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Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2020 às 14:30
- Atualizado há um ano
Não sei se vocês conhecem o mito de Procusto, conhecido como “o subjugador”. Pois bem... ele era um ferreiro trapaceiro que convidava viajantes a passarem a noite na sua casa. Fazia o convite com cordialidade e alegria, acolhia com comida, vinho e um teto para a noite fria. Na hora de dormir, oferecia uma cama de ferro. Se o convidado fosse menor que a cama, o esticava; se fosse maior, cortava suas extremidades para que a pessoa coubesse naquele lugar.
Esse mito é muito associado à intolerância, pois Procusto era o senhor da verdade absoluta. Apesar da sua cordialidade, atraía as vítimas para a morte. Esta semana, assisti a um filme brasileiro chamado A Vida Invisível e me lembrei de Procusto, pois o enredo retrata o quanto as pessoas podem abandonar seus sonhos e a si mesmas para agradarem parceiros. Abdicar de algum ou vários aspectos de si mesmo não é raro na relação com namorados, cônjuges, pais, familiares, amigos e pessoas com algum tipo de liderança, ou seja, com quem se tem intimidade, dependência ou sujeição.
Costuma ser doloroso reconhecer um pouco ou muito de Procusto naqueles que tanto amamos e nos amam, embora algumas pessoas tenham maior facilidade de perceber isso nos outros. E nós? Será que reconhecemos o Procusto que pode habitar em nós mesmos? Também podemos nos forçar a cabermos nas camas alheias ou nas que entendemos como nossas e não o são.
Pode ocorrer, ainda, de pressionarmos outras pessoas a caberem nas nossas camas, pois são muitas as expectativas em relação àqueles com quem nos relacionamos. É importante refletirmos sobre a intolerância como um aspecto que pode fazer morada dentro de todos nós. Assumir uma postura de negar isso pode ser uma forma de defesa, pois a consciência de algumas características próprias pode vir acompanhada de dor.
No entanto, um passo importante para lidarmos com nossa possível intolerância é assumir que ela existe. A aceitação dos aspectos mais frágeis de nós mesmos com acolhimento (e não culpa!) pode auxiliar muito na construção de pontes de conexão e diálogo conosco e com as outras pessoas. Afinal de contas, "não podemos exigir que os outros sejam como queremos, pois nem nós somos" (Lao-Tsé).
Rosita Barral é psicóloga e professora da Ufba
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores