Nem tão exatas: interpretação de texto é importante para não errar na matemática

Questão com duas respostas chama a atenção para a necessidade de saber 'ler' os problemas de exatas

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 7 de agosto de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto de Marina Silva/CORREIO

Um problema de matemática com duas respostas, seria possível? Foi essa polêmica que tomou conta da internet quando a conta 8÷2(2+2) começou a circular pelas redes sociais. Aparentemente simples, o problema tem dois resultados possíveis (01 e 16) e chamou a atenção para a importância de uma ferramenta às vezes esquecida nas ciências exatas: a interpretação das questões. 

No caso da expressão matemática desafiadora o resultado duplo ocorre porque existem dois métodos pelos quais é possível resolver a questão. Quem usa o metódo PEMDAS - Parênteses, Expoentes, Multiplicação e Divisão (da esquerda para a direita), Adição e Subtração (da esquerda para a direita) - resolve primeiro a conta dentro dos parênteses e a multiplicação proveniente dele, chegando assim ao resultado 01. Quem usa o método BODMAS - Colchetes (brackets, em inglês), Ordem (expoentes), Divisão, Multiplicação, Adição, Subtração - resolve primeiro a divisão fora dos parênteses, obtendo o resultado 16. A diferença entre os métodos está apenas na ordem em que se resolve as operações de divisão e multiplicação e os dois resultados seriam válidos. 

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Ao CORREIO, o professor Marcio Luís Ferreira Nascimento explica que esse tipo de problema não é incomum. "Chamo a atenção de que problemas assim existem aos montes. Por exemplo, existe o problema do matemático, teólogo e monge italiano Guido Grandi (1671–1742), que perguntou em 1703 quanto vale a soma infinita 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ... Neste caso, também existem duas respostas (zero e um)", diz.

Para quem está encarando a preparação para enfrentar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), questões de ciências exatas que possuem duas respostas corretas podem representar uma preocupação. O professor de matemática e coordenador da área no Campus Villa, Alexandre Lima tranquiliza os estudantes. “Esse tipo de questão, de brincadeira, são como pegadinhas que a matemática coloca. Não tem a ver com ENEM, é muito mais no sentido da diversão, de buscar entender a matemática, mas não cairiam numa prova”, explica. 

Apesar desse tipo de pegadinha não aparecer nas provas de novembro, a ferramenta da interpretação será fundamental para quem quiser se dar bem no ENEM. “A interpretação ajuda todas as áreas, uma boa interpretação leva você a aprender os caminhos dos conteúdos de qualquer disciplina. O ENEM cobra aquilo que está no nosso cotidiano e por isso a interpretação é tão importante. A prova do ENEM é feita em cima de habilidades e algumas são interpretação pura, como saber ler um gráfico, por exemplo”, explica  Ademar Celedônio, Diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação.

Coordenadora do setor de matemática do Kumon, método de estudo que trabalha tanto com matemática como com português, Elza Yamamoto destaca a importância de saber interpretar. “Saber entender o que está escrito é realmente importante. Isso é meio caminho andado para a resolução de qualquer questão, não só para a matemática, mas para todas as disciplinas. Por isso é importante que os alunos desenvolvam também essa competência”, acredita ela.

Bons de números

Para o futuro engenheiro eletricista, o estudante João Pedro Caldas, 17, matemática nunca foi um problema. As notas do jovem na matéria giram em torno de 9 e ele diz ter nos números o seu assunto favorito. “Sempre gostei de matemática e sempre tive certa facilidade com a matéria. Acredito que essa facilidade vem de uma certa maneira lógica que eu tenho de raciocinar, que provavelmente desenvolvi pequeno”, explica. João Pedro é bom em matemática desde pequeno (Foto: Marina Silva/CORREIO) O jeito de pensar, segundo ele, também envolve a interpretação das questões.  “Interpretar é muito importante, analisar os problemas, para descobrir os melhores caminhos para resolvê-los”, opina. 

Outro que sempre teve facilidade em entender a forma de pensamento exigida pela matemática é o adolescente Caio Teraoka, 16. Dedicando duas horas de estudo por semana para a matemática o jovem tem algumas das maiores notas da sua sala quando o assunto são os números. “Normalmente quando o professor explica o assunto, rapidamente já entendo, além disso, os exercícios da matéria não se mostram tão complicados quando vou resolver”, diz ele. 

Colega de Caio, o estudante Enzo Galeffi, 17, sabe bem que a facilidade com a forma de raciocinar não é de todos. O jovem ajuda os colegas do Colégio Oficina como um dos monitores de matemática da escola. “A maior dificuldade que existe não é em fazer as contas em si, mas em saber organizar o que a questão aborda pra transformar em cálculo”, conta. 

