Nego Comunista pega Barão da Coxa Branca no melhor jogo do mundo

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  • Paulo Leandro

Publicado em 22 de setembro de 2021 às 05:17

- Atualizado há um ano

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Recebe Salvador hoje a visita do Coritiba, adversário do Vitória, no principal confronto desta noite, considerando todas as competições do mundo, uma vez ser o Decano o favorito deste parcial colunista.

Jogaaaaço, esgoelariam os homeros do fútil-bol arcaico, afinal, defrontam-se dois times eternos, o rubro-negro, deus-pai do desporto; e o Barão da Coxa Branca, “ryco e phyno” líder da Supersérie, portador de uma estrela de campeão brasileiro.

Os reaças de carteirinha denunciam o perfil de um Vitória comunista, capaz de distribuir suas riquezas em 20 dos 24 jogos, entre um e três pontos de cortesia, camaradagem disposta a dar alegrias ao outro, empatia à plena carga por um mundo melhor.

Encara o adversário não como inimigo, mas um irmão, este Leão influenciado por proposta de uma sociedade sem campeões nem lanternas, na qual os empates seriam resultados moralmente corretos, tudo igual, como tem sido a caridosa rotina.

O Nego enfrenta o contexto de mais uma via-crucis em “campeonato de descenso”, pois acesso deixou de ser objetivo, contentando-se o Vitória a salvar-se do muro de execução, faltando duas ou três rodadas para o juízo final.

Revelam os torcedores o erro de quem desacredita na humanidade, pois quanto mais escassas as chances, maior é o amor ao pavilhão içado por Manoel Barradas, na terceira fundação do clube, ao inaugurar seu mando de campo em 1986.

Cada um dos vitórias espalhados por cinco continentes forma um só corpo imaginário, uma comunidade de valores e princípios, agarrando-se ao primeiro cipó para tentar sair da zona movediça do assustador rebaixamento.

São torcedores sortudos por não precisarem expor-se aos mais horrendos sacrifícios, pois a memória já tem funcionado bem sem sofrimento físico, embora não possam evitar a perturbação na alma devido à luta sazonal para tirar a corda do pescoço a cada temporada.

O castigo da estável e incômoda condição produz suplício simbólico, tomando a angústia, na dimensão psicológica, o lugar de leis penais, do apedrejamento, da tortura, da castração, do empalamento, da mutilação, ou esquartejamento por cavalos, entre outras técnicas.

Mereceriam talvez submeter-se a tais formas de pedagogia punitiva os supostos culpados por conduzirem o Leão ao pé do Santa Cruz de Recife, pagando as penas os fãs da cobra coral, de volta à Série D, gerando possível consciência de culpa nos gestores do fragoroso declínio.

Fiquem felizes estes líderes às avessas por não poderem seus credores, os torcedores, infringirem humilhações, por ser ilegal no Brasil, por ora, cortar fatias da carne e lapidar os corpos de cartolas devedores, à proporção dos seus tamanhos, além da indômita arrogância.

Tal cenário teria desenho de Auto de Fé, no qual os apenados prestariam contas ao Senhor Javé por contratações em valores vultosos, pagos a jogadores de bola de gude, tomando-se como retrospecto os cinco últimos anos, de Piñeda para cá, quanta mobilização de recursos!

Andariam de mãos dadas a culpa e o sofrimento, cuja expressão bem acabada seria esta imposição de flagelos, para jamais repetir-se a melancolia assimilada pela torcida, ouvidos no gongo, à espera de soar o sinal sonoro do salto de emergência sobre a fogueira da Série C.

Paulo Carneiro é jornalista e professor doutor de Cultura e Sociedade.