No último semestre, estudantes de Medicina protestam contra falta de estágio

Alunos podem não se formar caso não passem pelo período de internato

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 19:36

- Atualizado há um ano

Alunos do curso de Medicina da União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime), em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, protestaram nesta quinta-feira (6) contra a falta de estágio para que possam iniciar o período de internato, essencial para a formação.

Os estudantes, que estão no 10º semestre - o último do curso - foram à sede do Ministério Público da Bahia (MP-BA) para pedir ajuda. Nesta sexta (7), eles retornarão ao local para protocolar um documento com o relato dos problemas que estão enfrentando.

Em um comunicado conjunto, os futuros médicos disseram que têm buscado ajuda judicial para garantir que vão se formar no tempo correto. "Cada um de nós tem buscado aval judicial a fim de garantir a nossa formação com o mínimo de dignidade e ordem. Porém, mesmo diante de várias decisões judiciais ao nosso favor, esta dita universidade permanece negando os nossos direitos básicos e negligenciando a nossa formação, inclusive ignorando as ordens judiciais”, diz o documento.

Os alunos reclamam ainda que pagam valores altos de mensalidade, que hoje custa em torno de R$ 15 mil, e não veem retorno da instituição em investimentos para eles, tanto com relação aos professores, quanto de estrutura do curso.

“Não temos campos de estágios para realizar o internato, pois a instituição se nega a pagar pelas vagas dos seus alunos nos hospitais. Não conseguiram vagas suficientes para realizar o internato em Ginecologia e Obstetrícia na Região Metropolitana, obrigando indiretamente que diversos alunos se dirijam para Feira de Santana para realizar essa matéria”, afirma o comunicado enviado ao CORREIO.

Uma aluna de 25 anos, que preferiu não expor o nome, disse que “a universidade não aceita pagar uma quantia para ter o campo de estágio para os alunos, como fazem outras instituições”. Ela reclamou ainda que, mesmo sendo bolsista pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), recebe semestralmente a cobrança integral da bolsa.“O Fies paga todo semestre 70% da bolsa e eu entro com o restante. Então, a minha dívida por semestre é de pouco mais de R$ 12 mil. Só que, nesse momento, estou devendo R$ 53 mil por causa do erro deles. E quando buscamos resolver o problema junto à instituição, os funcionários ainda ficam fazendo chacota de nós”, desabafa.Outra reclamação dos estudantes é que, segundo eles, a Unime “não divulga a programação e o cronograma do semestre, remarcando muitas vezes o início das aulas, fazendo alunos se deslocarem em vão", o que faz com que os próprios estudantes sejam forçados a montar seus cronogramas, "pois as pessoas que têm essa função não o fazem”.

“Apesar de todos esses problemas internos, a Unime continua divulgando em suas propagandas que possui clínica escola de Medicina, dentre outras ferramentas e estruturas que não funcionam e nos são prometidas desde o ingresso da primeira turma”, afirmam os alunos.

O estudante Rodrigo Andrade, 25, é de Teresina (PI), e está há três semanas sem aulas por conta da falta de local para estagiar. “Meu problema é de ordem pedagógica, é um pedido de socorro, não tem campo de estágio, nem data do internato. Vivemos um descaso, preciso fazer estágio de clínica médica, mas não temos um ambiente para fazer isso nos moldes da diretriz curricular do Ministério da Educação”, afirmou.

O CORREIO procurou a Unime que, através de comunicado, informou que “possui parceria como os principais centros médicos, ambulatórios e hospitais públicos ou privados para oferta de estágio e internato na Região Metropolitana de Salvador”.

Acrescentou ainda que “todos os alunos com matrícula regular já iniciaram as atividades de internato, nos dias 4 e 6/02/2020, com aula de orientação sobre funcionamento do internato e suas respectivas regras”.

Segundo a instituição, “a atuação em hospitais e unidades de saúde iniciarão oficialmente em 10/02 e toda a documentação necessária já foi entregue aos campos e alunos na data de 06/02”.

Os alunos que não receberam tal documentação precisam primeiramente regularizar sua situação de matrícula junto ao Setor de Atendimento ao Aluno, que está à disposição desde novembro de 2019, segundo a instituição.“Cabe ressaltar que, neste período foram realizadas várias ações de estímulo à regularização de matrícula para todos os alunos do curso, tendo adesão parcial por parte destes”, completa o documento.Com relação ao cumprimento das liminares, a instituição diz que “segue rigorosamente toda e qualquer determinação judicial”, e que “todos os alunos que possuem demanda judicial desta natureza com a ordem de matrícula para o ano de 2020 estão rematriculados e com acesso a toda a documentação necessária”.