Neymar é novo Rei do Camarote

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Como se sabe, Neymar passou parte do Carnaval em Salvador. Como que tocado pelo milagre da recuperação dos ossos, deixou de lado as muletas e caiu na farra num camarote. Quebrou (mal) até o chão, tirou umas selfies na área VIP e por aí vai.

Em seguida, o atacante migrou para o Rio de Janeiro, onde também caiu na farra em um camarote desses cheio de famosos na Sapucaí. Ali, como assinalou o árbitro de vídeo, ainda deu uns beijinhos em Anitta.

O Carnaval foi embora e na Quarta-Feira de Cinzas Neymar já estava em outro camarote: o seu espaço particular no Parque dos Príncipes, estádio do PSG. Ali, acompanhou a partida que (muita gente achava) serviria apenas para carimbar a passagem do seu time à próxima fase da Champions League.

Acontece que no meio do caminho tinha o Manchester United - e mais uma vez o árbitro de vídeo. Pênalti no último minuto, PSG eliminado e Neymar - que pelo segundo ano consecutivo viu a queda de seu time de camarote - foi imediatamente chorar na rede social, o que é mais ou menos a representação 3.0 de chorar ao pé do caboclo.

Não estou no time dos que acham que as contusões de Neymar são todas baratinosas, minuciosamente programadas pra tirar o corpo em momentos decisivos. Acho até que há sempre um grau elevado de teatralidade, entretanto quero crer que ele aumenta, mas não inventa.

Por outro lado, jogo no time dos que acreditam em energia. Por este ponto de vista, não há dúvida: Neymar anda bem carregado. Quartas de final de Copa do Mundo, pancada nas costas. Mata-mata da Champions em 2018, osso do pé quebrado. Outro mata-mata da Champions, pé bichado mais uma vez (mas deu para dançar, registre-se).

Talvez esta inchaca seja fruto de uma gestão de carreira cheia de solavancos, resultando num craque multimilionário que, de futuro melhor do mundo no passado, virou apenas o rei do camarote no presente.

Com a precoce eliminação do PSG esta semana, fica fácil antecipar que, por mais uma temporada, Neymar vai passar longe da sua meta de ser o melhor do mundo (foi ele quem estabeleceu), ambição que o levou a deixar o Barcelona e apostar num projeto de muita grana e pouca competitividade.

Provavelmente não estava nos planos do brasileiro que Messi e Cristiano Ronaldo mantivessem o altíssimo rendimento por tanto tempo, mas foi isso que aconteceu. Agora que a carreira de ambos vai naturalmente desacelerar, parece que outros nomes estão mais afiados para ocupar o reinado da bola.

Certamente Neymar ainda vai seguir jogando, ganhando tubos com publicidade e tendo até a festa de aniversário bancada por patrocinadores. Mas, pelo visto, a soberania na bola está cada vez mais distante. Nada, nada tem algo que deve deixá-lo feliz: assiste a tudo isso na área VIP.

Várzea Há quase um ano anotei aqui que o Vitória era um clube acéfalo. O pessoal lá dentro deu chilique. Pois agora o Vitória, além de não ter cabeça, não tem braços, pernas, nada. E até a hora em que escrevo este texto, Ricardo David não teve sequer a dignidade de dar a cara. Já o vice, Chico Salles, faz chantagem com a eleição geral. Juntos, eles não servem nem pra passar vergonha.

*Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados