No dia de São Cosme e Damião, caruru dos baianos teve delivery e drive-thru 

Domingo foi de tradição e respeito aos protocolos sanitários para combater o coronavírus

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  • Marcela Vilar

Publicado em 27 de setembro de 2020 às 16:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO
Graça Azevedo almoçava caruru completo no restaurante Dona Mariquita com o marido por Tiago Caldas/CORREIO

É a primeira vez que os baianos têm de lidar com a celebração do tradicional caruru em meio a um rígido protocolo sanitário. Afinal, são tempos de pandemia e o novo coronavírus continua a contaminar a população. E para manter a tradição de forma segura, é preciso de reinventar: teve caruru por drive-thru, entrega em casa, retirada em restaurantes e quem foi de casa almoçar fora - de máscara e álcool.

Na Paróquia Nossa Senhora da Vitória, voluntários entregavam quentinhas para os que compraram com antecedência. A concorrência foi tão alta que as organizadoras só permitiram 160 marmitas.

“A gente limitou em 160, porque se não teria mais. Todo domingo tem um almoço diferente e as pessoas chegam de carro. Os paroquianos, que têm intimidade, vêm até aqui buscar”, explicou a organizadora Ianê Távora. Todos os anos, a Igreja promove a Feira da Fraternidade. Como esse ano os eventos estão limitados e aglomerações proibidas, a solução foi o drive-thru. Desde maio, cada barraca que faz parte da Feira promove uma refeição diferente aos finais de semana e no dia de São Cosme e Damião foi a vez da Barraca Baiana. 

Para comprar os ingredientes e embalagens do caruru deste domingo, os organizadores juntaram R$3,5 mil em doações. As marmitas individuais - caruru, vatapá, xinxin de galinha, feijão fradinho, arroz e azeite de dendê - foram vendidas a R$ 40,00 e para duas pessoas o valor foi de R$ 70,00. Até cocada de brinde e fita abençoada pelo Senhor do Bonfim os clientes tiveram direito. O lucro será revertido em ações sociais da paróquia. 

“Essa renda é para a paróquia, que mantém a creche, o centro de saúde e as despesas. É uma forma de substituir a feira e todo domingo tem um almoço. Não podíamos deixar de ter um evento, por isso começamos a vender comidas prontas lá na Igreja”, explicou o padre Luis Simões, pároco da Igreja Nossa Senhora da Vitória. O próximo final de semana será a vez da Barraca Gaúcha. 

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No bairro do Rio Vermelho, no restaurante de Dona Mariquita, um dos mais tradicionais em comida da Bahia, tinham três opções para não perder o caruru de São Cosme e Damião. Seja por retirada, entrega ou sentando na mesa, os soteropolitanos não deixaram de garantir o seu. “Eu tinha que comer caruru hoje e o vatapá que daqui não tem nenhum igual no mundo. Trago todo mundo que vem de fora para experimentar uma boa comida baiana”, confessou a socióloga Graça Azevedo, que almoçava com o marido. Ela é cliente fiel do restaurante desde que foi aberto.  

Já a pedagoga Denise Dias estava a primeira vez por ali, por indicação das amigas. “Eu estava morrendo de vontade de comer um caruru completo desde o início de setembro. Nesa época baiano fica logo querendo ser convidado para um caruru, mas esse ano não seria possível com a pandemia”, disse a pedagoga, que encomendou marmita para comer com o marido e o filho. 

Até às 13h, dona Mariquita já tinha feita 50 entregas pelo ifood. A refeição individual custava R$55,00 com tudo que tinha direito: vatapá, caruru, arroz, feijão preto e fradinho, farofa, banana, acarajé, abará, rapadura e até pipoca. Com a embalagem, o valor fica em R$ 58,00. “A gente vende o caruru de Cosme e Damião setembro inteiro por 10 anos. A gente trabalha com cozinha patrimonial, que resgata a tradição para não deixar morrer”, explicou Mariquita. Para driblar o preço alto dos alimentos, ela compra tudo da Feira de São Joaquim.

*Sob orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier