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Da Redação
Publicado em 1 de maio de 2020 às 17:23
- Atualizado há 2 anos
Estou perdido, sem pai e nem mãe, bem na porta da tua casa!...Raspas e restos me interessam...Quando havia galos, noites e quintais...Quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor...Viver de olhos fechados é muito fácil...Love is the answer ... All we need is love...Que andei sabendo que em algum lugar te encontraria, pois você já era minha e eu sabia... Amar é um deserto e seus temores...Não sei se vem de Deus do céu ficar azul, ou virá dos olhos teus...Sorri, todo mundo irá supor que és feliz...Passas sem ver teu vigia, catando a poesia que entornas no chão...>
Pesquei assim rapidamente algumas pérolas ditas e escritas, que ecoam nos equipamentos de som pelo mundo afora... Para a maioria, o que importa é um balanço gostoso de uma canção, e o que se fala nela, que se foda. Sim, é assim. Só uma minoria repara, atenta, curte e muitas vezes entra em um tipo de êxtase pela poesia. Uma simples frase pode fazer numa pessoa, o efeito de anos de divã de analista. Muitos analistas ganham dinheiro e até tem prazer em levar anos analisando um paciente, para provar depois da vida passar sem felicidade ou resolução, que os problemas resultaram do dia em que a pessoa caiu do berço, bateu a cabeça e mamãe não estava presente. Este "trauma" ligou o botão da tristeza, depressão ou falta de saber como ser feliz com o que dispõe a cada dia. A vida, por exemplo. Uma frase cortante, furante, estupradora, doída pode fazer acordar um cérebro acostumado a sofrência, às superficialidades e a precisar de ajuda para tudo. Cérebros que se enturmam em bandos que se alegram com idiotices e coisas sem conteúdo ou importância. Coisas sem conteúdo e importância são sim, importantes. Gostar de besteirol, filmes idiotas, adorar CHAVES E CHAPOLIN COLORADO são algo de grande valor. Desopila, relaxa. Câncer e depressão pegam muito mais gente formal. O ruim é quando você só busca Chaves e Chapolin. Sem saber quem foi Nietzsche. Ruim é quando adora funk (nada contra, tem muito funk bom pra caralho) sem saber quem foi Beethoven.>
Ser raso, não saber das coisas do andar de cima de quem tem cultura formal e leitura, não leva necessariamente à infelicidade. Muitas vezes, os rasos são invejados pelos articulados pois veem nos simplórios uma alegria inocente. Mas os simplórios felizes, em geral não tem consciência da felicidade que a simplicidade lhes dá.>
Como disse John Lennon, viver de olhos fechados, é fácil! Daí, vem Cazuza e explode de amor dizendo que está perdido sem pai e nem mãe na porta da casa dela. E que até raspas e restos interessam... Demais, né? E Belchior? Puta que o pariu!!! Belchior em cada canção era uma porrada. Ele dava o caminho pra se fazer a diferença entre homens e meninos. Menininhas mimadas e mulheres! Enquanto os pais, empresários, multiplicavam a grana e diminuiam o amor... E quantos já ouviram e não perceberam o Djavan dizer que amar é um deserto e seus temores? E Djavan perguntar a Deus se o azul do céu vinha mesmo do Criador ou dos olhos azuis da garota? E Roberto Carlos cantar que era questão de tempo encontrar a amada pois "você já era minha e eu sabia..."! E Chico Buarque encantado com a sua deusa desfilando na Galeria de Lojas, vendo AS VITRINES e dizendo para ela, no silêncio dos apaixonados "passas sem ver teu vigia, que vai catando a poesia que derramas no chão". Que dizer? Nada. Só, abrir a boca... E Chaplin? "Sorria! Quando a dor te torturar... todo mundo irá supor que és feliz...".>
Quantos mais escreveram pancadas, que rasgam tímpanos e chacoalham o cérebro, acordando, alertando, fazendo felicidade ali, tristeza ali, uma hora uma coisa e outra hora, a outra. Mas de uma coisa eu tenho certeza, entre as poucas certezas que podemos ter na vida... Quem atenta para as letras e poemas, tem mais chance de saber se é feliz ou não e assim, tomar um rumo em busca da felicidade. E Fernando Pessoa? "Nunca conheci alguém que tivesse levado porrada. Só conheci príncipes...". E por aí, vai.>
Texto originalmente publicado no Facebook e replicado com autorização do autor>