A opinião do estudante é também dos professores. Alexandre Lima chama atenção para a importância de desenvolver esse raciocínio interpretativo também para questões de matemática.  “A grande dificuldade do aluno é justamente essa parte de interpretar o problema. Isso vem desde a formação inicial porque nossos alunos não são treinados para interpretar e resolver as situações problema, para transformar da linguagem corriqueira para a matemática”, pontua.  Caio dedica duas horas de estudos semanais para a matemática (Foto: Marina Silva/CORREIO) Para o professor, saber interpretar o que a questão pede é importante inclusive quando se trata dos números. “A interpretação de texto não é só ligado a língua portuguesa. Entender o raciocínio lógico matemático é o primeiro passo. É preciso ter uma organização e a sequência lógica para te ajudar a resolver os problemas. É seguir os passos de organização do pensamento, listar os dados, ver e rever as perguntas”, aconselha. 

Quem também já entendeu a importância de interpretar os problemas foi a estudante Giovana Dinkelmann, 15, que mesmo sem amar a matemática resolveu se dedicar a desenvolver o tal raciocínio lógico. “Eu não vejo mais matemática como uma matéria difícil, mas exige muito treino mesmo. Não tem a ver com talento, e sim com prática, porque todo mundo tem capacidade de raciocinar e se tornar bom em algo, por mais difícil que pareça ser”, acredita ela.  

Química e Física exigem interpretação

A questão da interpretação está presente não só na matemática, mas também em outras matérias que usam os números, como é o caso de quimica e fisica.  O professor de química  Alessandro Cerqueira, explica que existem aqueles assuntos em que uma interpretação cuidadosa é ainda mais importante. “Nas questões de química, que envolvem cálculo, principalmente, a interpretação é primordial. Se você não souber retirar os dados e interpretar de maneira correta, não adianta saber fórmulas. As vezes vem um dado que você não vai utilizar, dados numéricos que não são importantes”, explica. 

Entre os assuntos, o professor destaca cálculo estequiométrico, e soluções, e dá dicas para a hora de interpretar os enunciados. “Na hora da leitura, grife os dados numéricos, mas veja o que é pertinente à questão. É preciso ter atenção também com  unidades de medida, porque as vezes a questão necessita de conversões entre as unidades e o aluno esquece”, pontua Cerqueira. Enzo é monitor de matemática na escola (Foto: Marina Silva/CORREIO) “Na física também é preciso interpretar, e essa é uma dificuldade que todo mundo tem no início do contato com  a matéria. É um processo que vai desde as palavras utilizadas que são diferentes das palavras que o aluno usa na rua, no dia a dia”, explica Wladmir Fernandes, professor de física do PontoMed Pré Vestibular. 

O professor exemplifica, por exemplo, expressões que são comuns no cotidiano, mas que em uma questão de física trazem significados completamente diferentes. “Normalmente quando falamos do nosso peso falamos ‘meu peso é 80 kg’. Em física não estamos falando de peso, mas de massa. A mesma coisa com a altura do som, no cotidiano quando falamos em altura do som queremos saber se está forte ou fraco, mas na física a altura do som é medida em agudo ou grave”, detalha.

Para Wladmir, a melhor maneira de não cair em pegadinhas e errar questões por conta de falhas de interpretação é praticar.  “Treino da sala de aula, resolução de questões, e o confronto da linguagem do dia a dia com as linguagens da física é bastante importante. Assim como uma língua, você precisa conviver”, finaliza.

CORREIO traz fascículos para revisão

O CORREIO publica até o dia 30 de outubro 18 fascículos especiais do 13º projeto Revisão Enem 2019. Na semana passada, o tema das revisões foi Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias. Nesta semana, o conteúdo trará questões sobre o tema  Ciências Humanas e Suas Tecnologias.

Com simulados online, que são disponibilizados na página do Enem no site do jornal, os conteúdos contam com uma série de questões objetivas, realizadas pelo SAS Educação, para os estudantes testarem os seus conhecimentos nas disciplinas cobradas no Enem. 

Além disso, sempre às quartas-feiras, o site Correio24horas conta com videoaulas. Seis delas já estão no ar e podem ser acessadas na íntegra no canal www.correio24horas.com.br/revisao. Na versão impressa e no site, será possível acompanhar conteúdos focados em temas que auxiliam os alunos no processo de estudo, com artigos diversos, dicas de como estudar e macetes para fazer um bom exame. O projeto tem parceria com a FTC.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier