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'Não sabíamos do primeiro título', diz bicampeão João Marcelo


 

Zagueiro do Bahia de 1988 esteve em lançamento de livro que conta a história do título de 1959 do clube

  • Da Redação

Publicado em 10/04/2019 às 20:38:19
Atualizado em 19/04/2023 às 15:58:08
. Crédito: Herbem Gramacho/CORREIO

“59 é nosso! 88 também!”, é o que grita a torcida do Bahia em todos os jogos do time dentro ou fora de casa. O bicampeonato nacional é o maior orgulho ostentado pelo torcedor azul, vermelho e branco até os dias de hoje. Mas você sabia que ao conquistar a segunda estrela, há 30 anos, alguns jogadores do elenco tricolor sequer sabiam da existência da primeira?

Quem contou a história curiosa foi o ex-zagueiro João Marcelo, um dos presentes no evento de lançamento o livro ‘Heróis de 59’, durante a noite desta quarta-feira (10), na Arena Fonte Nova. A publicação é de autoria do jornalista Antônio Matos, de 71 anos.

Além de João Marcelo, estiveram presentes no lançamento o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani; Patrícia Dutra, filha do centroavante Alencar; e Henrique Luiz Santos, filho de um dos três heróis daquele título ainda vivos: o zagueiro Henricão. 

João Marcelo enxerga que o livro é homenagem tardia, mas necessária para que seja marcado um pedido de perdão para todos aqueles envolvidos no que foi o primeiro título nacional conquistado por um time nordestino. A Taça Brasil de 1959 marcou, na verdade, o primeiro torneio nacional de futebol profissional no país.“Esse livro é um pedido de perdão para os ídolos que ficaram por tanto tempo escondidos sem essa valorização. (Ao conquistar o bi) Nós nem gritamos que éramos bicampeões porque não tínhamos conhecimento daquele título”, confessou João Marcelo. Autor do livro, Antônio Matos autografa alguns exemplares para o público que foi ao lançamento (Foto: Herbem Gramacho/CORREIO) Henricão tem 85 anos e vive no Rio de Janeiro. Hoje, o zagueiro campeão sofre de mal de Alzheimer e por causa desse problema não compareceu ao evento, ficando a cargo do filho a responsabilidade de representá-lo. Ainda assim, Henrique Luiz afirma que a emoção não foi menor: torcedor do Bahia, ele contou que estar no meio de outros ídolos e outros amantes do tricolor se tratava de uma experiência inédita em sua vida.“Pra mim é muito honroso estar aqui porque eu nunca estive no meio dos torcedores do Bahia, apesar de torcer pro Bahia desde pequenininho por causa dele (Henricão). Eu só tenho que agradecer primeiro a meu pai, ao Bahia e a todos que gostam de futebol, desse ambiente”, declarou.Além de Henricão, os outros campeões  que ainda estão vivos são o goleiro Nadinho, 88 anos, morador do bairro de Itapuã, e o ponta-esquerda Carioca, que mora em Belo Horizonte. O ex-goleiro não compareceu ao evento, que esteve bem movimentado e até gerou fila para pegar um autógrafo do autor.

Filha do meia Alencar, autor de um dos gols no triunfo por 3x1 sobre o Santos, em 1960, que deu a Taça Brasil ao tricolor, a professora Patrícia Dutra, de 52 anos, contou seu sentimento para com o clube e a história contada no livro, citando a ajuda que a torcida tricolor deu a seu pai.

"É um orgulho ver a história de meu pai. Em 28 anos, desde que meu pai está falecido, ele permanece vivo. O Bahia faz isso, a torcida faz isso. No período da doença de meu pai me tornei Bahia de alma. A doença de meu pai chamava hepatopatia crônica. Ele precisava tomar uma substância chamada albumina humana e logo quando o tratamento começou ele tomava esse remédio a cada seis meses. Isso durante três anos. Chegou um tempo que não tinha mais doador. Precisava levar três doadores ao Hemoba para conseguir uma ampola. Eu fui à rádio e solicitei. Desse dia em diante, não faltou mais o remédio até o dia que morreu. Eu sou Bahia de alma pela história que meu pai construiu e pela história que a torcida do Bahia construiu para que meu pai continue vivo", revela.

O lançamento também atraiu gente como o dono de restaurante Clarindo Silva, 77, que saiu do Pelourinho e foi até a Fonte para reviver algumas memórias de um passado saudoso.

Torcedor do Botafogo da Bahia, ele se orgulha de ter sido gandula na campanha de 59 e escala o time de cor e salteado mesmo após quase 60 anos. A memória dele ainda se estendeu para as escalações daquela época do Vitória e do seu time do coração.“Nadinho, Beto, Henrique, Flávio e Nenzinho; Vicente e Mário; Marito, Alencar, Léo e Biriba”, escalou seu Clarindo, que na época do título tinha apenas 18 anos.O livro já começou a ser vendido nesta quarta-feira (10) e segue sua comercialização na Loja do Esquadrão, que fica na Arena Fonte Nova. O valor cobrado por cada exemplar é de R$ 60.

Imersão Com 287 páginas, a obra é resultado de seis anos de pesquisa desenvolvida por Matos. O autor foi até os outros estádios que fizeram parte da campanha do Bahia, em cidades como Maceió, Rio de Janeiro e Santos, onde conversou com representantes dos clubes e visitou bibliotecas para juntar material. “A pesquisa eu fiz por conta própria, visitei muitos lugares”, conta.

O período em que deixou Salvador para estudar mais sobre o contexto do campeonato foi fundamental para fazer o texto, afinal Antônio tinha apenas 12 anos quando viu o Esquadrão ser campeão: “Apesar de ser torcedor do Ypiranga, me encantei com o time de 59. Era um time praticamente imbatível”. Apesar da temática da obra agradar muito mais os torcedores do Bahia, Antônio Matos acredita que toda essa pesquisa resumida em um livro agrada “qualquer um que goste de ler e de futebol”, completa.   

*Com supervisão do subeditor Miro Palma