Não há vacina para as mudanças climáticas

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  • Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A pandemia de covid-19 já nos mostrou o valor e a importância da ciência, e do que ela é capaz quando se trabalha em cooperação buscando resolver um único objetivo. O resultado foi impressionante, com a fabricação, em tempo recorde, de diversas vacinas contra o novo coronavírus, o que trouxe a esperança de vivermos em um mundo novamente sem pandemia.

A pandemia de covid-19 é responsável pela pior crise sanitária em mais de um século, mas ela é apenas um alerta diante da maior crise e ameaça que a humanidade tem e terá de seguir enfrentando: a mudança climática, para a qual não há vacina.

As mudanças climáticas podem ter sido uma das causas da pandemia da pandemia, estudos indicam que existem uma conexão direta entre a destruição de ecossistemas e a ocorrência de novos vírus e bactérias nocivas oriundas de fauna silvestre que entram em contato cada vez maior com seres humanos. A escassez da carne de porco na China, devido à peste suína de 2018, obrigou a uma parte dos chineses a procurar outra fonte de proteína, aumentando o consumo de animais silvestres. O resultado foi que animais como o pangolim, um pequeno mamífero que se alimenta de formigas e cupins, voltou a ser vendido em grandes quantidades nas feiras de alimentos. Uma das teses para contaminação de seres humanos pelo novo coronavírus é a de que algum humano teria ingerido carne de um pangolim, que, por sua vez, teria se contaminado com fezes de um morcego infectado, em um mercado de Wuhan.   A crise socioeconômica causada pela pandemia de covid-19 começou a ser combatida com a vacinação, mas a crise climática causada pela emissão excessiva de Gases de Efeito Estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), em atividades como a queima de combustíveis fósseis em transportes ou na geração de energia (como petróleo, carvão mineral e gás natural), o desmatamento de florestas, e as práticas insustentáveis no agronegócio, não é pauta do governo brasileiro.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, as mudanças climáticas estão entre os principais riscos à humanidade. Na projeção do Fórum para a próxima década, o fracasso da ação para combater as mudanças climáticas está à frente de armas de destruição em massa e de crises de subsistência, perdendo apenas para doenças infecciosas.

O 6° relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apresenta alguns resultados ainda mais alarmantes do que o anterior. Estima-se que as atividades humanas tenham causado cerca de 1,0°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais. É provável que o aquecimento global atinja 1,5°C entre 2030 e 2052, caso continue a o ritmo atual.   Avalia-se que diversas mudanças regionais no clima acontecerão com o aquecimento global de 1,5°C, inclusive aumento de eventos de temperaturas extremas em muitas regiões, o aumento na frequência, intensidade, e/ou quantidade de chuvas intensas em diversas regiões, e um aumento da intensidade ou frequência de secas em outras regiões.

O Governo Brasileiro precisa de políticas mais arrojadas para incentivar a inovação e combater as mudanças climáticas, e por tabela, diminuir a desigualdade social, buscando a erradicação da pobreza. As mudanças climáticas, por sinal, impactam de forma desproporcional a população mais pobre, colocando em xeque todos os avanços sociais conquistados nas últimas décadas. 

O Brasil conserva 40% florestas tropicais do mundo, reserva 12% da água doce e abriga cerca de 15% da biodiversidade do planeta. O país tem tudo para ser a maior potência verde do mundo, pelo tamanho da Amazônia, com sua extensão em florestas tropicais, abundância em água doce e biodiversidade e também pelos outros biomas: Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Pampa. Além disso, a incidência solar e o regime de ventos representam um potencial de geração de energia limpa suficiente para suprir toda a demanda de energia no país. 

O nosso conhecimento sobre a covid-19 ainda vai aumentar com novas pesquisas, assim como a eficácia das próximas vacinas, que já estão sendo desenvolvidas neste momento, em uma corrida para salvar vidas. No caso das mudanças climáticas, sabemos as causas, temos noção cada vez mais exata dos impactos e já sabemos quais as soluções, que estão disponíveis e também sendo aperfeiçoadas constantemente. Aprendemos a unir esforços na crise do COVID-19 e precisamos fortalecer esta união para criar o consenso global a respeito da mitigação da crise climática. 

Ivan Euler Paiva é mestre em engenheiro ambiental urbana e diretor de resiliência de Salvado; Ilan Cuperstein é mestre em meio ambiente e desenvolvimento e vice-diretor regional da C40 para a América Latina