Neuroarquitetura ensina a usar o ambiente para influenciar reações no cérebro

Grupo em Salvador que ampliar as aplicações dessa ciência nos ambientes de trabalho e moradia

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Uma pesquisa inglesa da Human Spaces mostrou que a presença de elementos naturais, como plantas, no ambiente do trabalho aumenta em 15% a produtividade e a sensação de bem estar, ampliando a produtividade em 6% quando comparada com ambientes onde não há presença de natureza. A relação estabelecida entre a arquitetura e o design de interiores com o cérebro estão sendo estudadas de perto pela neuroarquitetura. Em Salvador, existe um grupo de profissionais que começou a se aprofundar na área, buscando tirar o máximo de proveito do impacto de aspectos como iluminação, cor, mobiliário e decoração no cérebro e, consequentemente, na qualidade de vida das pessoas.

O primeiro encontro ocorreu no final do ano passado, mas eles já se preparam para um novo encontro em meados de 2019.

O arquiteto baiano João Marschke é um desses entusiastas. Ele conheceu a neuroarquitetura enquanto pesquisava sobre arquitetura corporativa. “Entrei em contato com o grupo de Porto Alegre, liderado por Priscila Bencke, e comecei a incitá-los a trazer um curso para Salvador”, conta. Atualmente, a experiência e o conhecimento são usados em projetos de lojas e em interiores de residências. “Os feedbacks são muito positivos”, comemora.

 Assertividade

De acordo com a arquiteta especializada em neuroarquitetura Priscila Bencke, os Estados Unidos estão na liderança de pesquisas sobre essa relação e as pesquisas realizadas estão ajudando a construir projetos mais assertivos em residências e ambientes empresariais.“Antes, porém, de usar o conhecimento disponibilizado pela neuroarquitetura, é preciso conhecer as pessoas que usarão o ambiente e qual o propósito daquele espaço”, esclarece.Ela ressalta que enquanto nos Estados Unidos as pesquisas na área somam quase duas décadas, os estudos no Brasil são muito recentes e têm menos de cinco anos. No entanto, os resultados obtidos a nível internacional têm norteado os arquitetos locais, possibilitando encontrar soluções para os mais diversos ambientes.

Para exemplificar a explicação, Priscila cita um estudo que analisou, por meio de ressonância magnética, os cérebros de dois grupos de pessoas. O primeiro foi submetido a imagens com objetos retos e pontudos e ou outro apenas às formas arredondadas e orgânicas. O primeiro teve a amígdala cerebral ativada, dando a sensação de ansiedade e tensão. Já o segundo percebeu que as formas orgânicas os deixava mais relaxados. “Com isso, conseguimos pensar no mobiliário, por exemplo, de acordo com o ambiente que se deseja criar”, diz a especialista.  A arquiteta Priscila Bencker coordena um grupo de estudos no Brasil sobre a influência do ambiente no cérebro humano, buscando criar projetos mais assertivos (foto: Divulgação) Luz natural

Para a arquiteta, uma das questões mais importantes quando se pensa no bem estar do ambiente é a iluminação, que pode ser natural ou artificial.

“A presença de janelas amplas capazes de permitir a entrada da luz do sol é fundamental quando se precisa respeitar o relógio biológico”, explica, ressaltando que o organismo tende a respeitar o ritmo natural, logo, luzes brancas, que imitem a luz do sol, deixam o organismo de prontidão e disposto. Assim, esse tipo de luz é o ideal para quem deseja ter essa disposição, seja num escritório ou num home office.

Quando o desejo é trazer relaxamento, a indicação são as luzes mais amareladas, que reproduzem a luz do pôr do sol. “Quanto mais amarelada é a luz, mais favorece o relaxamento. Na verdade, essa condição reproduz no cérebro humano aquilo que ele encontraria na natureza”, diz a especialista.

As cores também são um estímulo importante para o cérebro e, segundo a especialista, mais que a resposta cerebral, as escolhas também podem remeter à experiências e analogias diversas, daí a necessidade de conhecer a história de quem vai habitar aquele ambiente.

De um modo em geral, as cores mais frias - com tons azulados ou esverdeados - estimulam o córtex pré frontal, favorecendo o foco, a clareza e a concentração. Já os tons mais quentes - como o vermelho, o laranja e o amarelo - estimulam a ação e a criatividade.

Se a proposta for criar um ambiente mais confortável, a sugestão de Priscila é apostar nos tons terrosos, que tornam os espaços mais acolhedores. “Mais uma vez essa escolha tem como base a identificação do cérebro humano com o que ele entende como quente, seguro e acolhedor”, ensina, ressaltando que os revestimentos que imitam a madeira conseguem atingir essa proposta, assim como fontes de água e ambientação com perfumes de lavanda contemplam a proposta do aconchego. “Hoje, passamos mais de 90 % do nosso tempo em espaços construídos pelo homem, logo, esses detalhes terminam por dar ao cérebro essa sensação de conforto”, finaliza.  Ambientes alaranjados estimulam a criatividade e podem seu usados em ambientes profissionais onde essa qualidade for exigida (foto: Divulgação) Dicas de neuroarquiteturaAmbientes de Trabalho Foco – Use tons frios, mais azulados que estimulam a concentração Austeridade – prefira móveis retos e busque linhas geométricas angulosas Criatividade – Para estimular a criatividade, busque os tons quentes alaranjados Conforto – Tons terrosos e detalhes em madeira dão conforto ao ambiente de trabalhoEm Casa Aconchego – Busque móveis arredondados, com formas mais orgânicas que dão ideia de aconchego Natureza – Trazer plantas para dentro de casa – sejam naturais ou não – impactam a visão e passam para o cérebro a sensação de bem estar Iluminação – Luzes amareladas são ideais para quartos porque ajudam a relaxar. Já as luzes brancas são melhores em locais onde a atenção deve estar presente como cozinha e escritórios Neutros – Fuja dos excessos, busque tons neutros