Nota do Enem pode ser usada para estudar em universidade de Portugal

Em setembro, os primeiros brasileiros selecionados pelo Enem devem começar o ano letivo em Portugal

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  • Thais Borges

Publicado em 14 de agosto de 2014 às 08:48

- Atualizado há um ano

A distância entre Salvador e Portugal é de aproximadamente 7 mil quilômetros. Mas, a partir deste semestre, o território luso ficará mais perto de baianos e brasileiros que querem estudar em uma universidade portuguesa. E nem precisa gastar dinheiro para atravessar o Atlântico, a fim de fazer a prova: basta ter prestado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos anos de 2011, 2012 ou 2013. Já em setembro, os primeiros brasileiros selecionados pelo exame devem começar o ano letivo na Universidade de Coimbra (UC) e na Universidade da Beira Interior (UBI), em Corvilhã. Só na UBI, são esperados 50 brasileiros. Essa é a primeira vez, desde a criação do Enem, que instituições internacionais decidem usar a prova. A novidade veio depois que o governo português facilitou a entrada de estudantes estrangeiros - até o primeiro semestre deste ano, só era  possível fazer a graduação lá se a instituição tivesse um acordo com o governo. “O estatuto do estudante internacional só foi aprovado este ano, por isso, essa é a primeira vez (que usamos o Enem). A UBI aceita o Enem porque é um exame nacional, tal como o que temos em Portugal (Concurso Nacional de Acesso)”, diz o vice-reitor para Ensino e Internacionalização da UBI, João Canavilhas. Sem Sisu Porém, enquanto as principais universidades brasileiras utilizam as notas do Enem com o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), quem quiser se inscrever numa instituição portuguesa deve tentar diretamente por lá. Para facilitar a inscrição, as duas universidades criaram sites para os estudantes brasileiros: http://www.uc.pt/brasil, de Coimbra, e http://brasil.ubi.pt, para a UBI. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo Enem, as instituições portuguesas têm liberdade para usar as notas do Enem da forma como quiserem. Segundo a assessoria do Inep, são as universidades que têm procurado o MEC para usar o Enem - e não há previsão de alteração nos conteúdos do exame para torná-lo mais global. InscriçõesNão dá mais para concorrer a uma vaga no semestre que começa em setembro. No entanto, a nova fase de inscrições não está longe. A partir de novembro, as universidades já aceitam novos candidatos para o semestre que começa em 2015. Além de apresentar a documentação (passaporte ou o documento de identidade; certificado de conclusão do ensino médio e a nota do Enem), é preciso ter uma nota mínima de 120, de 200 possíveis. Diferentemente do Enem, que tem notas de 0 a 1.000, o sistema de pontuação português vai de 0 a 200. Daí, para saber se você tem uma nota suficiente, será preciso recalcular os pontos, até porque os cursos nem usam todas as notas de forma direta. Para um estudante que está tentando uma vaga para Direito em Coimbra, por exemplo, só serão contadas as notas de Redação (45%), Ciências Humanas (45%). Os outros 10% vêm da nota global. Com o resultado, é preciso fazer uma regra de três simples: ou seja, multiplicar essa nota final por 200 e dividir por 1.000. CustosMas, atenção: apesar de serem públicas, tanto a UC quanto a UBI cobram uma mensalidade. “Por uma mudança este ano, pelas dificuldades financeiras de Portugal, estudantes que vêm de fora da União Europeia precisam pagar”, explica o reitor da UC, João Gabriel Pinto. Nas duas instituições, o valor é fixo para todos os cursos. Em Coimbra, os estudantes pagam, por ano, 7 mil euros - algo em torno de R$ 21,3 mil reais. Já na UBI é um pouco mais barato: cerca de R$ 15 mil (5 mil euros) por ano.Para comparar, a mensalidade do curso de Direito na Unifacs, por exemplo é de aproximadamente R$ 1,2 mil. Ao longo de cinco anos, o estudante precisa desembolsar R$ 72 mil. Em Portugal, onde o curso dura quatro anos, custaria R$ 85 mil, em Coimbra, e R$ 60 mil, na UBI, sem o pacote de alojamento. Além disso, em Portugal, se o aluno quiser contratar um pacote de acomodação e alimentação, sai por cerca de  R$ 23 mil por ano (7,5 mil euros). Se isso pode afastar os brasileiros ou não, ainda é cedo para dizer, para o vice-reitor da UBI, João Canavilhas. “Como é o primeiro ano, não temos comparação”, afirma, referindo-se aos 200 candidatos inscritos. A Universidade de Coimbra não informou quantos brasileiros se candidataram para as quase 400 vagas ofertadas. A instituição já recebe 2 mil brasileiros por ano. Colaborou Mariana Rios.Universidade de Coimbra é uma das que mais recebem alunos brasileiros em Portugal, mesmo antes do Enem (Leandro Neumann Ciuffo/Wikimedia Commons)Medicina não é oferecida; Direito é a mais procuradaApesar do interesse nos brasileiros, nem todos os cursos das universidades lusitanas estão disponíveis para os estudantes internacionais. Por determinação do governo português, o curso de Medicina - o mais concorrido no Brasil - não oferta vagas para estrangeiros. “Como há muitos candidatos e poucas vagas no país, o governo tem restrições”, explicou, ao CORREIO, o reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, durante o III Encontro Internacional de Reitores Universia, no Rio de Janeiro. Já outro dos cursos mais procurados por aqui também continua sendo o preferido por lá, segundo o reitor. “Direito é a área que atrai mais estudantes, claramente. Mas nós temos brasileiros em todos os cursos. Costumamos dizer que somos a maior universidade brasileira fora do Brasil”. Entre estudantes de graduação, mestrado e doutorado, a Universidade de Coimbra tem quase 23 mil alunos. Fundada em 1290, aparece em 358º lugar no ranking QS World University. A Universidade de São Paulo (USP) ocupa a 127ª colocação.

Demanda por vagas ainda é baixa; especialista alerta sobre adaptaçãoEntre alunos de colégios e cursinhos pré-vestibulares de Salvador, não há muitos estudantes interessados em se candidatar a uma vaga em Portugal pelo Enem. “Talvez seja porque a prova é a mesma que será prestada para as universidades daqui, mas não temos uma demanda muito grande de estudantes pedindo orientação para ir para lá. Até porque as universidades brasileiras já dão oportunidade de o aluno fazer um bom intercâmbio”, diz a professora Paula Barbosa, coordenadora do Departamento de Língua Portuguesa do Colégio Sartre COC.Para a diretora do colégio Oficina, Márcia Khálid, a demanda pelas instituições portuguesas ainda é pequena por aqui porque os alunos ainda esperam saber a opinião de quem  se aventurar primeiro. “Por enquanto, só ficam na especulação. Eles estão na expectativa, porque é um investimento muito grande e a vida na Europa não é fácil. Por outro lado, embora Portugal não seja um dos países mais bem desenvolvidos, uma universidade europeia é uma universidade europeia”. A presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos na Bahia, Ana Cláudia Athayde, acredita que, a depender do curso, pode não ser uma vantagem ingressar numa graduação no exterior. “Às vezes, a pessoa volta e está tão distanciada da realidade brasileira que acaba tendo alguma dificuldade para se adaptar”, alerta.