No topo de uma ladeira chamada fruta da paixão

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2019 às 09:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Refugio-me no alto de uma das colinas que cravejam a área urbana e as cercanias da  Macondo que me coube ocupar neste ‘mundifúndio’ literário. Para chegar até ao prédio onde eu habito, vindo da área onde se concentra o comércio, tenho quatro opções de ladeiras para subir. [Não me queixo. Gosto de subir ladeiras; de descê-las, não]. São as seguintes as escolhas que posso fazer: 1. A ladeira 15 de novembro, outrora rua das Pedrinhas, ainda sem asfalto, o chão era coberto por pedregulhos escorregadios. 2. A Frederico Costa. 3. A Apolinário Peleteiro. 4. A Do-Maracujá – com quase 50 graus de inclinaçã ;o, marcou época na boemia orgíaca desta urbe – e, por causa desse passado dionisíaco, é sempre este o meu caminho de casa preferido.

A Ladeira do Maracujá foi, durante décadas, o antro das prostitutas, ou ‘raparigas’. Moravam em via estratégica, que dá na antiga Praça da Feira (na boca do povo), ou Praça da Bandeira (nome oficial), que regurgitava ao redor do Mercado Municipal. O movimento maior era a partir de quinta-feira – os agricultores e pecuaristas da região vinham vender mercadorias e – a carne era (e é) fraca – aproveitavam para ‘molhar o biscoito’ – e as dezenas de ‘casas de tolerância’ (como se designavam os puteiros) fervilhavam. [Hoje, quando todas as putas que ali prevaricavam viraram pó, é lugar sem charme algum, ocupado po r pequeno comércio: salão de beleza, pet shop, ótica, restaurante popular, bodega de verduras, loja que vende trajes militares e igreja batista].

Cada vez que subo ou desço essa ladeira, tento vislumbrar as histórias que devem ter ocorrido nessa via – e me vem à mente as poucas vezes que me atrevi a passar por esse lugar na época de garoto – e fiz isso duas ou três vezes. Na derradeira travessia – nunca mais voltei lá quando criança – durante o dia, à noite jamais –, mulher de compleição física felliniana, seios opulentos derramados na janela, percebeu a minha passagem e, na sequência, o meu medo e o meu desconforto, e disparou: - Vem cá, menino donzelo, vem mamar nas tetas de mainha! [Quase desmaiei de susto – mas corri antes de desmaiar].< /span>

Também me despertava curiosidade a toponímia do lugar. Por que esse nome mezzo poético de Ladeira do Maracujá? Já adolescente, aprendi: maracacujá em francês era – e é – designado pela expressão ‘fruit de la passion’. [O maracujá, fruta nativa, já era consumida pelos índios que habitavam este país com o nome de ‘mara kuia’, na língua tupi. 

[Donde desfiei, e ora conto, a seguinte história – e quem quiser que conte outra: a Ladeira do Maracujá tinha – e tem – esse nome por conta de francês muito rico que passou por essas bandas, se apaixonou por puta amadiana-almodovariana citadina, e batizou o lugar com o nome como se conhecia a ‘fruit de la passion’ por essas plagas sertanejanas. Na sequência, o francês e a ‘rapariga’ foram morar em Paris, no distrito de Marais, e foram felizes para sempre. Nem a morte os separou: morreram afogados no rio Sena, e seus corpos foram encontrados atados por apaixonado abraço].