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Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2018 às 04:00
- Atualizado há 2 anos
A dona de casa Débora Ferraz, 37 anos, entrava de loja em loja, ontem de manhã, na Avenida Sete. Sem renda fixa há três anos, ela sabe que não pode ultrapassar o valor para as compras de Natal. Por isso, a menos de uma semana da festa, ainda não tinha garantido os presentes.>
Ele está entre os 9,3 milhões de brasileiros que estão deixando para fazer as compras de última hora neste Natal, como estima a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).>
Mas, para quem pretende economizar, deixar para a última hora não é a melhor opção. Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, é ilusão pensar que as lojas venham a oferecer grandes promoções faltando poucos dias para o Natal. Ou seja, há risco de que muita gente acabe estourando o orçamento para as compras.“As liquidações mais vantajosas costumam ocorrer após a virada do ano. Se o consumidor deixa para comprar muito em cima da hora, acaba não tendo tempo para pesquisar preços em diferentes lojas ou encontrar opções de produtos mais baratas”, alerta a economista.O educador financeiro do SPC Brasil José Vignoli alerta que, na ansiedade para garantir os itens, o consumidor acaba dando menos importância aos detalhes, cedendo às compras de forma impulsiva. >
“A pressa é inimiga do planejamento. O ideal é fazer uma lista de todos os presenteados e fixar um valor do quanto se pode gastar. Dessa forma, não há perigo de exceder o valor com a compra de outros presentes que não estavam previstos”, adverte Vignoli.>
Motivos Os retardatários, aponta o levantamento, representam 8% dos consumidores que têm a intenção de presentear alguém neste fim de ano. O percentual é bem próximo do observado no Natal do ano passado, de 9%.>
“Hoje eu vim destinada a outras coisas e, ainda nesta semana, com o crédito do marido, irei comprar umas coisinhas. Umas lembrancinhas, na verdade, nada que ultrapasse R$ 30”, avisou a dona de casa. >
Do total de pessoas que deixaram para comprar presentes faltando pouco para a festividade, 55% estão contando com as promoções-relâmpago. Já 54% querem fazer diferente: em vez de agradar o próximo, a ideia será se autopresentear. Outros 22% farão como a doméstica Sandra Santos, 49, que espera o 13° cair na conta. >
Enquanto isso, ela resolveu adiantar os presentes, para ela mesma. “Coisas para minha casa, cortina, lençol, fronha, toalha...”, cita. Antes de sair de casa, a dona de casa se programou, saiu na intenção de gastar no máximo R$300, dividido em três vezes - para não pesar muito no bolso.>
Entre os que deixaram para a última hora, 14% alegaram falta de organização e outros 5% culparam a preguiça. Também há aqueles que deixarão as compras para o início de 2019, preferindo aproveitar as liquidações.>
Movimentação Em dezembro, o movimento no comércio de rua de Salvador quase dobra. De acordo com dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), o fluxo de pessoas por dia sobe de 600 mil para 1 milhão na Avenida Sete e áreas próximas, como Avenida Joana Angélica e Rua Carlos Gomes. A marca ultrapassa a quantidade de habitantes de Feira de Santana (609.913) e Vitória da Conquista (338.885) juntos. É como se, a cada dia, a população inteira dessas duas cidades caminhasse na região. Essa conta só se repete em outra época do ano: o mês de junho, quando ocorrem as festas de São João.>
A presidente do Movimento de Donas de Casa e Consumidores da Bahia, Selma Magnavita, afirma que é preciso estar atento para evitar roubos e furtos durante as compras de fim de ano. “É muito comum a pessoa esquecer dos seus objetos, como celular e carteira, enquanto faz as escolhas nas lojas”, alerta. Selma recomenda que todos os itens fiquem guardados na bolsa, que deve estar sempre em mãos.>
Tanto movimento também anima o comércio, e o setor espera vender 5% a mais neste final de ano em relação ao mesmo período do ano passado.“Os shoppings estão bem frequentados e a nossa percepção é de aumento de 5%”, disse o superintendente da CDL, Sílvio Correia.A expectativa é que este final de semana seja o melhor de compras da época: “Existe uma crescente a partir do dia 10 de dezembro até o final do ano. Esta semana é uma das semanas mais fortes e o final de semana é o melhor”.>
