércio. São ações muito importantes porque vão se somando na nossa ideia de transformar o Comércio em uma galeria a céu aberto", diz Guerreiro.
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E a ideia tem dado certo. Os murais chamam a atenção, fazem os cidadãos pararem para observá-los. São várias as cenas que se repetem de pessoas apontando para os paredões na tentativa de fazer outros perceberem as obras e acenando positivamente com a cabeça como quem elogia o que acabou de ver.
Murais que encantam
Esse foi o caso de Ricardo Matos, 46 anos, técnico em radiologia, que, enquanto cruzava a rua, não pôde deixar de reparar nos tons fortes dos murais e os apontava para o motorista Leycon Flávio, 30. Ele afirmou que os murais mudaram a sua relação com a avenida, onde passa todos os dias por conta do trabalho e que, agora, andar por ali virou também um momento de admiração. “Velho, um mural como esse muda tudo, dá um visual massa para o Comércio trazendo tanta cor que impressiona mesmo. Esse tipo de obra, na rua, só faz enriquecer a nossa cidade e esse bairro. Totalmente aprovado e, até por isso, fiquei apontando pra ele ver”, declarou.
Leycon concordou com o colega e fez questão de ressaltar que vê nos murais coloridos em meio a ambientes mais neutros um jeito de colorir Salvador. “Quando ele me mostrou, fiquei impressionado com a beleza e que massa ter isso pertinho, do lado do trabalho. Além de ser lindo, contribui para a cultura baiana, que também é muito de Salvador. Porque é característica nossa essa coisa vibrante, cheia de cor, né?! Só olhar o Pelourinho”, opinou. Admirados com o mural de Anderson, Ricardo e Leycon fizeram questão de fazer foto com o artista (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Se Leycon já se sente privilegiado de ter a obra perto do trabalho, imagine o manobrista Jônatas Almeida, 27, que trabalha de frente para os murais e também ficou hipnotizado pela estética vibrante. Segundo ele, logo quando tudo ficou pronto, fez questão de tirar várias fotos para compartilhar nas redes sociais e mostrar aos amigos a paisagem que tem à sua frente a partir de agora. “Eu achei o desenho muito bonito, traz uma beleza a mais pra rua e eu gostei muito. Já tinha visto uns na Avenida da França e que bom que veio pra cá também porque ficou muito massa. Trabalhar com essa visão é top”, disse.
Democratização da arte
Anderson Santos, responsável pelo mural na fachada do condomínio Guarabira, desenvolvido com a ajuda de Rodrigo Weill, artista visual com experiência em grafite, não é um artista de rua. Seus trabalhos costumam ficar na galeria, mas ele se jogou na oportunidade justamente para levar esse impacto às pessoas. “O objetivo é trazer cor ao ambiente, dar às pessoas uma alegria de se deparar com algo diferente. A gente sabe que existem obras aqui que são lindas em prédios e instalações do Comércio. O MURAL veio pra colocar isso no lado de fora, essa é a grande novidade. E eu tive que encarar o medo de altura em um andaime sofrendo de vertigens terríveis, mas valeu a pena porque eu queria muito fazer”, explica. Anderson, que costuma pintar em telas, fez seu primeiro mural (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Tanto a obra de Anderson como a da dupla Dois Detalhes seguem o tema ‘Separado é tudo junto’, utilizando a arte como ferramenta para proporcionar um sentimento de união e acolhimento, diante do cenário de pandemia e isolamento social. “Trazer esses artistas para cá é democratizar a arte, colocar o povo de frente pra ela, dar acesso. Mais que isso: é também dar visibilidade para artistas baianos, que já são reconhecidos fora, mas aqui não têm tanto renome. Queremos que sejam vistos e admirados aqui também”, afirma a produtora Vanessa Vieira, idealizadora e curadora do projeto.
Para a escolha dos artistas responsáveis pelos murais, o MURAL fez um chamamento e 30 interessados se inscreveram para participar do processo de seleção que contemplou a dupla Dois Detalhes e Anderson. Os artistas selecionados receberam um cachê e uma verba para compra de materiais necessários à realização da proposta selecionada. Os recursos são oriundos da Secretaria Especial da Cultura, do Ministério do Turismo, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc.
*Sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro