Noite dos sonhos: meninas carentes e em tratamento debutam em grande estilo

Empresários voluntários realizam festa de 15 anos pelo 8º ano consecutivo

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 21 de julho de 2019 às 21:49

- Atualizado há um ano

Do vestido ao buffet: 15 meninas de instituições tiveram festa dos sonhos na Pupileira (Foto: Arisson Marinho / CORREIO)  Anos atrás, a empresária cerimonialista Rita Torquato realizava uma das suas festas de debutantes quando uma menina de rua entrou no recinto. Seus olhos brilhavam! O encantamento da jovem, que trabalhava como flanelinha, mexeu com a empresária, conhecida por produzir alguns dos melhores bailes de 15 anos de Salvador.

Ali nasceu a ideia do Baile Sonho de Menina, que ontem foi realizado pelo 8º ano consecutivo no Cerimonial Rainha Leonor, na Pupileira. No total, 15 meninas que esse ano completam 15 anos foram selecionadas para ter uma festa de debutante dos sonhos. Todas fazem parte de instituições de caridade, hospitais filantrópicos ou abrigos.

Gente que jamais teria condições de ter uma festa de 15 anos, como Camila de Jesus Silva. Abandonada pela mãe na maternidade, ela viveu 12 anos no Lar Benedita e, nos últimos três anos, passou a ser cuidada pela Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão (ACOPAMEC).

Sem família sanguínea, ela tem um dos funcionários como pai e as “tias” da associação como mãe. Eles foram seus convidados da festa. “Toda menina quer uma festa dessa. Depois que ganhei esse baile, agora até acredito que um dia vou ter uma família de verdade. Tá tudo massa!”, disse Camila. 

Horas antes do horário marcado, elas já estavam em um luxuoso salão de beleza para se vestir, fazer o cabelo e a maquiagem. Depois, foi só entrar na limousine que as aguardava na rua.

Nessa hora, Maria Clara Buitrago, que faz tratamento no Núcleo da Criança com Paralisia Cerebral (Nac), teve de ser carregada da cadeira de rodas para o carrão. “Ela tá sonhando. Ainda não caiu na real. Apesar das limitações, ela adora festa, adora participar. Eu nunca teria condições de realizar um evento desse”, disse a mãe de Maria Clara, Mari Eliene Souza Correia, que teve de largar o emprego para cuidar da filha e recebe um benefício do governo.

Chegando na Pupileira, o salão estava impecavelmente decorado como se fosse uma festa qualquer. Do som à decoração, da luz aos garçons, do buffet aos fotógrafos, tudo como manda o cerimonial. Antes de começar o baile, aliás, todas passaram por uma sessão de fotos para o book. Cada detalhe do baile só foi possível graças a pessoas e empresas voluntárias.

Da limousine, emprestada por uma fábrica de limousines, ao motorista, que tirou o domingo só para levar as meninas ao evento. “É muito emocionante”, disse o motorista Humberto Silveira, 40 anos. A banda Marcato também se voluntariou a fazer a festa acontecer. “Para mim, como artista, estar nos palcos é sempre um grande prazer, mas não tem como negar que participar de um show como esse tem um gostinho diferente, especial”, disse a cantora, Bruna Caiala.

A idealizadora da festa prefere ser discreta e não fala com a imprensa. A amiga dela, a também empresária Michelly Cirqueira, fica à frente da organização. “Rita teve essa ideia há muitos anos, antes de se consolidar no mercado. Depois que se tornou uma cerimonialista de sucesso, me chamou para organizar junto com ela. É uma satisfação enorme!”, disse Michelly.

Graças a esses esforços, jovens em pleno tratamento de doenças graves puderam ter um momento de pura magia. Mirela Guimarães, selecionada no Hospital Santa Izabel, está em estágio final da luta contra um câncer no couro cabeludo. “Só emoção! Sempre sonhei com uma festa dessa, mas nunca imaginei que poderia realizar esse sonho”. 

Aí foi só curtir a noite e dançar a tradicional valsa com os “príncipes” André e Mauro, que fazem uma dupla sertaneja em Salvador.