Em nível nacional, os indicadores financeiros nesta época do ano acabam apontando para uma retomada do comércio, mesmo que ainda a passos de tartaruga. O incremento na economia nacional deve ser mais de R$ 3,66 bilhões no varejo - o que pode provocar um aumento de 3,5% no volume de vendas em comparação ao ano anterior, segundo a Boa Vista. >
Mas, mesmo com os indicadores positivos, pelo menos para o empresário Roberto Nedder, que tem uma loja de moda jeans na Avenida Sete, as vendas este ano devem ser menores em comparação ao ano passado - em 15%. Ele atribui a baixa ao grande número de desempregados.“Como você vai consumir sem empregos? Ainda temos que concorrer de forma desleal com o comércio informal”, reclama. Em contrapartida, o CEO da Contabilivre e consultor financeiro Mauro Fontes destacam que os números positivos são um alento depois de um ano difícil para o mercado nacional: “Mas é preciso que o empresário compreenda que esta é uma fase para investir e ganhar dinheiro”.>
O especialista explica, ainda, que é fundamental que o varejista faça um planejamento prévio: “O empresário precisa pensar ‘fora da caixa’ e ir além de simplesmente vender. Também é de suma importância que o comerciante esteja atento full time às finanças, fazendo o planejamento estratégico e levando tudo para a ponta do lápis. Só assim será possível compreender e gerenciar as contas da forma adequada”.>
Policiamento Por conta da movimentação de final do ano, a Polícia Militar reforçou o policiamento no entorno dos centros comerciais, nos principais pontos de movimento de pessoas no final de ano e próximo aos bancos. “Fazemos uma previsão de intensificação do policiamento a pé no entorno das agências cinco dias antes e depois dos pagamentos”, disse a capitã Eva Cachoeira, porta-voz da Polícia Militar, sobre o pagamento do 13º salário.“Já reforçamos o policiamento na aglomeração de pessoas, de duplas a pé, Bases Móveis na Piedade, Barroquinha, Castro Alves, Rua Chile, viaturas quadro rodas na Praça da Sé e duas rodas, policiamento 24 horas”, completou a capitã.A PM ampliou as blitze. “Serão três ou quatro vezes ao dia. Para isso, policiais estão sendo pagos em serviço de hora extra para reforçar o policiamento que é feito diariamente”, explicou.>
Veja dicas do educador financeiro Edísio Freire para não extrapolar nas compras:1 - Planeje Saber os seus limites e objetivos é essencial na hora de ir às compras.>
2 - Priorize as dívidas Está com um dinheirinho sobrando? Está pensando em “torrar” todo o seu 13º? A dica do economista é priorizar a quitação ou amortização das dívidas, para pagar menos juros. A dica é pagar a dívida para começar a reconstruir o seu planejamento financeiro. “Mesmo que você fique sem dinheiro no momento, é melhor do que pagar muitos juros”, disse Edísio Freire.>
3 - Escolha as prioridades Escolher as prioridades é saber, dentro da possibilidade de gastos, quais devem vir primeiro ou ser deixado para depois.>
4 - Pesquise Para não acabar sendo enganado com as falsas promoções, é bom pesquisar e acompanhar o preço dos serviços antes. Assim, você saberá se a promoção é realmente boa.>
5 - Reserve parte do dinheiro Pensar no futuro deve ser uma das variáveis ao pensar em gastos de final de ano. A dica serve para todo o ano, mas em época de 13º, é preciso estar atento para onde o dinheiro está indo. >
6 - Defina parte do orçamento para supérfluos Aproveite: se não estiver com dívidas excessivas, defina uma parte do seu orçamento - o indicado é 10% - para comprar o que você quiser. >
7 - Lembre das despesas de início de ano Quando as festas acabarem, vem por aí o IPVA, o IPTU, os materiais escolares, entre outros. Inclua no seu planejamento a quitação dessas dívidas e, caso precise, poupe.>
8 - Se puder esperar com as compras, espere As lojas costumam fazer promoções em janeiro, que é um dos piores meses para o comércio. Caso você esteja pensando em comprar um bem não tão urgente assim, deixe para o próximo mês, quando as promoções vierem.>
9 - Não gasta mais do que pode Gaste, mas com limites. Ter real noção do seu orçamento e despesa é a saída para não acabar no vermelho logo no início do ano.>
10 - Guarde o 13º Guarde o máximo que puder do 13º. A parcela poderá te ajudar futuramente em outros planos e compras.>
*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier>