Muralhas do frontispício terão recuperação estrutural, cênica e paisagística

Ordem de serviço foi assinada nesta quinta-feira (12) pelo prefeito ACM Neto

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  • Eduardo Dias

Publicado em 12 de setembro de 2019 às 15:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Valter Pontes/Secom

Tradicionalmente dividida entre Cidade Alta e Cidade Baixa, por ser construída sobre um local elevado diante do mar da Baía de Todos-os-Santos, Salvador utiliza equipamentos de proteção de encostas desde sua fundação, em 1549.

Há séculos, essa proteção era feita com estruturas como as muralhas do frontispício, um dos símbolos da fundação da capital baiana e que resistem até hoje. Para dar o devido valor a essa estrutura, construída por volta de 1870, o local passará por uma revitalização, que receberá um investimento de R$ 4,5 milhões.

A assinatura da ordem de serviço ocorreu nesta quinta-feira (12), com a presença do prefeito ACM Neto. Agora, as muralhas que ficam na parte superior da Ladeira da Montanha, no Comércio, passarão por uma restauração completa pelos próximos 12 meses, com recuperação estrutural, cênica e paisagística.

A obra faz parte de um conjunto de iniciativas para a revitalização do Centro Histórico de Salvador, para que ele fique mais atraente para turistas e baianos. Haverá ainda outras intervenções, como a requalificação dos arcos da Ladeira da Montanha e do Elevador do Taboão. O investimento total da iniciativa é de R$ 300 milhões, doados à prefeitura pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Na cerimônia que anunciou o início das obras da muralha, que também contou com as presenças do secretário de Infraestrutura e Obras Públicas e vice-prefeito Bruno Reis, e do superintendente do Iphan na Bahia, Bruno Tavares, ACM Neto falou sobre a importância de dar atenção a essa estrutura. 

“Após a reforma, as muralhas do frontispício vão dar um aspecto ainda mais bonito a essa fotografia tão linda da nossa cidade. Vamos renovar toda a estrutura e também o paisagismo e iluminação cênica. Tenho certeza de que toda essa execução que estamos fazendo no Centro Histórico vai transformar inteiramente essa região", disse Neto. Foto: Valter Pontes/Secom Já Bruno Reis falou sobre a força histórica das muralhas e espera que elas passem a ser mais valorizadas pelos visitantes. “São tantas obras nesta região da cidade que faz parte de um projeto de revitalização e recuperação do Centro Histórico. Desde 1549, quando essas muralhas foram erguidas, com a função de proteger a nossa cidade, elas nunca passaram por uma manutenção. Agora, além da recuperação, ela se transformará em um dos cartões-postais de Salvador”.

#vemprocentro A iniciativa faz parte das ações no Centro da cidade que contemplam o projeto #vemprocentro, lançado na segunda-feira (9), e que possui vários pilares como o investimento na requalificação urbana de infraestrutura e incentivo à habitação e visitação da região."Em um prazo não muito longo, teremos o Centro como um destino mais vivo e pulsante da nossa cidade”, disse ACM Neto.O projeto contempla a consolidação e estabilização estrutural das muralhas existentes; recuperação urbanística das ladeiras próximas ao local; implantação de nova iluminação; além da restauração paisagística do frontispício, voltada para a valorização dos monumentos do entorno; e a inserção de sistema de iluminação cênica para a valorização de toda a estrutura.

Contexto histórico Segundo o historiador e arquiteto Francisco Sena, as muralhas do frontispício foram construídas entre as décadas de 70 e 80 do século XIX (1801 - 1900) para ser utilizada como contenção da encosta durante a construção da Ladeira da Montanha, no governo Barão Homem de Melo. A estrutura, embora mais rústica, é similar às utilizadas atualmente na proteção de encostas, que agora são de concreto armado e cortina atirantada.

Francisco explicou que Salvador nasceu como uma fortaleza e foi construída num promontório - ou seja, num local elevado diante de uma escarpa, que é um declive muito íngreme de terreno provocado por uma erosão, diante do mar da Baía de Todos-os-Santos. Por esse motivo, como o solo dos declives são muito frágeis e instáveis, há tantos registros de deslizamentos de terra ao longo da história da cidade, agravados pela ocupação desordenada.

“Desde o século XVI até o XX, foram realizadas construções de contenções como as muralhas do frontispício, que são obras estruturais de engenharia da época, sempre em pedra e cal. Elas fazem parte do cenário e da história da cidade, e serviram para a sustentação da cidade. Sem elas, toda encosta da Cidade Alta já não existiria. São muralhas históricas e fundamentais para a sobrevivência da cidade”, explicou o historiador.

O superintendente do Iphan na Bahia, Bruno Tavares, atestou a versão do historiador. “As muralhas do frontispício possuem mais de três séculos de sucessivas construções, para dar sustentação ao que, hoje, é a Praça Castro Alves, além das ladeiras do entorno do Comércio, para conter os deslizamentos da encosta”, disse.

Pedido antigo De acordo com Cláudio Amorim, presidente da União das Associações Culturais, Esportivas, Moradores e de Turismo do Centro (Unicentro), uma grande reforma no Centro Histórico era um pedido antigo das associações da região.  

“A gente vinha solicitando à prefeitura uma obra nesse sentido para a região do Centro. Essa requalificação vai impactar bastante na visibilidade do Centro, vai atrair mais pessoas para a visitação. Essa região tem um valor histórico muito importante para Salvador e para a Bahia, essa intervenção é uma maneira de conservar o valor histórico da cidade”, disse.

Além da requalificação das muralhas, os arcos da Ladeira da Montanha terão todo o seu conjunto arquitetônico, composto por 17 arcos, restaurado. O local receberá melhorias no entorno do conjunto e na parte de dentro dos arcos, nos quais funcionam serralherias e marmorarias. O prazo para conclusão da obra, que recebeu investimento de R$ 3,5 milhões, é em junho de 2020.

Desativado há 54 anos, o Elevador do Taboão também está sendo contemplado e voltará a funcionar ligando as cidades Alta e Baixa, isto é, o Pelourinho e o Comércio. As obras no local também já começaram e estão previstas para serem finalizadas em meados do próximo ano.

As intervenções no elevador envolvem a restauração integral do ascensor, além de obras de modernização das instalações, buscando adequar a edificação às normas técnicas vigentes, inclusive de acessibilidade universal. O equipamento também contará com áreas de convivência com mesas, sanitários e café. O investimento é de R$ 3,7 milhões.

Os projetos de recuperação dos arcos da Ladeira da Montanha e do Elevador Taboão também foram cedidos pelo Iphan à Prefeitura.

Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro